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Cooperação entre indústria e academia viabiliza pesquisas na Amazônia

Projeto de mineração de bauxita no sudeste do Pará é campo de estudos sobre biodiversidade com projetos conduzidos por pesquisadores do Brasil e da Noruega

A vespa parasita pertence à família das Platygastridae, mede poucos milímetros e algumas delas colocam seus ovos dentro dos ovos de outros insetos e aranhas. Para a maioria das pessoas, esses detalhes não são relevantes ou mesmo interessantes. Para a comunidade científica, no entanto, essas são informações valiosas porque se trata de uma espécie recém-descoberta e conhecer hoje detalhes sobre ela simboliza a ampliação do conhecimento que se tem sobre a diversidade biológica da Amazônia. A identificação da vespa parasita é um dos resultados das pesquisas conduzidas pelo Consórcio de Pesquisa em Biodiversidade Brasil-Noruega (BRC), uma iniciativa que mostra como a parceria entre a indústria e a academia pode gerar resultados positivos para a sociedade.

Formado por uma empresa e quatro instituições de pesquisa, três delas da Amazônia, o BRC garante aos pesquisadores da região a autonomia técnica na condução dos estudos. Ao longo dos últimos cinco anos, o Consórcio tem garantido o fomento à produção científica, assim como recursos e infraestrutura para viabilizar as pesquisas e formar profissionais voltados à ciência. Com 15 projetos em andamento, alguns deles inéditos, a iniciativa alcançou resultados de alto nível: cinco dissertações de mestrado, 22 papers de pesquisas e a descoberta de espécies – além da vespa parasita, foram catalogadas novas espécies de percevejos, fungos e líquen.

“Nossa avaliação é que avançamos muito com a parceria, especialmente em nosso conhecimento em relação às áreas em que atuamos. Por exemplo, quando iniciamos nossa pesquisa, localizamos cerca de 380 espécies de plantas registradas e depositadas nos acervos dos herbários do Pará. Hoje, já temos mais de 600 espécies registradas com amostras botânicas depositadas em herbário. Certamente teríamos avançado sem o apoio do BRC, mas em escala e velocidade bem menores”, destaca Gracialda Ferreira, professora da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), uma das instituições parceiras do Consórcio.

Para Leonardo Sena, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), instituição integrante do Consórcio, a iniciativa é um exemplo de cooperação interinstitucional que poderia estar funcionando com outras empresas. “Para o pesquisador, é importante que não haja nenhum tipo de restrição quanto aos métodos de produção de conhecimento e divulgação dos resultados de sua pesquisa. O fato de os pesquisadores estarem ligados a instituições públicas nos dá respaldo para essa independência. Nossos dados serão divulgados pelo seu valor científico”, pontua.

Estudos voltados para a indústria mineral

O BRC é uma iniciativa da Hydro, companhia global com negócios na cadeia produtiva do alumínio e empreendimentos no Pará nos municípios de Paragominas, Barcarena e Oriximiná. Para a realização do Consórcio, a empresa se associou à Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Museu Paraense Emilio Goeldi e a Universidade de Oslo (UiO). O campo de pesquisas para os projetos do Consórcio é a Mineração Paragominas, unidade no sudeste paraense na qual a Hydro lavra bauxita, minério que é a matéria-prima do alumínio.

As pesquisas conduzidas pelo time do BRC têm colaborado para a modernização do programa de recuperação florestal de áreas mineradas da Hydro ao propor um novo modelo fundamentado em conhecimento científico. “O Consórcio busca alcançar o que chamamos de ‘estado da arte’ em recuperação florestal, com a proposição de indicadores, novas técnicas e tecnologias de restauração ambiental”, detalha Victor Barbosa, biólogo e analista de meio ambiente da Mineração Paragominas. Até o momento, a empresa reflorestou cerca de 2.100 hectares de áreas mineradas com o suporte dos projetos de pesquisas no aperfeiçoamento das técnicas aplicadas.

“Nosso conhecimento sobre a recuperação de áreas degradadas era bem inicial (quando o BRC foi lançado). Ainda precisamos avançar muito, mas já avançamos o suficiente para termos e oferecermos base para as empresas tomarem decisões importantes sobre este tema. Isso só foi possível pela estruturação do Consórcio formado por importantes instituições com expertises especificas que, agregadas, trouxeram este ganho a nossa região“, completa Gracialda Ferreira.

Leonardo Sena lembra que os estudos realizados contribuirão para diminuir os impactos em áreas que são desflorestadas na região. “É importante que possamos perceber na academia a importância de interagirmos com empresas e é importante para as empresas que vejam como a academia pode ajudá-las. Para nós, é um aprendizado de como podemos nos organizar e gerenciar um programa de pesquisa mais amplo, em que a necessidade parte de uma problemática do setor privado”, pontua o professor, que destaca como essenciais a cooperação e a confiança entre as partes do consórcio para que resultados positivos sejam alcançados.

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