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CANAÃ DOS CARAJÁS: Exportações e desemprego triunfam nos 23 anos da ‘Terra Prometida’

Tentar compreender a dinâmica socioeconômica do município de Canaã dos Carajás é coisa de louco. Ontem, quinta-feira (5), Canaã dos Carajás completou aniversário de 23 anos de emancipação político-administrativa, mas o momento por que passa atualmente é muito mais de reflexão e revisão das estratégias de planejamento e desenvolvimento humano que de festa na “Terra Prometida” a ser próspera — se seus gestores trabalharem para permitir, é claro.

Nestes 23 anos de empáfia e nada de parcimônia, os números que se lhe apresentam e de quem são emanados tornaram-se grandes demais, um verdadeiro fardo para seu tamanho populacional, composto por, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 36 mil moradores este ano.
A prefeitura local não acredita no IBGE, nem em outros tantos órgãos oficiais, e até chegou a anotar que em 2014 Canaã tivesse 52,9 mil habitantes. As páginas 12 e 24 de um tal diagnóstico socioeconômico encomendado por ela, de 119 folhas, fazem esse registro com base em levantamento de agentes de saúde e combate a endemias da Secretaria Municipal de Saúde, sem apresentar, contudo, a metodologia detalhada para alcançar o resultado.

Canaã dos Carajás padece de exatamente os mesmos vícios e males “exagerísticos” que, atualmente, castigam seu genitor, Parauapebas. As manias de grandeza, reais e surreais, começam a cobrar seu preço.

INDÚSTRIA MINERAL: De maior empregador ao que mais desemprega no Brasil

Como um município pequeno pode saltar da centésima e lá vai cacetada posição no ranking de exportação, que tem mais de 2.000 localidades, para acomodar-se na 36ª posição e, daí, só esperar a hora para subir mais? Pois é assim que, de um ano para outro, Canaã conseguiu a proeza, com o dedo — dedão, dedada ― da mineradora multinacional Vale.

A maior exportadora do Brasil começou seus negócios em Canaã em 2004, por meio do projeto Sossego para extração de cobre, e logo alçou Canaã ao posto de maior produtor do metal do Brasil, título que foi perdido há dois anos para Marabá (e seu projeto Salobo), avó de Canaã, onde a mesma empresa se faz prosperar.

No raiar desta década, a Vale viu que seus projetos de minério de ferro instalados na Serra Norte de Carajás, no município de Parauapebas, não dariam conta de, sozinhos, abastecer a fome do mercado transoceânico, que tem a China como a maior gulosa e, de longe, o país com a indústria de aço mais obesa.
Então, a multinacional decidiu instalar o S11D, projeto que já vinha sendo rascunhado anos antes e que se tornou viável pela demanda do ferro, cujo preço da tonelada chegou a magníficos 191 dólares em fevereiro de 2011 e agoniou ainda mais a Vale para desbravar Canaã. E assim foi feito.

Hoje, S11D é o melhor negócio da empresa, com o menor custo de produção da indústria extrativa, e está instalado na Serra Sul, porção de Carajás que fica dentro de Canaã. Entre o início de sua instalação e o começo de sua operação, nada menos que 15 mil trabalhadores se espremeram em Canaã, trazendo consigo sonhos, mala, família, cachorro, gato, papagaio, inchaço populacional e, a reboque, inúmeros problemas sociais a Canaã dos Carajás, que se tornou pequeno para aquilo tudo.

Mas a implantação de S11D chegou ao fim e, com ela, os milhares de postos de trabalho temporários criados. Implantação de projeto é isso: tem começo, meio e fim. Em Canaã não seria diferente. E aí, de um ano para outro, entre 2015 e 2016, Canaã saiu da condição de município que mais gerou postos de trabalho no Brasil (por conta do pico das obras de S11D em 2015) para um dos que mais demitiram no mesmo Brasil (em razão da finalização das obras civis do projeto).

De janeiro de 2016 a agosto deste ano, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) contabiliza 11.691 trabalhadores com carteira assinada desligados no município. Muitos retornaram para a sua cidade natal; outros permanecem, sonhando com algum movimento retumbante em Canaã que possa voltar a gerar milhares de oportunidades. Mera ilusão.

