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Coluna do Alípio Ribeiro: Honestidade X Necessidade

Alípio Ribeiro - Colunista

A necessidade justifica a desonestidade? A honestidade envolve um conjunto de características de uma pessoa, como falar a verdade, não ficar calado diante de uma situação que sabe ser inverídica. Quem é honesto detesta, rejeita a malandragem e aquele que gosta de levar vantagem em tudo. Hoje em dia, a honestidade está em baixa, os honestos são chamados de otários e, até, humilhados por pessoas desonestas ou de pouca honestidade.

Fiz um teste de honestidade numa escola de ensino médio. Eu não planejei isto. Foi por acaso. Antes de entregar as provas para os alunos e corrigi-las com eles, eu já tinha lançado as notas no sistema. Um aluno, por uma rede social, havia me perguntado a nota dele da prova. No entanto, ao acessar o sistema, ele percebeu que a nota estava abaixo da que eu passara para ele. Ao ser informado do assunto, corrigi a nota. Imediatamente me veio a ideia de alterar algumas notas para mais de alguns alunos. Então, aleatoriamente, alterei as notas, nas provas, de 05 alunos por turma. Nas salas, pedi aos alunos que acompanhassem a correção das provas, verificassem se havia algum erro nas somas dos valores das questões e me informassem. Ainda salientei que, se o erro fosse para prejudicar o aluno, ou seja, se os alunos tivessem acertado 06 questões e eu tivesse dado a nota de 04 acertos, eles, certamente, viriam pedir para corrigir as notas baixas e aumentá-las. Mas, que eu duvidava se algum aluno honesto viria pedir para baixar a nota por eu ter errado e lançado uma nota maior.

Você, leitor, já deve imaginar o resultado. Fiz isto em 06 turmas. 05 alunos por turma, ou seja, 30 alunos entre uns 200. Eu, realmente, não esperava que qualquer deles viesse pedir para corrigir a nota maior, haja vista que o aluno tirara uma nota menor. Para minha surpresa, uma aluna, bem discretamente, veio até mim e me disse: “professor, o senhor errou minha nota. Eu acertei só uma questão. Minha nota é 0,5 e o senhor me deu 4,5. Fiquei com 9,5, mas não mereço. Minha nota tem que ser 5,5.” O nome desta aluna, que me autorizou citá-la, é DANIELE BEZERRA FERRAZ. Eu fiquei sem ação diante daquela postura humilde e honesta. Ela parecia ter vergonha da honestidade, pois sairia prejudicada por isto. Discretamente também, corrigi a nota dela, mas dei-lhe 7,5 no lugar de 5,5. Ela sorriu feliz.

Na semana seguinte, depois de todas as provas corrigidas e de ter reforçado para os alunos que informassem algum erro na soma dos valores das questões, li um texto sobre honestidade para eles. Depois da leitura, que fiz ao término da aula, eu disse: “Meus queridos, eu alterei as notas, para mais, de 30 alunos desta escola! Dei-lhes a oportunidade de me procurarem para corrigir o “erro”. Eu temia pelo resultado. Apenas 02 alunas me procuraram para dizer que as notas lançadas estavam maiores. 28 de vocês foram desonestos. Como estes 28 vão educar os filhos que tiverem? Como poderão lutar contra a corrupção ou fazer uma oração na igreja? Eu vou rasgar a folha onde anotei os nomes deles. Mesmo porque lancei no sistema as notas corretas. Repensem a atitude de vocês. Que sirva de lição para que prossigam com honestidade. Eu sei, pois foi um teste que fiz com vocês. Mas não se preocupem. Além de mim e de vocês, só Deus para saber. Mas quero que reflitam. Quem furta um real de um rico é tão ladrão quanto quem furta um real de um pobre? Quem mente dizendo que estava na casa de um amigo, mas estava na rua namorando é tão desonesto quanto quem diz que estava na escola e estava na rua praticando crimes? ” Virei as costas e saí. As turmas ficaram em silêncio profundo.

Apenas a Daniele permitiu a divulgação do nome. Outra aluna também me procurou para dizer que a nota dela era mais baixa que a que constava na prova. Uma adventista, mas pediu para não ser citada.

O objetivo de minha experiência foi fazer com que os alunos refletissem sobre o assunto. Ninguém foi prejudicado. Aliás, foram beneficiados. Nem me lembro mais dos alunos que não foram honestos. Joguei a lista fora. Mas eles sabem. O que eles farão daqui pra frente dependerá da educação familiar que tiverem. Talvez eu tenha contribuído para a formação de caráter deles. Quem sabe?

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Ei, Psiu! Já viu essas?

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