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Miséria e balbúrdia poderão tomar conta de Parauapebas no futuro

Tome nota: 31 mil famílias ou 108 mil pessoas com menos de meio salário mínimo para passar o mês (o equivalente a muito mais da metade da população atual de Parauapebas só de pobres); 32 mil crianças passando fome em lares de baixa renda (pouco mais de um Canaã dos Carajás entupido de mirins chorando de barriga vazia); 164 mil cidadãos pagando aluguel ou morando na sarjeta por não terem casa própria (tanta gente quanto praticamente a população municipal hoje); 13 mil jovens, de 16 a 29 anos, desempregados (o mesmo que uma cidade de Curionópolis lotada de rapazes e moças de cara para cima, vagando e vulneráveis à criminalidade); 49 mil favelados (dois Bairros da Paz e uma Cidade Nova repletos de pessoas socialmente excluídas dos equipamentos públicos); e, no meio das estreitas ruas, 167 mil veículos – carros, motos, caminhões, caçambas, entre outros – levam a população à loucura, ao leito e à morte.

Não, não se trata da África subsaariana ou do Paquistão com carros-bomba. Este é o cenário “menos ruim” de um Parauapebas de 2026 que, se não for pensado com carinho no hoje, cuidando dos seus no agora, vai estrangular-se sem que seja preciso ter pessoas saindo pelo ladrão ou os 500 mil habitantes profetizados pela prefeitura recentemente.
No cenário de projeção populacional mais razoável, utilizando-se a metodologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é possível visualizar um Parauapebas com quase 375 mil habitantes, dos quais aproximadamente 350 mil deverão estar na sede urbana. É praticamente uma cidade do porte atual de Maringá, no Paraná; Montes Claros, em Minas Gerais; ou Campina Grande, na Paraíba.

A MALDIÇÃO DO 13
Se, no tarô, ele é representado pela morte; se, quando cai numa sexta-feira, vira sinônimo de azar; ou se, para o grosso da população, ele representa mau agouro; ele, em Parauapebas, pode representar o maior tsunami da história social e moral do município, num passado não muito distante. É o número 13.
De 2000 para 2013, 13; de 2013 para 2026, 13. Treze é o número de ordem do Partido dos Trabalhadores (PT). Mas os sentimentos não podem ser misturados com a racionalidade nem virar motivo de ausência de reflexões. O fato é que os anos 2000 e 2013 podem ser considerados picos dos problemas modernos para o município de Parauapebas. Não por acaso, o 13 que os distancia é um número de azar.

Foi a partir de 2000 que os gargalos municipais – detectados à época pelo censo – começaram a se agravar, tornando-se um mega-abacaxi hoje. Naquele ano, com 72 mil habitantes, era mais fácil administrar uma receita orçamentária de R$ 99,7 milhões, diante de problemas que, até então, eram mini. Como bola de neve, os gargalos foram crescendo, avolumando-se, e hoje esperam solução num banco oposto ao de onde a Prefeitura de Parauapebas recebe um mar de notas multicores, que só este ano, até o momento, somam R$ 595 milhões.
Entre 2005 e 2012, a Prefeitura Municipal de Parauapebas recebeu R$ 1,01 bilhão apenas em royalties de mineração. Ajuntados os royalties à cota-parte do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias (ICMS), ao Fundo de Participação dos Municípios (FPM), ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e a outras fontes, a prefeitura viu sua conta-corrente inchar com R$ 3.540.863.565,93 (isso mesmo: mais de três bilhões e meio de reais). É tanto dinheiro que daria para erradicar absolutamente todos e quaisquer problemas locais existentes em 2012, 2013 ou 2026. Oito anos se passaram, a gestão anterior se acabou e o dinheiro tomou doril: ninguém sabe, ninguém viu.

FUGA DOS MILHÕES
O governo atual, pelejando com um poder médio mensal ainda maior que o governo anterior, viu a conta bancária da prefeitura esticar em, pelo menos, R$ 200 milhões em razão da dívida de royalties que a Vale acumulou, perdeu na Justiça e foi obrigada a pagar ao município. Em fevereiro e março, a mineradora depositou a bolada na conta-corrente do Morro dos Ventos. Em seis meses, a administração vigente abocanhou praticamente um quinto de tudo aquilo que sua antecessora demorou oito anos para pegar. Só agora em junho, já são, até o momento, R$ 86.259.442,20, praticamente o mesmo montante com que a gestão de 2000 se virava em 365 dias.
Mas tudo pode – ou poderia – ser diferente a partir de 2013, se o passado, que se arrasta desde a emancipação político-administrativa de Parauapebas, servisse de lição. Com o apelo a 2026, retorna novamente o drama do 13, desta vez na patifaria matemática que faz com que o “fato imediato” perca a batalha para o “muito provavelmente”. Com tanto dinheiro em caixa, o plano – e não a trama – é correr contra o tempo e evitar as tragédias para um Parauapebas de 375 mil habitantes ou, muito pior, 500 mil.

