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Produção de cacau paraense cresce e pode firmar liderança no cenário nacional até 2020

O Pará este ano alcançará pela primeira vez o topo do ranking de produção de cacau no Brasil. A tomada de dianteira ainda é temporária. Isso porque a Bahia, o maior produtor do País, sofreu com a forte estiagem deste ano e teve uma quebra na safra prevista. Ainda com uma área plantada maior que a do Pará, que é hoje o segundo maior produtor nacional de cacau, estima-se que a Bahia se recupere dos efeitos da seca – o que permitirá que retome a liderança ainda na próxima safra.

Ainda que provisória, a chegada do Pará à liderança da produção cacaueira nacional é um grande termômetro dos avanços significativos colhidos pela lavoura paraense nos últimos cinco anos – mesmo que o Estado agora seja favorecido pelo revés climático sofrido pela Bahia. Ela expõe um panorama onde, encostando cada vez mais nas lavouras baianas, o Pará deve, em breve, se firmar definitivamente no primeiro lugar da produção cacaueira nacional. E isso está acontecendo através de uma peculiar combinação de esforços cooperados e condições muito oportunas para a produção paraense.

Além de parcerias entre o Governo do Estado e entidades governamentais, privadas e do terceiro setor para que a assistência técnica chegue às lavouras,o protagonismo da rede de pequenos produtores – que é a grande força da produção paraense -, as boas experiências do cacau em modelos agroflorestais de plantio e as condições geográficas, de solo e clima da Amazônia, são hoje os grandes trunfos da virada do cacau paraense, esperada para breve.

Avanços

Em cinco anos, a produção cacaueira do Pará cresceu de 68,4 mil toneladas produzidas ao ano para 105,8 toneladas anuais – o que confere ao Estado uma participação de 42% na produção nacional. O crescimento médio da produção local é de 13% ao ano. Além disso, houve uma expansão de 38% da área cultivada paraense desde o início do Programa de Desenvolvimento da Cacauicultura no Pará (Prodecacau), em 2011.

A renda circulante da produção cacaueira entre os produtores do Estado também cresceu 146%, em especial como reflexo da progressiva elevação do preço do cacau no mercado internacional. “Essa assunção do Pará frente à Bahia ainda é episódica, determinada por fatores climáticos que causaram uma brutal queda da produção baiana este ano. Mas é importante ressaltar, apesar disso, a consistência do crescimento da produção paraense de 2011 para cá, após a implementação do Programa de Desenvolvimento da Lavoura Cacaueira no Pará”, destaca o secretário Hildegardo Nunes, que está à frente da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca do Pará (Sedap). “Com isso, temos apresentado crescimento médio constante, de 10% a 13% ao ano. E isso tem permitido que já se pense em antecipar para 2020 a projeção de que até 2023 o Pará passe a ser o maior produtor de cacau do Brasil, superando a Bahia”.

Crescimento

Este ano a produção paraense será de 120 mil toneladas de amêndoas de cacau, enquanto a Bahia espera produzir entre 107 mil e 110 mil toneladas. Em 2015, o Pará produziu entre 105 mil e 110 mil toneladas do produto, enquanto a Bahia produziu cerca de 160 mil toneladas. A queda da produção baiana, causada pela estiagem, foi significativa, mas os números mostram como o Pará está se aproximando rapidamente do topo da produção cacaueira nacional.

Há tempos o cacau é uma importante fonte de riqueza para o Estado. No século XVIII, o fruto chegou a ser o principal produto de exportação do Estado do Grão Pará. Na época, a grande demanda do mercado europeu motivou até a instalação de uma linha marítima regular ligando Belém e Lisboa (Portugal). Hoje, olhando para o futuro, uma das grandes metas do Pará é seguir ampliando a oferta de assistência técnica a produtores. No estado, cerca de 80% da produção cacaueira é derivada de pequenas propriedades baseadas na agricultura familiar, estabelecidas predominantemente em solos de média a alta fertilidade do Estado.

Uma proposta de intensificação desse atendimento será apresentada no próximo dia 9 de agosto, em reunião do Conselho Gestor do Fundo de Apoio à Cacauicultura do Estado do Pará (Funcacau). Ao todo, cerca de 1.500 famílias de pequenos agricultores produtores de cacau deverão ser beneficiadas até 2019, planeja a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural e Assistência Técnica do Estado do Pará (Emater-Pará).

É mais um passo desde que o Governo do Estado do Pará definiu a cacauicultura como um dos segmentos prioritários da política agrícola estadual, ainda em 2011, através da então Secretaria de Agricultura. Em parceria com a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), foi nessa época que surgiu o Programa Estadual de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Cacau (Prodecacau), que quer dinamizar e consolidar esta cultura.

