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Parauapebas dá ao Brasil o maior e melhor lucro no mês de janeiro

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior divulgou ontem, sexta-feira (28), o “saldão” da Balança Comercial brasileira por município para o mês de janeiro deste ano, e Parauapebas, a “Capital do Minério”, desfila em primeiríssimo lugar tanto por exportar mais quanto por ilustrar o maior superávit (saldo positivo) na balança. As transações comerciais são computadas em dólar (US$).
No primeiro mês de 2014, Parauapebas vendeu a gringos de 14 países um total de US$ 864.348.724 – minério de ferro e manganês purinhos e simplesmente. É o melhor janeiro da história das finanças do município para a mineradora Vale, o que mostra recuperação da produtividade das minas de Serra Norte após um 2013 de produção menor em relação a 2012 e 2011.
O que foi vendido em minérios pela Vale, em dólar, apenas em janeiro deste ano seria suficiente para comprar os mesmos recursos minerais de todo o ano de 2003, quando foram vendidos, em 12 meses, US$ 733.011.005.

Assim, como o município importou apenas US$ 9.259.682 em produtos e serviços, o Brasil lucrou US$ 855.089.042 nas costas de Parauapebas, muito mais que em janeiro de 2013, quando o superávit do município ficou em US$ 710.859.671.
Atualmente, nem as colossais metrópoles São Paulo e Rio de Janeiro, tampouco as poderosas cidades portuárias de Vitória (ES), Santos (SP) e Itajaí (SC), são páreo para a “Capital do Minério”, cuja população chega a 184 mil habitantes em 2014 e é, portanto, menor que o número de habitantes dos tradicionais rivais da balança nacional.

MELHOR FERRO
China comprou 64% dos minérios de Parauapebas no começo deste ano

Em janeiro, a Vale vendeu nada menos que 87,71% do minério de ferro de Parauapebas aos asiáticos. A China sozinha – que em janeiro de 2013 participava de 57% das transações – aprimorou o apetite por minério e arreganhou a boca para sentir o gostinho brasileiro do melhor teor de hematita do mundo. Agora, os chineses consomem 64% de tudo o que é produzido em Serra Norte, e esse consumo, traduzido em dólar, significou 554,4 milhões apenas deles no início deste ano.
Os japoneses vêm em segundo lugar, comprando 10,85% da produção municipal. Os sul-coreanos, que sequer se interessavam por Parauapebas até dezembro de 2013, acabaram de comprar 9,42% dos minérios, seguidos pelos taiuaneses, que negociaram 3,3% dos recursos minerais.

Na lista dos gigantes paraenses da exportação nacional, ainda despontam: Barcarena, cujos maiores “representantes comerciais” são a alumina calcinada e o alumínio não ligado, que deixam canadenses, estadunidenses, japoneses, noruegueses, islandeses e argentinos louquinhos; Belém, que vende de boi e búfalo vivos a pimenta malagueta e óleo de dendê, commodities apreciadas, majoritariamente, pelo pessoal da Venezuela, da Colômbia, dos Estados Unidos, da China e de Hong Kong; Canaã dos Carajás, a partir de onde a mineradora Vale passou para frente o cobre da mina do Sossego a alemães e búlgaros; e Marabá, que em janeiro teve nove parceiros comerciais interessados em ferro fundido, carne desossada e no manganês da mineradora Buritirama.
A contabilidade da colossal venda de cobre do projeto Salobo, de Marabá, não aparece na balança de janeiro, o que deve deixar a eterna “Capital do Carajás” entre os 50 maiores exportadores na apuração comercial de fevereiro.
NA GALHA DO PAU
Pebas que rendeu quase US$ 1 bi é o mesmo onde 2.260 perderam emprego

Se tudo em Parauapebas vai bem, obrigado, com “suas” transações comerciais fora dos limites municipais (ou melhor, lá no Oriente), dentro do município nada há de realidade maravilhosa. É simples: o maior exportador e superavitário de janeiro também é um dos municípios que mais desempregaram no mesmo mês. É um contrassenso cruel [não ver] quase 1 bilhão de dólares saindo velozmente pelo trem em apenas 31 dias e, ao mesmo tempo, [perceber] 2.260 cidadãos indo parar no olho da rua, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
O primeiro mês deste ano segue o ritmo de 2013, que fez de Parauapebas o segundo maior “desempregador” nacional. E nem adianta expor números de trabalhadores admitidos, porque o saldo – entre quem arranjou e quem perdeu emprego – é negativo.

Em janeiro, o “jacaré comeu” 49 postos de trabalho na mineração da Serra dos Carajás, 130 postos nas indústrias instaladas na cidade, seis postos no campo e outros seis em serviços de utilidade pública. Mas o maior baque mesmo está na área da construção civil, cujo setor – potencializado por construção de prédios, casas de aluguel e quitinetes – viveu apogeu entre os anos 2000 e 2011, fazendo Parauapebas desfilar em jornais e revistas nacionais como a cidade que apresentou maior taxa de construção de novos imóveis na década passada.
Hoje, além da baixa nos preços de aluguel e venda de imóveis, 955 operários e técnicos da construção civil foram mandados à rua da amargura apenas em janeiro, o que demonstra a quebradeira no setor imobiliário local.
Como efeito, o comércio, onde tradicionalmente os trabalhores gastam o que ganham, é o segundo setor que mais demite, tendo desligado 559 trabalhadores no primeiro mês deste ano, apenas quatro demissões a mais que o setor de serviços, no qual o rodo passou em 555 postos de trabalho, embora seja este o único setor em que, no momento, se possa ter a possibilidade real de ser empregado.
Com “lucro” médio de 433 trabalhadores desligados por mês em 2013 e 325 já no primeiro mês deste ano, a situação é crítica. Isso porque o município recebe ou vê nascer, mensalmente, 630 novos habitantes. E se, para quem mora no município e está empregado, a coisa está ficando difícil, para quem chega, não será diferente; e pior: quem chega na ilusão de arranjar emprego fácil preenche todos os requisitos para fazer volume às estatísticas cruéis e negativas de desemprego.

Enquanto isso, o município segue gerando uma média de 28,5 milhões de dólares por dia em troca do minério apreciado pelo mundo todo, sobretudo do lado de lá do Pacífico. Entretanto, esses tantos milhões de dólares, que enfeitam a balança do Brasil, não têm efeito prático à vida da população local. Parauapebas: pobre rico – e em crise grave – município.

Reportagem especial: André Santos

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