Diferente da eleição municipal ocorrida em 2016, quando o número de vereadoras dobrou de duas para quatro, nas eleições deste ano, 2020, mostrou um decréscimo na preferência dos eleitores pelas candidatas, tendo em vista que apenas uma mulher foi eleita, o que representa apenas 0,67% do total de cadeiras.
Na legislatura de 2013 a 2016, as duas vereadoras que compunham o parlamento municipal eram: Luzinete Batista (PV) e Eliene Soares (MDB); já em 2016, a Câmara Municipal de Parauapebas ganhou o reforço com a eleição de Joelma Leite (eleita no PSD), Francisca Ciza (eleita no DEM) e Kelen Adriana (PTB), e a reeleição de Eliene Soares (MDB); já que Luzinete Batista não se reelegeu, o parlamento ficou com quatro vereadoras, o que representa 26,66% de um total de 15 cadeiras existentes.
E não foi por falta de opções femininas, pois, dos 427 candidatos, 140 eram mulheres, o que representa 33% do total. O que, na opinião da jornalista Amparo Borges, se não fosse obrigado por lei, certamente elas estariam ainda mais longe dos cargos públicos. “É inadmissível que, em uma cidade aonde praticamente metade (49,1%) do eleitorado é feminino, apenas uma mulher tenha sido eleita. É fácil para uns e outros apontarem o dedo e dizer que isso, como sempre, é culpa das próprias mulheres que não se unem”, afirmou Amparo, acrescentando que seria a desculpa perfeita para camuflar o machismo contido nessa avaliação.
A jornalista observa ainda que quem critica esquece de analisar o cenário que os partidos políticos montaram dentro das coligações; cujas estratégias, em sua avaliação, beneficiaram apenas e tão somente os candidatos homens. Ela lembra ainda que, em 2020, um dos assuntos mais comentados, fora a pandemia da Covid-19, foi o empoderamento feminino e combate ao machismo real e o estrutural. “As mulheres devem ocupar mais cargos públicos para ter pelo menos a chance de mostrar o quanto são capazes, são preparadas e podem fazer a diferença dentro do processo. E ninguém melhor do que a própria mulher para conhecer as suas necessidades e defendê-las. As políticas públicas para as mulheres precisam sair do papel de forma macro e eficaz. Na teoria, elas são lindas, mas na prática, não alcançam quem de fato precisa”, afirma Amparo Borges, prevendo que, estando no poder, a mulher tem como direcionar a gestão por esses caminhos que as levarão para a solução dos problemas.
Ainda falando de cotas com percentual obrigatório destinado às mulheres, Amparo Borges é clara: “Num universo de partidos comandados só por homens ricos e poderosos que selecionam à dedo os candidatos (machos) com potencial de votos para montar uma chapa forte, e mulheres só para preencher coeficiente, exigir medida de força entre homens x mulheres é uma tolice sem tamanho”. E segue mensurando que esse resultado só mostra o que as mulheres vivem todos os dias em um mundo dominado pelo machismo estrutural.
A jornalista diz entender que Eliene Soares, única mulher eleita na Câmara de Parauapebas, foi a exceção por ter em sua bagagem a experiência de dois mandatos, indo agora para o terceiro, e um histórico pautado em muito amor, dedicação, trabalho e fé. “E no mais, em qual outra chapa/partido a mulher foi privilegiada? Abraçada pelo partido? Porque só os candidatos, homens, merecem apoio e investimento?”, indaga Amparo Borges, admitindo que sempre defendeu votos em mulheres, mesmo tendo amigos maravilhosos que se elegerem e outros que se reelegeram.
Mas, Amparo Borges reconhece que o voto é consequência de muito trabalho, em todos os sentidos e independente de gênero. Mas, diz ser preciso que alguns homens desçam do pedestal e vejam a mulher com a significância e relevância que ela merece. “A câmara perde muito tendo só uma mulher lá dentro. Isso é péssimo para toda a sociedade”, conclui.