A Polícia Federal faz nesta terça-feira (23) busca e apreensão na casa e no gabinete de um conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios do Pará (TCM-PA) em uma operação que apura se ele recebeu propina em contas bancárias.
A operação Nibelungo foi autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), que também afastou o conselheiro do cargo e bloqueou os bens dele. Em nota enviada ao G1, o Tribunal de Contas afirmou que “já acatou as determinações do STJ” (leia mais no fim da reportagem).
De acordo com a PF, há provas – e-mails, documentos e comunicações – de que o conselheiro “mantinha estreito contato com os membros da quadrilha” e usou o cargo para elaborar um parecer que aprovou um primeiro contrato fraudulento firmado entre o município de Parauapebas (PA) e um escritório de advocacia investigado na ação.
“Em troca, o conselheiro recebeu, entre os anos de 2013 e 2015, pelos menos cerca de R$ 2,8 milhões em 36 transferências bancárias feitas pela quadrilha, utilizando-se de uma rede de familiares, sócios e funcionários, para dissimular a origem desses valores”, afirmam os investigadores da Superintendência da PF no Distrito Federal.
Além do conselheiro, “sócios e pessoas próximas a ele” também são alvos dos cinco mandados de busca e apreensão. De acordo com o inquérito, elas teriam usado as próprias contas bancárias para intermediar o recebimento das propinas.
O nome do conselheiro do TCM-PA não foi divulgado pela Polícia Federal nem pelo tribunal, porque o caso corre em segredo de justiça.
Os personagens
- Escritório de advocacia: segundo a PF, o escritório “comandado pela quadrilha” recebeu R$ 41 milhões em honorários referentes a um contrato com o município de Parauapebas.
- Sócia do escritório: ela era responsável por repasssar parte dos valores aos outros integrantes do grupo, “especialmente servidores públicos corruptos”. Foram identificadas 36 transferências bancárias, totalizando R$ 2,85 milhões.
- Conselheiro: de acordo com a investigação, todo este dinheiro, que acabava “espalhado” para dificultar a identificação da propina, terminava voltando para o conselheiro do Tribunal de Contas.
A origem
A operação Nibelungo é uma alusão à mitologia nórdica. “Os nibelungos eram os senhores das riquezas subterrâneas. Eram de tal forma obcecados por se tornarem cada vez mais ricos, que esse pensamento, insaciável e desmedido, os conduziu a perda de tudo e a própria destruição”, explicou o comunicado da PF.
A ação é um desdobramento de outra operação da PF, a Timóteo, realizada em dezembro de 2016. Ela apura corrupção no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Segundo o inquérito, um diretor do órgão desviava a cobrança judicial de royalties para exploração mineral para aumentar o patrimônio pessoal.
Nota do Tribunal de Contas
“O Tribunal de Contas dos Municípios do Estado do Pará (TCM-PA), em respeito à opinião pública, esclarece que, acerca das ações executadas, na data de hoje (23), por determinação do E. STJ, vinculados às Operações Timóteo e Nibelungo, que preservadas suas prerrogativas e jurisdição e consagrando a transparência pública, sempre colaborou com o Poder Judiciário e Ministério Público Federal, prestando informações e disponibilizando todos os documentos requeridos, para melhor esclarecimento dos fatos.
O Colegiado do TCM-PA espera ver elucidados todos os fatos sob investigação, ainda em fase de inquérito, tendo plena convicção da aplicação célere e escorreita da justiça pelo Superior Tribunal de Justiça, assegurado o contraditório e a ampla defesa do Membro desta Corte, quando o mesmo terá a oportunidade de apresentar esclarecimentos, no que confia na independência e fortalecimento das instituições e esferas de controle da administração pública brasileira.
Por fim, o TCM-PA informa que já acatou as determinações do STJ, adotando as providências administrativas sob sua responsabilidade.”