Economia forte

Hoje a produção paraense de cacau, baseada na pequena agricultura familiar, já é uma das mais competitivas do mundo, principalmente quando se considera a produtividade média das terras plantadas (903 quilos por hectare) e o baixo custo de produção da lavoura paraense (US$ 750 por tonelada). O Estado hoje soma um universo de 30 mil produtores que têm relação com o cultivo do cacau.

“Já temos 160 mil hectares produzindo cacau no Pará, o que já asseguraria uma produção de 160 mil toneladas. Produzimos 120 mil toneladas porque parte dessa lavoura ainda não está em fase produtiva. A tendência é que se avance e o Pará chegue logo à meta estabelecida pelo programa, de 230 mil toneladas produzidas ao ano”, avalia o secretário Hildegardo Nunes. “A partir daí, vamos reavaliar o programa e as condições de expansão e manutenção, já que agora temos outro desafio, que é a melhoria da produtividade por área plantada”.

Na fase atual, o Pará busca expandir áreas de plantio. Mas chegará um momento em que a estratégia será invertida, pondera Hildegardo Nunes. “Em vez de priorizarmos a expansão de áreas, teremos que intensificar o aumento e produtividade. Já temos alguns produtores que já chegam a até três mil quilos produzidos por hectare. Se conseguirmos dobrar essa produtividade média atual, teremos condições de nos tornar em breve um grande produtor mundial, sem precisar de expansão de áreas”.

O trunfo dos pequenos produtores

Nesse esforço, a melhoria da qualidade do cacau paraense, o incremento em produtividade e a expansão do manejo e controle sanitário entram como prioridades para elevar o Estado ao topo da produção cacaueira nacional. Tudo isso tendo como prioridade os pequenos produtores do Estado.

“A produção de base familiar é um dos pontos fortes de nossa produção cacaueira. Um exemplo é o combate à vassoura de bruxa, a praga que dizima plantações em todo o Brasil. Ela tem incidência nas lavouras do Pará, mas como nosso cacau é produzido por pequenos produtores, as famílias conseguem cuidar melhor das lavouras e controlar a praga. Na Bahia, onde há grandes plantações, esse combate é mais difícil”, ressalta Hildegardo Nunes“Paralelamente a isso, já estamos fazendo uma migração do simples esforço de aumento da área produtiva para um trabalho de intensificação da assistência técnica”.

Nesse sentido, se aliam as pesquisas da Ceplac para o desenvolvimento de sementes e mudas mais resistentes, o que tem também impactado o avanço da produção paraense. Além, da Ceplac, várias outras instituições se aliam para ajudar esse crescimento, como a Emater-Pará e ONGs.

Verticalização da cadeia do chocolate

“Com a meta de até 2023 colocar o Pará na liderança da produção de cacau no Brasil, vem naturalmente a necessidade de assumir outro desafio, que já vem sendo tratado desde que ultrapassamos a marca das 100 mil toneladas produzidas ao ano. Esse novo compromisso é com a instalação de indústrias que possam beneficiar esse cacau aqui mesmo no Estado. Hoje nosso cacau é processado na Bahia. Precisamos das grandes moageiras instaladas no Pará”, avalia o titular da Sedap.

Além da manutenção de políticas de incentivo, a retomada de um projeto de apoio à instalação de pequenas fábricas para o processamento do cacau foi um dos itens da pauta de pedido de apoio levada à última audiência realizada pela Sedap com o ministro da Agricultura, no dia 30 de junho. “As instalações seriam feitas através de parcerias público-privadas, com cooperativas assumindo a gestão do funcionamento”, adianta Hildegardo Nunes. “Nosso pleito é gerar pelo menos seis instalações industriais de pequeno porte como essas no Pará, contemplando as diversas regiões do Estado onde há polos de produção”.

Vantagens no modelo agroflorestal

Dos cerca de 30 mil produtores que hoje têm relação com o cultivo do cacau no Estado, muitos não plantam apenas o fruto. Vários conciliam o produto com outras espécies, como a banana, o açaí e até com árvores de madeira nobre. E esse diferencial da produção paraense tem se tornado uma grande vantagem produtiva, com impactos positivos para a geração de renda e também para a recuperação de áreas de floresta e o desenvolvimento sustentável no Estado.

Quatro mil mudas de cacau melhorado geneticamente, doadas pela Ceplac e reproduzidas pelo escritório local Emater-Pará em Capitão-Poço, no nordeste do Pará, devem ser distribuídas entre agricultores familiares das comunidades de Nova Colônia e Igarapé Grande, em janeiro próximo, em parceria com a Secretaria Municipal de Agricultura (Semagri). A meta é incentivar o plantio de cacau entre os plantadores deaçaí. A Emater quer que esse cultivo seja mais uma alternativa de renda e segurança alimentar aos produtores do município.