Já pensou os jovens, com idade entre 16 e 29, sendo assassinados à toa, brutalmente, com risco de morte duas vezes maior em relação a hoje, quando a situação não está nada fácil? Pode parecer imperceptível, mas com a taxa de homicídio juvenil dobrada e uma população de 500 mil habitantes, conforme a hipótese da prefeitura, Parauapebas se tornará o maior “frigorífico” de jovens do país, com 1.235 presuntos novos sendo enterrados por ano. Atualmente, a taxa de mortes violentas entre rapazes e moças por aqui, levantada pelo Ministério da Saúde (MS), é de 128 para cada grupo de 100 mil jovens. É proporcionalmente maior que a do país mais violento do mundo, Honduras, que, em 2012, registrou ao menos 91 mortes violentas para cada grupo de 100 mil habitantes, de acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime.

NOSSO FUTURO COMUM
Desenvolvimento de Parauapebas está cinco anos atrasado em relação ao resto do Brasil

O que é mais importante: três ou quatro praças com internet de alta velocidade ou crianças da periferia sorrindo, sem fome, fora do risco da morte infantil e saudáveis? O que vale mais: “internetizar” a cidade inteira, para incluir digitalmente quem passa fome, ou não deixar faltar água, energia elétrica e dotar de saneamento básico o subúrbio, promovendo inclusão social? A resposta depende dos objetivos os quais se pretenda alcançar, mas é fato consumado que a humanidade conseguiria viver, sem sofrer, se não houvesse fibra ótica, modem, antena de rádio. Por outro lado, a fome, a falta de água e de saneamento básico já mataram – e continuam a matar – milhares de pessoas no Brasil e no mundo diariamente.

Por que num município de 172 mil habitantes em 2013 menos de 1.000 jovens são universitários e por que a maioria dos que querem crescer tem de deixar sua cidade, sua família e buscar conhecimento fora, no mais das vezes não retornando para contribuir com o desenvolvimento local? Por que num município tão rico, o 33º entre 5.570 no país, existe apenas uma universidade efetivamente instalada que oferece ensino público gratuito, enquanto lá fora municípios sem um décimo do dinamismo econômico local têm alguns dos cursos mais disputados e prestigiados do país?
Quando, no mês de julho, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) divulgar o Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios (IDH-M), com base em 180 variáveis do censo 2010, será possível ter um diagnóstico completo de Parauapebas. Sua posição é de destaque, e a reportagem teve acesso a dados exclusivos sobre os quais o Pnud está trabalhando para fazer a maior divulgação socioestatística do ano.

Com IDH-M em 0,791 (superior ao 0,74 de 2000), esse dado certamente sofrerá alterações significativas até a divulgação oficial do IDH, já que o valor disponível considera apenas os critérios Renda e Educação cujos resultados amostrais censitários foram divulgados em 2011.
Ainda assim, esse dado preliminar, que não leva em consideração o fator Saúde (que se amplia para além da Longevidade), mostra que Parauapebas está entre os cinco mais desenvolvidos do Pará, ao lado de Belém, Ananindeua, Castanhal e Marituba. Mas aponta que, apesar de a renda ser elevada, em nível de Pará e Região Norte, ela é mal distribuída, bem como a saúde é ruim, estando vulnerável, por exemplo, às epidemias de dengue, o que impede que o município alcance posição melhor. Parauapebas, trocando em miúdos, está cinco anos atrasado em relação ao resto do Brasil e esse atraso chega a 20 anos no confronto com municípios paulistas, catarinenses, gaúchos e paranaenses. Ter riquezas minerais (para quem?) já não é o bastante.

Nem tudo se perdeu, porém. A educação, entre 2000 e 2010, foi o grande destaque e fez Parauapebas flutuar, considerando-se o confronto apenas com o critério da Renda. O 13 que fez um arregaço no passado é o mesmo que, inteligentemente, tirou o município da agonia do analfabetismo, cujo índice foi reduzido à metade. Além disso, o governo passado conseguiu fazer subir o tempo médio de estudo da população, de 5,6 para 8 anos. Ainda, a taxa de evolução da população adulta alfabetizada cresceu 200% e o número de crianças e adolescentes, com entre 7 e 14 anos, na escola teve o incrível aumento de sete pontos percentuais.
Mas se a educação progrediu e alcançou um patamar triunfal, fruto de ações das gestões anteriores, essas mesmas gestões levaram Parauapebas à bancarrota nos setores de saúde e infraestrutura urbana. Absolutamente todos os problemas que se visualizam em 2013 são heranças de águas passadas, que agora turbinam moinhos no sentido de deixá-los prontos para as cobranças a quem está no poder. A sociedade, que aguentou passiva e pacientemente as mudanças levianas prometidas por anos a fio, resolveu, enfim, despertar do ostracismo ideológico e penalizar as autoridades competentes.

Com tantos problemas no hoje, mais sensato seria criar um famoso Relatório Brundtland (Nosso Futuro Comum), adaptado à realidade local, para nortear os rumos que se quer tomar, visualizando o futuro, mas sem perder a vereda do presente. Nada de agendas, cujos escritos caem no esquecimento das gavetas da burocracia; nada de planos com enredos preocupados demais com o superficial e o circense, mas alheios a anseios tão básicos quanto essenciais da espoliada população. Em planos de papel, as camadas mais pobres da população já não acreditam mais. Chegou a hora de fazer fazer para fazer crer.

Reportagem: André Santos

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