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Segundo município mais rico do Pará é um dos piores do Brasil em moradia

No momento em que a Prefeitura Municipal de Parauapebas vive seu inferno astral, enfrentando uma onda de manifestações de populares que reivindicam o direito à moradia, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulga números que jogam um balde de água fria no visual de riqueza e soberba da segunda praça financeira do Pará. O estudo intitulado Nota Técnica: Estimativas do Déficit Habitacional Brasileiro (2007-2011), produzido em maio e com grande repercussão nacional neste início de mês, aponta o que todos já estão carecas de saber: faltam ordenamento territorial urbano e – muito mais que isso – casas para os parauapebenses.

No Brasil, o déficit habitacional é de 5.409.210 residências (8,8% sobre o total existente), enquanto no Pará, o terceiro pior Estado em quantidade de ausência de unidades domiciliares, faltam 393.486. É como se o Estado precisasse construir cinco Marabás ou oito Parauapebas lotados de casas para tirar uma parcela da população que está – entre aluguel, morando de favor ou na sarjeta – na galha do pau.

PARADOXO TOTAL
Quem diria que o segundo município mais rico do Pará fosse posar nas estatísticas nacionais entre os 100 piores em déficit de moradias. É isso mesmo. Sem tirar nem pôr, o Ipea acaba de mostrar que o município de Parauapebas é o 87º pior em déficit habitacional. Mas não é só isso. Se for considerado o critério do “adensamento excessivo em domicílios locados”, a “Capital do Minério” é a 39ª do Brasil entre os atuais 5.570 municípios. Uma vergonha.

Os números divulgados pelo Ipea são preocupantes e revelam o descaso histórico das administrações municipais por décadas a fio, sendo elas coniventes com a especulação imobiliária, que, por seu turno, dificultou a universalização do acesso à moradia em Parauapebas. A supervalorização bestial do metro quadrado amparada por uma suposta ascensão de renda – que sequer chega a ser maior que a média brasileira e é uma das piores em distribuição interna – também contribuiu para o que se visualiza hoje: manifestações por espaços, muitos deles condenáveis e impróprios à habitação.
As quatro últimas gestões do município, nas mãos das quais passou R$ 1,18 bilhão, entre 1997 e 2012, foram incompetentes para resolver o gargalo que, em 1997, ainda era mínimo. O déficit, ao longo dos anos, tornou-se uma bola de neve e chegou ao final de 2012 a 20.725 domicílios, 18.867 deles na zona urbana. A população municipal sem casa própria é, atualmente, de 65.766 pessoas, 59.225 delas se virando como podem na cidade de Parauapebas. É quase uma cidade de Redenção (70.065 habitantes) sem teto.

NÃO É NOVIDADE
A Nota Técnica do Ipea, alardeada na imprensa nacional neste começo de mês, só reforça o que o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) “Análise da Importância da Compensação Financeira pela Exploração Mineral para o Município de Parauapebas (PA)” (disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfp4AAE/tcc-royaltiesmineracaoparauapebas>) adiantou em março deste ano na página 36 – um dos motivos pelos quais se tornou um dos TCCs mais acessados da rede Ebah e até usando como referências em trabalhos acadêmicos diversos e pesquisas em andamento.

Em linhas gerais, Parauapebas é uma bomba-relógio no que diz respeito à habitação. De acordo com o Ipea, a falta de casas para desafogar, no mínimo, o atual espectro do município chega a 9.450 unidades. Dessa conta são desconsiderados aqueles que, embora não tenham casa própria, têm condições de pagar aluguel e moram confortavelmente. O total de pessoas no município que, por outro lado, residem precariamente é de 33.962 cidadãos.

Esses números vêm a reboque de programas de habitação fracassados Brasil afora e, em nível de Parauapebas, depõem contra a imagem de uma cidade onde, entre 2000 e 2010, o “boom” da construção de apartamentos foi o maior do país, com o assustador crescimento de 7.287% – saltou de 79 unidades para 5.836.
O lado absurdo é que esse crescimento, excludente, foi feito para atender a uma parcela da classe média local que gravita em torno de uma cega visão de eternidade de minérios e riquezas, o que, ao largo das previsões, está condenada a falir.

Reportagem: André Santos

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