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Brigadista que se perdeu na Floresta de Carajás conta detalhes de como conseguiu sobreviver

Curtir a família e descansar. Isso é tudo o que quer agora o brigadista Wilson José Ferreira do Nascimento Filho, depois dos momentos difíceis que passou perdido por quase 72 horas na Floresta Nacional de Carajás. Ele foi resgatado na manhã de quinta-feira (1º) em uma operação que contou com a participação de homens do 52º Batalhão de Infantaria de Selva (52º BIS) da 23ª Brigada de Infantaria de Selva do Exército Brasileiro (23ª Brigada), Corpo de Bombeiros e Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICBio).

Desaparecido deste final da manhã de segunda-feira (28), quando participava da operação de combate a incêndio ao sul da Floresta Nacional de Carajás, a 60 KM da cidade de Canaã dos Carajás, Wilson, que é chefe da equipe de brigadista da empresa Kaizen, contratada pela mineradora Vale para o monitoramento e o combate a incêndios e emergências na região, foi encontrado por homens do Exército. Ele estava bem, apesar das horas sem se alimentar, estando apenas levemente desidratado e com a pele irritada pelas inúmeras picadas de mosquito.

Em entrevista exclusiva ao Jornal CORREIO e TV Correio, parceiros do Portal Pebinha de Açúcar, poucas horas depois de ter sido resgatado, ele agradeceu a Deus por nada mais grave ter acontecido com ele e diz que, apesar do susto, não pretende abandonar a profissão, que exerce há quase 9 anos. Ainda emocionado, detalhou os momentos de angústia que passou na mata, mas ressaltando que seu treinamento o ajudou muito a manter a calma e procurar encontrar o caminho de volta, apesar da área ser de difícil acesso.

“Eu tinha certeza que ia sair dessa e pensava sempre na minha filha. Isso me dava forças para seguir buscando encontrar o caminho até onde meus companheiros estavam realizando a ação de combate ao incêndio e, consequentemente, voltar para casa”, ressalta o brigadistas, que tem uma filha, Valentina, de oito meses.

O episódio dramático, que daria um bom roteiro de filme, começou por volta de 11 horas de segunda-feira. Wilson conta que ele e os colegas estavam fazendo um assero para tentar evitar a propagação do incêndio para outras áreas da floresta. Como estavam sem motosserra, que estava sendo usada em outra atividade, e precisavam de um instrumento com melhor precisão de corte, decidiu voltar até o acampamento deles, que ficava cerca de 400 metros de distância, para pegar um machado.

Disse que ele mesmo decidiu ir, justamente por ter mais experiência e conhecimento de floresta. No entanto, quando retornava, em dado momento, não encontrou mais a picada que os guiava do acampamento ao ponto onde combatiam as chamas. “Parece que a floresta se fechou e não encontrei mais a direção”, relata, dizendo que tentou voltar, mas a sensação que teve foi mesma, de que estava sem direção.

Wilson José revela que, apesar do susto, não pretende abandonar a profissão que exerce há anos
Wilson José revela que, apesar do susto, não pretende abandonar a profissão que exerce há anos

Wilson diz que parou e lembrou que quando eles fizeram o sobrevoo de helicóptero sobre a área, antes de pousar, observou que havia um córrego no pé da montanha. Ele então deduziu mais ou menos em qual direção ficava e seguiu. “Graças a Deus encontrei a ponta da serra, desci e localizei o córrego, onde passei a pegar água para beber e tomar banho”, relata.

Ele conta que todo dia, enchia os cantis de água e subia uma serra, fazendo um traçado em forma de “N”, para tentar encontra vestígio de fumaça ou algum barulho que indicasse às proximidades de onde seus colegas estavam. Como não obtinha sucesso, voltava para a área do córrego e lá passava a noite, sempre procurando descansar nas áreas mais altas, para tentar se livrar de animais peçonhentos e felinos.

“Eu vi diversos animais, como porco do mato e anta, mas graças a Deus não encontrei nenhuma onça”, agradece. Para Wilson, sua experiência contou muito para ajudá-lo a sobreviver, apesar de ser uma situação angustiante. Ele conta que sempre atuou em operações de combate a incêndio florestal e conhece razoavelmente bem a região de Carajás, mas observa que cada situação é uma realidade e naquela área eles ainda não tinham atuado.

“Mesmo a gente conhecendo as áreas, sempre corremos risco. Isso é inerente a nossa profissão”, ressalta, enfatizando que como é experiente, nunca se arriscou a caminhar à noite. Tentava encontrar o caminho de volta até às 17 horas, depois logo buscava um local seguro para se abrigar e passar a noite.

Mas em suas tentativas de voltar, um fator foi primordial para sua localização. É que quando ele subia nas árvores, conseguia ouvir o barulho do helicóptero e, como sabe distinguir o barulho que a aeronave faz quando pousa e levanta voo, passou seguir o barulho do pouso. Na quarta-feira, decidiu tomar uma decisão drástica, caminhar até encontrar o local onde a aeronave pousava. Traçou mais ou menos a rota, com base no barulho, encheu seus dois cantis de água e subiu a serra, onde passou a noite.

Pela manhã, avistou o foco de incêndio e finalmente sentiu que estava perto de ser encontrado. Ele caminhou otimista e, começou a gritar. Nisso, ouviu apitos, um tipo de código que eles usam, e percebeu que havia sido escutado. “Vi que meu grupo de emergência estava lá”, se emociona.

Por volta de 9 horas, avistou os militares do Exército, que o procuravam na floresta. Imediatamente os militares se aproximaram e perguntaram se ele era o Wilson, o que respondeu positivamente. “Nessa hora, eles deram o brado de vitória, nos abraçamos e fizemos nossa corrente de oração, que me emociona até agora”, detalha.

Apesar do susto, Wilson diz que esse episódio foi um grande aprendizado em sua vida e ganhou mais experiência em sobrevivência em área de selva. “Até brinquei com o pessoal do Exército se não tinha uma vaga para mim na corporação. Eles responderam que meu estágio já estava pronto, bastava só colocar a farda”, brinca, já com um leve sorriso no rosto.

Wilson, aliás, aproveita para agradecer a equipe do 52º BIS, que participou da operação de buscas. “Muito obrigado a todos os guerreiros de selva, que me contaram que quando chegaram lá, afirmaram que iam me encontrar em 72 horas”, diz Wilson, agradecendo também sua equipe, os Bombeiros, os funcionários do projeto S11D pelo empenho em resgatá-lo, assim como a Resgate, que é outra equipe de brigadistas, e a todos que oraram por ele e torceram para que fosse encontrado bem.

Após receber atendimento médico, Wilson foi liberado para ir para casa, em Canaã dos Carajás, onde foi recebido pela mãe, Lourdes, e o pai, Wilson, assim como os demais familiares e amigos. “Agora vou curtir um pouco minha família e descansar”, se despediu o brigadista da nossa equipe de Reportagem.

Reportagem: Tina Santos / Grupo Correio

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