Um caso que, segundo o conselheiro tutelar Neil Armstrong, é vivido em silêncio em diversas unidades de ensino Brasil afora. A coordenadora da diretoria executiva do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), Rita Gil, afirma também que em outros campi do Instituto Federal do Pará (IFPA) já ocorreram situações semelhantes.
A ocorrência em questão é a prática de assédio sexual contra alunas da instituição de ensino, infração do qual são suspeitos o então diretor do Campus do IFPA em Parauapebas, Rubens Chaves Rodrigues e mais outros quatro servidores que estão sendo investigados após denúncias.
De acordo com um estudante do ensino médio que terá seu nome preservado nesta reportagem, o caso só é novidade para a sociedade, mas não para os estudantes, que várias vezes fizeram protocolos para denunciar, não tendo dado em nada. “Desta vez, o caso só está sendo resolvido e ganhando publicidade graças à intervenção do Conselho Tutelar, que levou a denúncia ao Ministério Público. Do contrário, não sairia dos portões da instituição de ensino”, reconhece o aluno.
A equipe de reportagens do Portal Pebinha de Açúcar está acompanhando o caso e ontem (24) esteve no Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente, onde conversou com Neil Armstrong, ouvindo dele que a primeira providência do órgão foi ouvir as adolescentes.
“Não convidamos elas para virem ao conselho para não dar margens de sofrerem represálias. Por isso, fomos ao Campus IFPA e lá ouvimos uma por uma, além de amigas que viram o assédio acontecer e se dispuseram a falar do assunto”, contou Neil, detalhando ter apresentado denúncia ao Ministério Público, pedindo nela o afastamento dos envolvidos para preservar as adolescentes. Todas foram ouvidas também na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam).
O caso chegou à reitoria da instituição de ensino, o que motivou a vinda do reitor Cláudio Alex Jorge da Rocha, que se reuniu na manhã desta quarta-feira (24) com estudantes e servidores do Campus IFPA em Parauapebas, para buscar uma saída para o problema.
Uma das medidas tomadas pelo reitor foi o afastamento dos acusados das funções e também das dependências do instituto. A outra foi a nomeação de uma diretora interventora, Tábata Araújo, que, segundo o reitor, deveria ficar no cargo até o mês de março do ano que vem, porém, a nomeação de interventor gerou desconforto em parte dos estudantes, que qualificaram a atitude do reitor como “formação de panelinha”, propondo que seja realizada eleição ou comissão para a escolha do novo diretor. “A questão é que o Brasil vive uma democracia, por isso, nada mais natural que escolhamos quem irá dirigir a instituição em que estudamos”, diz entender Josenildo Barros. Ao final, ficou definido o servidor Vander Augusto como diretor provisório do IFPA Parauapebas.
“Com isso também foram estabelecidos novos canais de diálogos com a comunidade, propostos pelos servidores, para que não se tenham mais as reclamações de que estes espaços eram abafados, não permitindo essas manifestações a exemplo de hoje. Não posso tão logo recebo uma acusação sair demitindo pessoas. É preciso que se apure de forma responsável. Peço que esta comunidade acompanhe o desenrolar deste caso, pois daremos garantia de que este instituto possa ser visto como ele é: um lugar de formação de cidadãos com qualidade”, explanou Cláudio Alex, asseverando que não vai permitir que a situação continue e será implacável com o assédio, que ele qualificou como abominável.
O caso continua sendo apurado pelo Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente e Ministério Público Estadual. De acordo com Neil Armstrong, ele voltará a falar com a imprensa quando a situação tiver novidades.