Quem não se lembra de um ranking polêmico que o portal Exame divulgou em 2014, elaborado a partir de dados secundários – e caducos – levantados pela consultoria Urban System? Pois é. Ele, o ranking, voltou.
A edição impressa da revista Exame desta quinzena, de edição número 1.100, traz Parauapebas na lista dos 100 melhores municípios brasileiros, com mais de 100 mil habitantes, onde se pode fechar um negócio qualquer – mas, veja bem, não é “fechar” correspondente a “falir”; é “fechar” que implica “consolidar”. São considerados no levantamento, entre outros, os indicadores Infraestrutura, Desenvolvimento Social, Capital Humano e Desenvolvimento Econômico.
Desta vez, no entanto, a consultoria deu um “upgrade” nos dados, atualizou-os e derrubou Parauapebas do 2º (em 2014) para o 20º lugar entre os melhores lugares do Brasil para empreendedores. As razões da queda são desconhecidas, tanto quanto as fontes estatísticas utilizadas pela empresa para compor sua base de dados.
A pontuação gerada para se chegar ao melhor município do país vai de 0 a 30, e quanto mais próximo de 30, ótima será a situação do local. Ninguém na pesquisa tirou 30, sequer metade disso. O município mais bem colocado é o paulista Barueri, na Região Metropolitana de São Paulo, com 14,99 pontos.
Parauapebas, que ano passado desfilou na vice-liderança, com 16 pontos, este ano tirou nota 11,64, metade dos quais (ou quase metade: 5,29 pontos) conseguidos por um passado de sucesso e próspero, escorado nas exportações de minério de ferro extraído pela multinacional Vale. Em 2011, ano triunfal de Parauapebas no cenário econômico nacional, a tonelada do minério de ferro chegou a 191 dólares, a Vale exportou bilhões e o município apresentou o 25º maior Produto Interno Bruto (PIB) justamente pelos dois motivos anteriores (preço do minério e valor bruto das exportações).
REALIDADE NUA E CRUA
A situação de hoje é de menos confetes e de mais preocupação. Levada a perspectiva econômica de Parauapebas a cabo, o município certamente não estaria entre os 100 melhores do país no rol da Exame. E o motivo é simples: dos 100 da lista, Parauapebas é, proporcionalmente a seu tamanho, o que mais desemprega.
Como os dados colhidos pela consultoria remetem à realidade financeira de um passado que agora se pode dizer distante (anos de 2011 e 2012), é até compreensível que Parauapebas ainda se arraste no topo, embora as próprias circunstâncias o derrubem e tentem tirá-lo de cena. Prova disso é o fato de a “Capital do Minério” ter perdido para Altamira (sede do canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, do Governo Federal) e Canaã dos Carajás (sede do maior projeto da indústria mineral do planeta, o S11D, da Vale) a função de polo de trabalho, embora o mercado dos três seja recheado, majoritariamente, de oportunidades da mesma natureza: empregos temporários, que se desfazem com a desmobilização após a implantação de determinado empreendimento.
Evidentemente, nem tudo está perdido. Já há preocupação em Parauapebas com o futuro do município, e isso vem sendo tratado, efusivamente, depois que ficou claro – para amadores e desavisados – o fato de que as benesses da mineração são como castelo de areia. A China, maior apreciadora da riqueza mineral parauapebense, tem dado alguns suspiros de cansaço econômico lá do Oriente, e o vento dos espirros vem atingindo violentamente a “Capital do Minério”. Todo mundo, que depende das ou vive nas terras daqui, está em alerta.
Se o minério de ferro do município acabasse hoje e a Vale encerrasse suas atividades, quem seria Parauapebas na fila do pão ou no ranking nacional da Exame? Qual seria o outro grande “milagre” econômico, para além das riquezas minerais, que faria Parauapebas levantar voo?
O milagre tem: sua gente. Essa é uma força motriz à espera de acontecer, bem como à espera de se engajar em matrizes econômicas que caminhem independentes da mineração.
Esse tipo de riqueza, chamada de capital humano, precisa colocar o município na dianteira nacional. Basta apenas aprender o rumo.
Reportagem: André Santos – Colaborador do Portal Pebinha de Açúcar