O melhor ângulo, a melhor postura, o retoque na foto, além do filtro existente nas câmeras dos celulares. Pronto. Fiquei lindo! Agora é só postar e compartilhar!
É assim que funciona. Você conhece a pessoa, convive com ela, sabe que não é lá estas coisas, mas fica admirado com a foto postada no perfil ou numa rede social. O mundo das aparências. O império da ilusão. Não é falsidade, é mascaramento da realidade. A foto é sua, mas até você queria ser a pessoa da foto.
Outro dia encontrei uns conhecidos no shopping. Foi uma situação estranha, para não dizer constrangedora. Ô povo feio. Se bem que sempre defendi a ideia de que não existem pessoas feias. Existe gosto pra tudo. Posso afirmar que uma mulher é linda, mas você pode não pensar o mesmo. Mas, voltando aos conhecidos que encontrei no shopping, fiquei sem saber o que dizer. E te afirmo uma coisa: se você não sabe o que dizer, não diga! Se disser, vai dar merda! Foi o que aconteceu e que me deixou muito constrangido ao encontrar uma mulher na praça de alimentação:
– Professor Alípio! – disse alguém…
– Opa! Beleza! Bom te ver! Há quanto tempo! (é o que sempre digo quando encontro alguém que não tenho a mínima ideia de quem seja…)
– Tá lembrado de mim?
Não existe pergunta mais aterradora que esta! Por mais que eu tivesse uma pequena lembrança do ser humano a minha frente, com a pergunta, apagou-se tudo da memória. Odeio isto! Quando encontro alguém e sinto que a pessoa está em dúvida quanto a me conhecer, me identifico logo, sito os momentos em que nos conhecemos.
Inclusive, mesmo após proceder com todo este ritual, notando que a pessoa não se recorda, paro aí. Não insisto. Dou um sorriso e um até logo. Já encontrei uma mulher que disse ter trabalhado para mim em Carajás no ano de 1994.
Puxei no meu banco de dados da memória “ruim” que tenho e nada. Não me lembrei. Pois a mulher ficou braba! “Nossa! Não se lembra de mim?” “Não! Não me lembro!” Aí quem ficou brabo fui eu. Foi um encontro horrível, um clima desconfortável. “Mas vou me lembrar…”, eu disse. Virei-me e saí, puxado pela minha mulher.
Há que se ver que eu pouco mudei nestes últimos 30 anos! Mas quem eu conheci neste período, mudou muito! Já tive centenas de empregados, mais de 25 mil alunos! Impossível me recordar de todos! Agora, imagine aqueles com quem “convivo” nas redes sociais? Como saber quem são? As fotos dos perfis e das postagens diferem, e muito, daquelas que encontro por aí. O cara posta foto do Tom Cruise e me aparece com cara de Maguila!
“Tá lembrado de mim?”
Olhei bem para ela e disse:
– Mana… Tô não, ó. Do Eduardo Angelim? – Chutei… (Dei aulas na Escola Eduardo Angelim durante 20 anos!)
– Isto! Sou da turma do Maycon, do Jeremias!
Piorou mais ainda. Vou lá me lembrar de Maycon e Jeremias! Mesmo assim, fingi que me lembrava…
– Nossa! Você tá diferente demais! Engordou, hein? Não iria te reconhecer nunca!
Para que fui dizer isto!
– Não, professor! Não tá lembrado? Eu era gorda, muito mais gorda. Fiz foi emagrecer. Fiz aquela cirurgia do estômago!
Minha mulher riu… Eu já estava para mandar a “muié” para aquele lugar… Mas, minha veia hilária de professor me fez suportar tudo…
– Égua, mana! Se você era mais gorda do que está agora, lascou! Tá viva por milagre!
Ela sorriu e disse:
– Professor… O senhor não muda, né?
Conversamos mais uns 02 minutos. Ela disse ser engenheira. Dei-lhe os parabéns, desejei-lhe sorte e vazei!
Pior que a mulher é minha amiga no facebook. Sempre curto as postagens dela. E, no face, ela só posta fotos lindas!
Aí, me aparece uma mulher gorda, totalmente diferente daquela das postagens? Poupe-me! Ninguém merece!
Isto é que dá! Caprichar na selfie e não caprichar na imagem real! Selfies: sarados, lindos; realidade: cheios de banha, mal cuidados! Selfies: bronzeados ao extremo, sem rugas, jovens; realidade: brancos iguais a vampiro, estrias e celulites a estragar a vista! Como reconhecer alguém que se transforma tanto?
Ainda bem que sou lindo, sarado e charmoso. É só ver as minhas selfies! Mas só as selfies…