CONTAS DA PREFEITURA: Receita cresceu 785% em 10 anos, agora cai R$ 100 milhões

Com a operação comercial de S11D em dezembro de 2016, Canaã entrou em nova fase. Sem empregos, mas com novas perspectivas ― senão para os habitantes, pelo menos para a prefeitura. Temporariamente, a receita local ressente-se do baque, e não é para menos, haja vista várias empreiteiras terem se mandado de Canaã, já que, sem obras, não haveria muito o que fazer aí.
Todavia, como a lavra do minério de ferro está sendo escalonada, com aumento gradativo anual até 2020, quando deve chegar à produção plena, a receita da Prefeitura de Canaã voltará a sorrir. Em 2020, Canaã já estará faturando em royalties de mineração 70% do que Parauapebas recebe atualmente. Outros impostos e taxas vão crescer também e, se tudo correr bem, com o mercado do minério de ferro no pique atual, Canaã dos Carajás deve rivalizar com Parauapebas em arrecadação de tributos advindos da mineração no final da década que vem. É preciso ter paciência, já que não há alternativa ― o município não tem outro ganha-pão a não ser a mineração.

De 1º de janeiro até este dia de aniversário de Canaã, a prefeitura local arrecadou R$ 189,31 milhões, sem contar a cota-parte da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem), no valor de R$ 3,64 milhões, que acabou de cair e que a fanpage Meu Parazão divulga em primeira mão. É, sim, muito dinheiro, mas é menos do que deveria em relação a anos anteriores, durante os quais se visualizou a implantação de S11D.

Se continuar a comportar-se dessa maneira, a arrecadação local poderá encerrar o ano em “apenas” R$ 249,5 milhões. Apenas porque será a menor arrecadação dos últimos quatro anos, segundo a Secretaria do Tesouro Nacional (a saber: R$ 257,54 milhões em 2014; R$ 335,66 milhões em 2015; e R$ 356,83 milhões em 2016). Ainda assim, é pecado reclamar muito da Terra Prometida. Em apenas uma década, entre 2006 e 2016, a receita da prefeitura deu um magnífico salto de 785%, nada igual no Brasil, passando de R$ 40,28 milhões para R$ 356,83 milhões. Como ensina a Bíblia Sagrada, nada é eterno no mundo dos homens, de ganância e cobiça.

EXPORTAÇÕES E ROYALTIES: Milhões em minérios e incontáveis problemas sociais em Canaã

As fofocas de “falta de dinheiro”, “crise” e “população indo embora” começam a tomar conta de Canaã, massacrando sua imagem, até pouco tempo de santa e imaculada na mídia nacional em face da geração de empregos por trás do projeto da Vale. Sobrou o caos.
Enquanto o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) revela que Canaã dá salto majestoso de 189% este ano ante ano passado na balança comercial, tendo exportado 910 milhões de dólares em ferro (515,65 milhões) e cobre (394,47 milhões), o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) contabilizou em agosto deste ano uma multidão de 23 mil canaaenses vivendo com menos de meio salário mínimo por mês, praticamente sem eira nem beira. É o retrato do empobrecimento crescente de um município que cresce exponencialmente em termos econômicos para outrem.

Ao meio-dia desta quinta, o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) mandou ao Banco do Brasil para crédito à conta cota-corrente da prefeitura do município aniversariante alguns mirreis (R$ 3,64 milhões) para que Canaã enxugue as lágrimas nesse mar de quase “calamidade financeira”, já que a receita está correndo sério risco de deixar a prefeitura R$ 100 milhões mais pobre este ano.

Pode ser até que fique mais pobre em relação ao ano passado, e é provável que fique. Mas vai continuar imensamente mais rica que 92% das prefeituras paraenses. O maior problema a resolver, e esse parece ser fatal, é evitar o empobrecimento da população local implementando estratégias para atração de investimentos que gerem emprego e renda, a fim de que não haja agravamento da situação. Mesmo nos anos vindouros, de bonança, quando a arrecadação voltar a crescer, o risco é a população continuar na pior. No Pará, esse tem sido um filme antigo a que Canaã, sendo jovem ou mesmo se fosse velho, teima em assistir e pedir bis.

Fonte: Fanpage  Meu Parazão

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Ei, Psiu! Já viu essas?

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