Famoso pela história retumbante do garimpo de Serra Pelada, Curionópolis, município paraense na região Carajás, vem surpreendendo com outro tipo de joia: o Cajá. Na safra atual, que começou em dezembro de 2022, e se estende até este abril, já são 340 toneladas, cuja comercialização para cooperativas rendeu a famílias assentadas da reforma agrária, principais envolvidas na atividade, um lucro de mais de R$ 850 mil.
O fim da safra bem-sucedida foi comemorada, no último sábado (22), com mais um Festival do Cajá, organizado pelo escritório da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater). Dado o forte movimento de imigração nordestina, ali o nome amazônico “taperebá” assume o costume de “cajá”.
Prestigiada por um público de mais de mil pessoas, a nona edição do evento realizou-se na Vila Curral Preto, no Rio Sereno, e significou a retomada da tradição, depois de uma pausa forçada de três anos, provocada pela pandemia do coronavírus.
Idealizado desde o lançamento pela Emater, há mais de uma década, o Festival tem parceria com a Associação dos Pequenos e Médios Produtores Rurais do Leandro (Asprul) e recebe apoio da Prefeitura de Curionópolis, da Cooperativa dos Produtores da Região do Carajás (Cooper) e de empresários.
Extrativismo
A incidência natural de árvores de taperebá em toda a Curionópolis muda a paisagem dos pastos de pecuária de corte e leiteira, motor socioeconômico local.
Depois de um processo colonizatório de desmatamento e queima de solo, as atenções começaram a se voltar para a preservação ambiental e valorização da flora nativa. “Além do que, o cajazeiro agrega funções vantajosas para a própria bovinocultura, como propiciar sombra para o gado”, explica o chefe do escritório da Emater em Curionópolis, o técnico em agropecuária Raimundo Jorge Lima.
Um único pé de cajá pode frutificar em até 500 quilos por safra, sendo a média 250 quilos. O fruto é tão versátil, in natura a ingrediente de trufa e licor, que compõe inclusive a merenda escolar de Curionópolis e dos vizinhos Canaã dos Carajás e Parauapebas.
Na atualidade, a Emater incentiva com regularidade o trabalho extrativista de mais de 100 famílias de quatro assentamentos federais: Barreiro Cocal, Cachoeira Preta, Ipiranga e Sereno. De acordo com Lima, o ganho é de quase 100%, porque se baseia em mão-de-obra e demanda pouca instrumentação (baldes e sacos).
“Visualizamos também como uma estratégia de segurança alimentar e de ótima renda extra para essas famílias pecuaristas”, diz.
Algumas metas para o desenvolvimento da cadeia produtiva é o acesso a crédito rural e a implantação de um viveiro de mudas, para a expansão das tecnologias de plantio, complementarmente ao extrativismo.
Reportagem: Aline Miranda