O preço do minério de ferro está prestes a cair, de novo, para menos de 50 dólares a tonelada, e isso traz terror às finanças de Parauapebas, município que é o maior produtor mundial da commodity com teor de pureza superior a 62% – que é a referência de negociação no mercado.
Este ano, o minério de Parauapebas – que tem prêmio em torno de 5 dólares em relação a minério de outros lugares por causa de seu elevado grau de pureza, que toca 67% – chegou a ser vendido lá fora por 70 dólares a tonelada no mercado à vista. Hoje, porém, o preço médio encerrou em 50,41 dólares e a cotação do prêmio para o produto de Serra Norte, aqui no município, ficou abaixo de 55 dólares.
Na prática, implica dizer que, caso o preço da commodity continue a despencar, Parauapebas terá uma perspectiva econômica difícil, ao menos em termos de recolhimento de royalties de mineração, que já foram outrora (em 2009, 2011 e 2013) a principal fonte de receitas local, superando a arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
A Prefeitura de Parauapebas espera receber até o último dia deste ano R$ 260 milhões como cota-parte de royalties de mineração. De janeiro a maio, o Executivo municipal viu entrar na conta-corrente R$ 76,7 milhões, recebidos todo dia 5 ou 6 de cada mês. Até dezembro, considerando-se a média de arrecadação mensal, poderão entrar no caixa mais R$ 107,4 milhões – totalizando R$ 184,1 milhões ao longo deste ano, ou seja, R$ 76 milhões a menos que o projetado pela prefeitura. Poderão, mas, na atual circunstância, o prognóstico não deve se concretizar.
ROMBO
Com o retorno do preço do minério para menos de 50 dólares e o piso do dólar entre R$ 3,50 e R$ 3,60, mesmo mineradoras gigantes, como a Vale, vão precisar se rebolar para fazer caixa. Por tabela, municípios como Parauapebas, que dependem exclusivamente da mineração de ferro, poderão sofrer consequências financeiras drásticas, já que a cota-parte dos royalties diminui significativamente.
O dólar já chegou a R$ 4, mas a cada 50 centavos de dólar a menos, Parauapebas perde algo em torno de R$ 2 milhões em royalties, considerada uma produção mensal de 10 milhões de toneladas de minério de ferro e que seja vendida a 60 dólares a tonelada. Quando tudo cai – preço do dólar e preço do minério –, aí o rombo no recolhimento dos royalties é mais agressivo.
Entre os fatores que derrubam o preço minério no momento está a produção siderúrgica. Nos 66 países que mais produzem aço, foram fabricadas 134,9 milhões de toneladas em abril (0,5% a menos em comparação anual). Na China, o crescimento sobre o mesmo mês do ano passado foi de 0,5%, para 69,4 milhões de toneladas, mas houve recuo de 1,7% no comparativo com março.
Na China, aliás, a bobina a quente, produto de referência do mercado mundial, chegou a ser vendida a 480 dólares por tonelada este 2016, mas já se aproxima do patamar de 340 dólares. Siderúrgicas locais devem voltar a operar no vermelho.
Enquanto isso, analistas de mercado preveem que o minério encerrará 2016 com média de preço abaixo de 50 dólares – entre 45 e 48 de piso. Se isso, de fato, se concretizar, o rombo nas contas de Parauapebas, ao menos em se tratando de recolhimento de royalties, será superior a R$ 100 milhões.
Em 2015, o recolhimento total ficou em R$ 150,7 milhões. Este ano, caso o dólar se mantenha no patamar atual e o preço do minério continue a cair, dificilmente atingirá esse valor.
Reportagem: André Santos – Colaborador do Portal Pebinha de Açúcar