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PARAUAPEBAS: 2.836 trabalhadores foram parar no ‘olho da rua’ apenas em dezembro

O município de Parauapebas, regionalmente conhecido como “Capital do Minério”, colocou os pés em 2017 trazendo consigo um fardo negativo de que jamais se esquecerá: é o lugar da interior do Pará que mais demitiu ao longo do mês de dezembro de 2016, somando-se os desligamentos processados nas empresas com carteira assinada e no serviço público. Os dados são do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), por meio de seu Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), e de sindicatos de servidores locais, conforme os quais o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) firmou no final do ano passado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a prefeitura para demitir temporários e, assim, adequar a folha de pagamento.

Segundo os números do Caged divulgados no último final de semana pelo MTE, Parauapebas desempregou 1.128 trabalhadores com carteira assinada ao longo dos 31 dias de dezembro. É a maior quantidade de trabalhadores celetistas demitidos num único mês da história de quase três décadas desta que já foi considerada uma das terras de oportunidade mais dinâmicas do Brasil. É, também, quatro vezes e meia o total de demissões ocorridas em dezembro do ano passado — 264, ao todo.

Fora as demissões com carteira assinada, a Prefeitura de Parauapebas demitiu, antes mesmo de dezembro terminar, 1.708 trabalhadores temporários, que agora marcham rumo ao Morro dos Ventos atrás de retornar ao cargo no novo governo que se iniciou, mas sem muitas expectativas, particularmente diante de uma conjuntura financeira que não é favorável ao executivo e pela própria supervisão do MPPA, via termo de compromisso.

NÃO HÁ VAGAS

Se você é mais um à procura de emprego formal em Parauapebas, vá colocando as barbas de molho e não se anime muito. E quem está empregado fique esperto: vêm mais demissões por aí. De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, não tem nada para ninguém nas ocupações de montador de máquina, soldador, servente de obras e vendedor de loja. Pode esquecer. Essas ocupações são as que mais demitem mês a mês porque não há demanda de máquinas para montar; não há demanda de soldagens para fazer; ninguém se atreve a construir grandes sonhos; e as lojas nunca faturaram tão pouco e, por isso, se não lucra, corta curtos, e o empregado é um deles. Auxiliar de escritório, auxiliar administrativo, eletricista, pedreiro, caldeireiro e repositor de mercadorias também são outros cargos que viraram as costas para o povo de Parauapebas.

Nos últimos quatro anos, o município despejou nas ruas 10.378 novos desempregados, considerando-se apenas trabalhadores com carteira assinada. Se forem considerados os demitidos de pessoas jurídicas com regime próprio de contratação, as demissões totais sobem para 13 mil no período.

As duas maiores empregadoras municipais, a mineradora multinacional Vale e a Prefeitura de Parauapebas, puxaram o freio de mão das contratações para não capotarem num cenário de crise. A Vale promoveu desinvestimentos por todos os lados, demitiu muitos trabalhadores lotados nas minas de Serra Norte (porção de Carajás que fica em Parauapebas) e priorizou seu megainvestimento S11D, na mina de Serra Sul (porção de Carajás que fica em Canaã dos Carajás). Não há qualquer novidade para Parauapebas, uma vez que a capacidade operacional de exploração das jazidas de N4 e N5 foi alvo de expansão num passado não muito distante e arregimentou milhares de trabalhadores. Segundo o MTE, 13.855 trabalhadores foram empregados em Parauapebas nos tempos de bonança, entre 2010 e 2012, um recorde positivo regional.
Com a queda e a instabilidade do preço do minério de ferro — que saiu da máxima histórica de 191,70 dólares em 15 de fevereiro de 2011 para a mínima histórica de 38,54 dólares em 15 de dezembro de 2015 —, a Vale passou a preocupar-se mais em fazer caixa e otimizar seus custos de produção. Demitir não é regra, mas se tornou uma das saídas. Ainda assim, a empresa mantém-se como a maior empregadora privada da região.

Já a Prefeitura de Parauapebas, que finalizou 2013 como a maior empregadora pública da região, superando até a centenária Prefeitura de Marabá, também deu sinais de cansaço na absorção de pessoal no apagar das luzes de 2016. A queda gradativa de receitas, notadamente transferências constitucionais, e o custo elevado de sua folha de pagamento, com servidores recebendo salário marginal de até R$ 70 mil líquidos, “empobreceram” uma das prefeituras mais ricas do Brasil. A arrecadação total da Prefeitura de Parauapebas encerrou 2016 como a menor dos últimos cinco anos.

TEMPOS OUTROS

Em 2012, a prefeitura tomava conta de 166 mil habitantes estimados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); havia apenas 12 mil desempregados, a maioria jovens; e a receita do executivo local fechou o ano em R$ 905,5 milhões. Era praticamente um mar de dinheiro, num cenário favorável.
Quatro anos se passaram, e eis que a prefeitura tinha 30 mil habitantes a mais para cuidar; viu surgir 28 mil novos desempregados (13 mil trabalhadores perderam emprego e 15 mil jovens se emanciparam à idade de trabalhar, mas sem oportunidade) para se somar aos 12 mil de antes; e a receita decresceu, fechando 2016 em R$ 885,6 milhões.

Tudo isso é muito grave, uma vez que, com menos receita e mais demandas por emprego e renda, a pressão social aumenta e, com ela ou por meio dela, aumentam também os índices de precariedade, bastante visíveis na saúde (com a proliferação de doenças e, bem assim, a falta de leitos hospitalares) e na segurança pública (com a ascensão de números de furto, roubo, agressão física e homicídios). O processo de favelização também é causa e ou consequência desse desarranjo.

Evidentemente, ainda há muita água para rolar debaixo da ponte de 2017, que liga Parauapebas a uma oportunidade incerta e não sabida, mas acreditada por milhares de habitantes. O poder executivo já sinalizou projetos importantes, que podem gerar emprego e renda, uma vez saídos do papel. Agora é continuar contabilizando o número de desempregados, que disparou nos últimos anos, enquanto a oportunidade de contar o que é bom, no tocante ao mercado de trabalho, não vem.

Reportagem: André Santos – Colaborador do Portal Pebinha de Açúcar

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