Para quem mora em Parauapebas, nem é preciso entender por que, de 0 a 100, o município não alcança sequer 50 pontos quando o assunto é Bem-Estar Humano. De acordo com o estudo da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa), intitulado “Barômetro da Sustentabilidade de Municípios com Atividades Minerárias no Estado do Pará”, todas as notas de insustentabilidade de Parauapebas estão dentro desse tema.
Além dos altos índices de gravidez na adolescência, roubos e ineficiência da internet,
Parauapebas desfila nas estatísticas oficiais com elevadas taxas de assassinato, evasão escolar no ensino médio e trabalho infantil, aliadas à precária distribuição de leitos hospitalares para sua população.
Os três únicos quesitos em que Parauapebas figura como “sustentável” são, a propósito, bastante questionáveis. O primeiro deles é energia elétrica, serviço ao qual 99,8% da população têm acesso, mas cuja quantidade prejudica a qualidade dado o número surreal de interrupções no fornecimento. A rede de distribuição de energia não cresceu na mesma velocidade em que a população local, e as consequências disso todos sabem de cor.
O segundo quesito “sustentável” é o índice de extrema pobreza. Deu-se assim porque a taxa de habitantes parauapebenses extremamente pobres caiu de 14,2% da população local em 2000 para 4,4% em 2010. Na prática, porém, como a população total mais que dobrou, o número absoluto de pobres se manteve praticamente estável nos últimos 15 anos: eram cerca de 10.200 pessoas em 2000; caiu para 6.800 em 2010; e voltou a subir a 8.400 em 2015, o que mostra que a miséria tornou a disparar no rico município de minérios em plena metade desta década.
Já o terceiro quesito, referente a PIB per capita, é o mais questionável de todos. Isso porque ele aponta uma suposta renda por habitante que é até linda de ver e de se orgulhar na teoria, porém, na prática, nunca existiu – e é totalmente fora da realidade.
RIQUEZA DE MENTIRINHA
Por causa da indústria extrativa mineral, o PIB municipal, que é a produção de riquezas total de Parauapebas, é um dos maiores do Brasil. Em 2012, ano do último dado de PIB disponível, a riqueza municipal medida era de R$ 16,73 bilhões, dos quais R$ 13,67 bilhões eram da indústria. Mas a única indústria que existe no município é a extrativa mineral. E a empresa industrial que a opera é a mineradora Vale. Daí, os R$ 13,67 bilhões – ou 81,7% da economia parauapebense – são de autoria da Vale, empresa sem a qual, na atual conjuntura, Parauapebas provavelmente não existiria como é ou até existiria, mas seria apenas mais um lugar economicamente paupérrimo e socialmente atrasado do Pará.
Portanto, ruim com a Vale, muito pior sem a Vale, já que o município não desenvolveu, ao longo de 27 anos, estratégias de sobrevivência para além da atividade mineradora.
Longe de ser uma santa, a empresa financiou esperança de prosperidade ao comércio local e a milhares de trabalhadores desde sua instalação em solo parauapebense. A Vale fez de Parauapebas um dos lugares de mais rápido crescimento econômico e populacional do Brasil em menos de três décadas. Só que tudo tem seu preço, e Parauapebas paga com minério de excelência – hoje, cotado a preço de banana no mercado internacional.
Enquanto isso, a população que chegou aqui, no maior alvoroço (de carro, de van, de ônibus, de trem e até a pé), notadamente entre 2004 e 2012, vai saindo de fininho, pegando o beco para Canaã dos Carajás ou mesmo retornando à pátria de onde saiu. Nada melhor que uma crise econômica para mostrar quem, de fato, ama um lugar e quer nele fazer morada permanente, criar seus filhos e fazê-lo prosperar por tudo o que lhe deu.
Em razão de todas as peripécias da Vale, no auge da implantação de seus grandes projetos na Serra Norte de Carajás, muitos – cidadãos e autoridades políticas – ficaram tão cegos que acabaram se acomodando, pensando que a mineração é uma atividade eterna e que crise alguma pudesse abalar o setor, de maneira que Parauapebas viveria pela eternidade à base de pompa e circunstância, comendo dos royalties e do despejo da massa salarial cheia de participação de lucros e etecétera.
E aí está um dos pontos pelos quais o município não chega a ser humanamente sustentável: falta consciência da população, a mesma que divulga que o PIB per capita de Parauapebas é alto (R$ 100 mil), quando, na verdade, a média da população trabalhadora passa o mês com somente R$ 1.281. Quem, afinal, se não for corrupto, ganha salário de R$ 100 mil em Parauapebas?
Enquanto isso, o segundo município mais rico do Pará segue com índices de desemprego cada vez mais crescentes e uma taxa de esgoto correndo a céu aberto que envergonha qualquer África. É o Bem-Estar Humano que temos para hoje.
Reportagem especial: André Santos – Colaborador do Portal Pebinha de Açúcar
Foto: Anderson Souza/ Coletivo 2.8