Pioneira de Parauapebas, Dona Francisca, moradora do Rio Verde, recebe “Odilonzinho do Povo” e afirma: “A fé é quem cura”. A cada dia, essa sabedoria ancestral se torna mais rara na cidade

Em um cenário urbano onde a tradição se esvai rapidamente, encontrar uma benzedeira — a guardiã de uma sabedoria ancestral baseada na fé e na oração — se tornou um verdadeiro resgate cultural. Em Parauapebas, essa prática é mantida viva por Dona Francisca, uma pioneira mineira que, prestes a completar 90 anos em julho de 2026, continua sendo um refúgio para aqueles que buscam a cura e o conforto espiritual.
Nesta quinta-feira (4), a equipe de reportagens do Portal Pebinha de Açúcar acompanhou um desses momentos de fé. A figura bastante conhecida na cidade, Odilonzinho do Povo, procurou a humilde residência de Dona Francisca, no Bairro Rio Verde, para tratar um problema de pele em suas pés. Odilonzinho, que recorreu à benzedeira a pedido de sua mãe há muito tempo, tem plena confiança no poder da oração.
O tratamento é realizado em três sessões, sendo a desta sexta-feira (5) a última reza. Segundo Odilonzinho, a certeza é simples: “basta ter fé, que é curado”.
O legado da oração e a visão da cura
Dona Francisca aprendeu o ofício de benzer ainda muito jovem, herdando o conhecimento de sua linhagem familiar.
“Aprendi tudo com minha mãe, meus avós e o que eu não sabia, busquei aprender com quem sabia e até hoje venho seguindo através das rezas e com a ajuda de Deus”, disse a benzedeira.
Com a experiência de quase um século de vida, ela não tem dúvidas sobre a eficácia de sua missão: “A fé é quem cura”. Dona Francisca relata ter visto inúmeros casos de pessoas “desenganadas pelos médicos” que encontraram a cura e o alívio através de suas orações.
A tradição em risco de desaparecer
Apesar da disposição em ajudar quem a procura, Dona Francisca lamenta o risco que a prática corre de ser esquecida. Ela observa que as novas gerações não estão sendo preparadas para dar continuidade a essa tradição.
“Eu acho que daqui para frente as coisas estão piorando, os velhos estão morrendo e os novos não estão sendo orientados pelos pais. Minha criação foi essa, e a minha família era da oração e da santidade. Minha mãe colocava nós para rezar desde quando a gente se alimentava”, lembrou.
Ainda assim, a benzedeira reitera sua disponibilidade. Dona Francisca recebe vários casos em sua casa no Bairro Rio Verde, mantendo acesa uma das mais antigas formas de cura e consolo: “Se alguém precisar de oração, pode vir aqui”, finalizou a anciã.