Os engenheiros agrônomos ressaltam: as culturas do açaí e do cacau combinam muito bem e se complementam. Quando plantados juntos, crescem melhor, com solos mais ricos e com menor necessidade de irrigação. O modelo do plantio de cacau em arranjos agroflorestais é alvo de uma experiência da Emater já realizada em Tomé-Açu. “São diversos arranjos hoje em experiência em várias áreas do Pará. São frentes em áreas alteradas, que precisam de recomposição com a ajuda de sistemas agroflorestais. Hoje é quase obrigatório que essa recomposição seja feita com a ajuda de arranjos que aliam o cacau a pelo menos outras quatro espécies”, destaca Paulo Lobato, coordenador técnico da Emater-Pará.

Hoje o Pará experimenta arranjos onde o cacau é plantado com a banana, o açaí e também o paricá, o mogno e até a andiroba. “É fundamental que espécies arbóreas nativas também se integrem, já que objetivo é também ajudar a recomposição progressiva da floresta em áreas de grandes transformações causadas pela ação humana”, pontua Lobato. Além disso, a Emater destaca as vantagens econômicas desse modelo. “A banana, por exemplo, começa a produzir após sete a oito meses. O cacau começa a produzir em até três a quatro anos de plantio. Mais tarde, outras espécies da floresta podem gerar renda. Temos que pensar que todo arranjo agroflorestal também deve compor renda aos produtores a curto e médio prazos”, defende o coordenador da Emater-Pará.

Plantado ao lado do cacau, o açaí proporciona o tão importante sombreamento necessário à lavoura cacaueira. “A diversificação da produção é uma grande vantagem econômica e também é bom para a recomposição de áreas que já foram alteradas, com o tempo. Há melhora de qualidade do solo e também para a ocupação de área florestal, o que pode minimizar o passivo ambiental nessas áreas”.

A meta atual da Emater-Pará é expandir a área cultivada, mas principalmente viabilizar o crescimento da assistência técnica aos produtores, principalmente às maiores áreas produtoras do Estado, como a Transamazônica, São Félix do Xingu, Tucumã, Ulianópolis, Itaituba, Placas e Novo Progresso, entre várias outras. Para isso, está para ser implementado ainda este ano um projeto de parceria envolvendo o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), a Ceplac e Emater-Pará.

“O modelo de cultivo agroflorestal é uma tecnologia que vem se consolidando há anos, e é a que melhor atende nossas necessidades e mais se adequa à nossa realidade. Ainda precisamos pensar muito em como recuperar áreas e torná-las fortemente produtivas”, ressalta o coordenador técnico da Emater-Pará. “Não se vê hoje melhor resposta nesse patamar à nossas necessidades de garantia de sustentabilidade e renda para esses produtores e mesmo para regiões de pastagem. Para isso já há os arranjos agrosilvopastoris. Esse é o caminho”, garante Lobato.

Doce futuro

Enquanto a lavoura cacaueira do Pará avança com tecnologia à disposição e grandes vantagens produtivas, outro forte impulso também vem do cenário comercial externo, que aponta bons ventos de estabilidade e alta para o produto nacional. Há hoje um aumento progressivo do consumo per capita do chocolate no mundo – e a valorização do chocolate cresce também no mercado nacional. “O cacau vem ganhando novos mercados, pois o chocolate com alto teor de cacau também já vem sendo reconhecido como um alimento energético. Ele não mais é visto apenas como um doce. Já é considerado um alimento funcional”, pondera Hildegardo Nunes.

O titular da Sedap avalia que, a partir do surgimento do programa cacaueiro do Estado, já houve uma valorização do cacau do Pará. “Com participações em feiras nacionais e internacionais, estamos conseguindo demonstrar a qualidade desse cacau paraense, que ficava mascarada pela mistura que antes era feita com o restante da produção do Brasil. Isso implicou na criação de nichos de mercado interessados no cacau paraense, como a França, Japão e Áustria. Estamos conseguindo acessar o mercado internacional, com um preço de mercado muito mais vantajoso para nosso produtor”.

O grande diferencial de qualidade do cacau paraense é fruto da diversidade que proporcionam as cinco áreas distintas de produção do Estado – que significam sabores e texturas únicos. As amêndoas paraenses também possuem teores específicos de gordura e pontos de fusão diferenciados, que conferem ao produto uma maior resistência ao calor e um sabor e qualidade próprios. “A diversidade de aromas e teores do cacau paraense é um atrativo muito grande para a indústria do chocolate, que também vive seu momento de gourmetização. Os chocolates finos e de sabores especiais crescem no mercado mundial”, aponta o secretário Hildegardo Nunes, ressaltando que, para isso, também conta a origem do produto. “E é aí que o Pará vem se inserindo com muita força, oferecendo um cacau nativo da Amazônia com tipos marcantes, pelas condições climáticas e de solos de regiões de origem. Isso permite fazer chocolates com diferentes aromas, sabores e texturas. Com a produção daqui se pode produzir, por exemplo, um chocolate com cacau nativo de várzea, que só existe no Pará”.

Reportagem: Lázaro Magalhães

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