De homenagens a grandes nomes do jazz, como Jonh Scofield, a improvisações cheias de brasilidade, misturando ritmos e gêneros, com músicas autorais e inéditas no palco do Teatro Eduardo Abdelnor, a terceira edição do Marabá Jazz Festival foi surpreendentemente um grande difusor da música instrumental do país, bem como do que é produzido no Pará. Durante os dias 26, 27 e 28 de setembro, foram nove atrações, sempre com casa cheia e plateia animada. Na primeira noite, apresentaram-se Marlene Souza Lima, Morgana Moreno e Esdras Nogueira. Já no sábado, o público prestigiou o grupo Pandora Jazz, o projeto Boca Seca e o MG Calibre Quarteto. O evento encerrou com Curimbó Tropeiro de Iracema, Ricardo Smith Quarteto e Celso Pixinga.
Consagrando-se como pioneiro e maior festival de música instrumental do Sul e Sudeste do Pará, o Marabá Jazz Festival é produzido pela TheRoque Produções, com patrocínio do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), e apoio da Prefeitura de Marabá, via Secretaria de Cultura.
O produtor Jackson Gouveia, idealizador do evento, ressalta que o festival, além de trazer nomes de expressão nacional e internacional, tem conseguido atrair mais pessoas interessadas na música instrumental e, ao mesmo tempo, oferecer uma plataforma para os artistas locais. Esses músicos, que ansiavam por essa oportunidade, agora podem se apresentar com sua própria linguagem instrumental, de forma autoral. “Eu acredito que o Marabá Jazz tem cumprido a sua missão social, o seu objetivo cultural na região, e isso é gratificante para todo mundo”, declarou.
O Marabá Jazz Festival é patrocinado pelo Instituto Cultural Vale desde a sua primeira edição. Segundo Luciana Gondim, diretora executiva do Instituto, “iniciativas como essa contribuem para a democratização da cultura, fortalecem a economia criativa e reforçam o poder transformador da música”.
Comprometido com a acessibilidade, o festival contou com intérpretes de Libras e audiodescrição, garantindo à Maria Francisca dos Santos, que tem deficiência visual, aproveitar as apresentações. “Foi maravilhoso, toda a organização está de parabéns. A gente teve a audiodescrição de toda a estrutura de palco, iluminação, de todo o aspecto do show. Essa sensibilidade torna ainda muito mais agradável e alegre o momento do show, onde recebemos as informações de tudo que estava acontecendo”, destacou.
Quem também elogiou o festival foi o sociólogo Van Camelo, que participou pela primeira vez do evento. “Nossa! Foi uma grata surpresa e muito bem organizado. Ter atrações nacionais de nome, em Marabá, nos alegra muito: escutar jazz, música de boa qualidade, de forma gratuita, no espaço maravilhoso, o teatro”, pontuou.
Com mais de 30 anos de carreira, Marlene Souza Lima e Trio, de Brasília, abriu o festival, na sexta-feira (26), com um repertório autoral que misturou nas improvisações ritmos como baião e bossa. A guitarrista estava encantada por tocar na região Norte pela primeira vez.
“É muito bacana porque eu trouxe minha música para o Norte do Brasil e nem sempre as pessoas têm essa oportunidade. Foi uma experiência muito maravilhosa, público aplaudindo, curtindo. A estrutura do festival está maravilhosa. Estou maravilhada com o público, a energia no palco estava a mil. Vida longa ao Marabá Jazz”, completou.
A flautista baiana, Morgana Moreno, que atualmente mora em São Paulo, também agradeceu a oportunidade de se apresentar, de forma inédita, no Norte do país e destacou o papel sociocultural do Marabá Jazz. “Festivais como esse são muito importantes para fazer com que as pessoas tenham acesso à música instrumental”, enfatizou.
A primeira noite terminou com a performance do saxofonista de Brasília, Esdras Nogueira, que apresentou composições dos álbuns “Lá em Casa Sessions” e “Transe”, uma reinterpretação do álbum “Transa”, de Caetano Veloso, encerrando com músicas de Gilberto Gil.
