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Indios Carajás migram para o município de Piçarra

Cerca de 200 índios tocantinenses, majoritariamente índios Carajás, migraram do estado do Tocantins para o município de Piçarra neste último final de semana, o objetivo da viagem foi realizar um ritual centenário com anciãos e curumins da tribo. O ritual envolve diversas atividades, dentre elas a degustação de uma comida típica à base de tartarugas.

“Todos os anos saímos da aldeia nesse período geralmente em direção ao rio Araguaia para manter viva as nossas tradições de brincar com os anciãos e ensinar os curumins durante três dias”, explica o cacique Borori. Há alguns anos o destino desses índios tem sido às margens do rio Araguaia, próximo a vila do Cabral, município de Piçarra, eles trazem suas canoas e utensílios de pesca; todavia, esta migração estava gerando um impacto ambiental extremamente negativo, uma vez que a quantidade de índios que chegam ao município é grande e, ao chegar, eles começam a pescar desenfreadamente tanto peixes como tartarugas e tracajás, de todos os tamanhos, isto desencadeia um desequilíbrio ecológico, principalmente no caso dos quelônios, já que neste período está ocorrendo a desova desses animais, que se forem abatidos, deixarão de repovoar as águas do Araguaia.

Por isso, o município de Piçarra desenvolve o projeto ‘Araguaia, nosso rio, nossa vida’, cujo um dos objetivos é a preservação exatamente desses quelônios. Segundo o ambientalista César Peres, coordenador do projeto, a abordagem aos índios era muito difícil há alguns anos, todavia, este ano o contato foi o mais amigável possível. “Não podemos ordená-los que parem de comer tartarugas, já que isto faz parte do cardápio deles há várias gerações, vale ressaltar também que estes índios chegaram aqui na região do Carajás muito antes de nós, e também a ‘caça e pesca’ deles não foram responsáveis pela redução dessas espécies, se a população de quelônios reduziu, muito se deve ao próprio homem branco que pesca-os para vender, e não para o consumo, mas unidos podemos promover uma relação de equilíbrio e educação ambiental”, conta César.

Uma equipe da secretaria municipal de Meio Ambiente e Turismo (Semmatur), sob a supervisão do secretário Nivaldo Venâncio, foi até o local onde os índios estavam acampados e flagraram três tartarugas matrizes já em cativeiro para serem abatidas. “Fizemos uma abordagem amigável e pedimos para falar com o cacique, mas ele não estava, então esperamos ele chegar e aproveitamos para conversar um pouco com os índios caçadores sobre o nosso projeto de preservação”, explicou Nivaldo.

Após uma longa conversa em que o cacique Borori e sua esposa detalharam do que se tratava a migração, Piçarra e índios conseguiram chegar a um acordo proveitoso para ambas as partes. “Essas tartarugas fazem parte do nosso prato principal nessa viagem há muitos anos, nossa matriarca, de 102 anos, veio especialmente para comê-las”, disse a esposa do cacique.

O acordo firmado incluiu responsabilidade aos dois lados. No caso de Piçarra, o prefeito Wagne Machado explicou que poderia colaborar com a estadia dos indígenas, para tanto, o município doou uma novilha, providenciou lixeiras ecológicas, banheiro e combustível; já os índios se comprometeram em soltar as matrizes apreendidas e contribuir para a preservação dos quelônios, não abatendo mais as tartarugas matrizes e também soltando peixes muito pequenos. “Nós temos um sentimento de preservação natural, não queríamos fazer mal a este lugar, agradecemos pelo apoio e pelo nosso comum entendimento, índio precisa da selva para viver, mas quer que a selva viva também”, encerrou Borori.

No sábado, 15, César Peres esteve presente junto aos índios durante o dia todo, e pela noite ministrou uma palestra sobre o manejo consciente dos quelônios; já os índios fizeram a apresentação de suas danças e também de uma luta. No domingo bem cedo os índios iniciaram o regresso ao Tocantins.

Wagne Machado avaliou de forma positiva a parceria recém-firmada com os índios, sobretudo, por se tratar de uma tribo nativa e pioneira na região. “Canaã dos Carajás tem sido nosso grande amigo no que diz respeito aos cuidados do Araguaia, por isso, sou também muito grato ao prefeito Jeová Andrade, entendo este contato com os índios como uma grande conquista do projeto, fico extremamente feliz ao ver que recepcionamos os índios de uma forma nunca vista antes aqui e sei que daqui pra frente esta relação só irá melhorar. A natureza, Piçarra e Canaã agradecem”, disse Wagne.

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