“O festival está de parabéns, com uma qualidade incrível de som. Primeira vez que venho a Marabá e gostei muito. Viajar tocando música instrumental é um privilégio e chegar aqui e ter um público querendo escutar a gente, é maravilhoso”, elogiou.
Já na segunda noite, a plateia prestigiou muita regionalidade no palco, com os músicos do Pandora Jazz, de Belém, do projeto Boca Seca, de Marabá, e MG Calibre, também da capital do estado. Com uma longa estrada na cena musical, desde 1999, o Pandora Jazz trouxe um instrumental mais amazônico.
“A gente tem essa música improvisada, com alguns elementos do jazz, mas com prioridade nas composições autorais que têm vínculo com a nossa cultura, com a música amazônica. É muito bom estar aqui de volta no Marabá Jazz Festival. Queremos voltar outras vezes. Temos a oportunidade de fazer um show com uma plateia maravilhosa e super receptiva!”, destacou Adelbert Carneiro.
Passeando do blues ao rock progressivo, com todas as músicas autorais, o projeto Boca Seca, de Marabá, idealizado em 2023, busca fortalecer a cena da música instrumental na região, como destacou o guitarrista Herberth Braz.
“A gente está dando um start no Boca Seca, um projeto que foi idealizado. Saiu um álbum nos streams e, agora, a gente segue uma caminhada, de juntar amigos, parceiros, justamente para difundir a música instrumental na região de Carajás, que vem ganhando um grande espaço. E, trabalhos como esse, como o Marabá Jazz, vêm se consagrando com essa marca registrada”, concluiu.
A noite terminou com a empolgação e irreverência de MG Calibre, de Belém, que montou um quarteto para a apresentação no festival, apresentando músicas inéditas e do álbum “Brazzonia”, com improvisações jazzísticas permeadas de influências da cultura amazônida.
“Eu acredito que esse festival é algo tão grandioso, que vai seguir por gerações, porque essa música é muito especial. A gente faz a mistura da música contemporânea. Eu toco jazz, mas eu busco muito a minha raiz, a minha história de vida dentro de uma realidade”, expressou MG Calibre.
Com muita interação entre artistas e plateia, a noite de encerramento do festival começou com o grupo Curimbó Tropeiro de Iracema, de Marabá, que mistura instrumentos e faz o que o guitarrista Tiago Barcelos chama de desconstrução musical. “Pra gente está sendo uma experiência fantástica. A equipe técnica é muito boa, o pessoal é muito solícito, deixaram a gente muito tranquilo pra poder fazer essa apresentação. E as nossas músicas, a gente gosta de rock’n’roll, puxa um carimbó, um reggae, um brega, pra fazer esse tipo de desconstrução musical, pra gente poder se divertir, fazer um som autoral diferente”, pontuou.
Trazendo muitas surpresas ao palco, Ricardo Smith Quarteto apresentou entre as músicas, a canção inédita “Marabá”, e dividiu o palco com um convidado especial. “É bom saber que Marabá tem esse público, que gosta e consome essa música. A importância do festival é enorme para formação de plateia, levar conteúdo diferenciado para as pessoas que estão dispostas a ouvir. Nós tocamos pela primeira vez uma música inédita, ‘Marabá’, que homenageia a cidade e o povo, e eu acho que a recepção foi muito boa. E trouxemos um super convidado, um artista tarimbado da terra, que é o Neviton Ferreira, que cantou uma canção clássica de Marabá, com letra do Pagão, que é Varandais, então foi festa”, ressaltou.
A última noite encerrou com o produtor musical e contrabaixista Celso Pixinga, de São Paulo, que arrancou muitos aplausos do público, já que mesmo diante das dificuldades por conta de um acidente, fez questão de participar da terceira edição do Marabá Jazz Festival, que aliou música boa com cinema, divulgando todas as noites, a 9ª Mostra de Cinema da Amazônia, com videoclipes de artistas paraenses, e a Mostra Audiovisual Vidas Indígenas, do Museu da Pessoa.