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SÉRIE PARAUAPEBAS 33 ANOS: Chico Brito, o primeiro administrador da “Capital do Minério”

José Francisco de Brito, ou simplesmente, Chico Brito, nasceu em Itabira (MG) em 4 de outubro de 1948 (72 anos), é filho de José de Brito e Benedita Petrina de Oliveira Brito.
O pai dele trabalhou na Cia. Vale do Rio Doce, na função de Encarregado Geral de Produção. Antes, havia sido motorista de fora-de-estrada e escavadeirista. Ele disse que teve uma infância tranquila, dedicada aos estudos. “Foi estudando, jogando pelada, aprendendo a tocar alguns instrumentos musicais: acordeom (sonho de meu pai que era fã de Luiz Gonzaga), flauta, trompete, saxofone. Mas eu queria mesmo era tocar piano”.

Chico Brito morou em Itabira até aos 11 anos. Depois foi estudar em Itaúna (MG), e Teresópolis (RJ). Ele se formou, primeiro, em “Filosofia Pura, depois, em Administração de Empresas, e estava cursando Direito, quando vim para Carajás para ficar aqui um ano”, afirmou.

O jovem mineiro, com dois cursos superiores, chegou em Carajás em março de 1981. “Motivado por aventura e pelo salário que acertei com o Diretor de Obras da Vale para vir e trabalhar por um ano. E então tranquei matrícula no Curso de Direito”, recorda.
Chico Brito casou-se com dona Maria Rosa, ainda em Itabira, antes de vir pra Parauapebas e trabalhava em Marabá. “Voltei e me casei em 1982, quando ainda estava na Coordenação de Obras da Vale, em Marabá, mas já com a minha nomeação em vias de ser aprovada pelo Presidente da República, João Batista Figueiredo, para assumir Parauapebas”, destacou. O casal tem dois filhos Graciele Brito e Francisco Jácome de Brito, e dois netos: João Victor e Lucas.

Além de administrador, o que mais o senhor fez em Parauapebas?
– Lecionei, trabalhei como consultor na área administrativa, (recuperei pelo menos três empresas que ainda funcionam até hoje). Trabalhei em grandes construtoras, como Encarregado de Custos. Em seguida trabalhei em jornais e publiquei um livro de Poesia, selecionado pela Imprensa Oficial de Minas Gerais. Sobre este livro, Carlos Drummond de Andrade fez referências elogiosas em sua coluna no JORNAL DO BRASIL e no Jornal ESTADO DE MINAS, e a pequena obra ganhou meia página de capa no Caderno de Cultura do jornal MINAS GERAIS, os dois maiores jornais deste estado.
Com isto recebi em 1979 em Itabira o Prêmio DESTAQUE DO ANO.

Chico Brito recebeu em 1979, em Itabira (MG), o Prêmio Destaque do Ano como Administrador de Empresas, antes de vir para Carajás

 

Qual foi a primeira pessoa a ter ideia da emancipação política e administrativa de Parauapebas?
– Ninguém pensara que seria possível separar esta parte mais rica do município de Marabá. Mas o aperto é que faz o sapo pular, e foi por ocupar o cargo de Administrador de Parauapebas e não aceitar o fracasso em uma missão que eu recebera que depois da destruição do Núcleo pelos garimpeiros e com a negativa de Marabá em liberar os recursos dos 10% dos impostos de Carajás que nos cabiam para a reconstrução das estruturas em nossa localidade é que eu, depois de várias tentativas junto ao prefeito e presidente da Câmara disse para eles: “Não querem pagar os 10% como manda a lei, pois vão perder 100%, porque vou emancipar Parauapebas. Aí, voltei para Parauapebas e fiz a primeira reunião com cinco pessoas que chamei, no Bar Castelinho, na Rua D, assim que cheguei.
Importante ressaltar que ninguém acreditava na possibilidade, e alguns diziam que o que eu estava fazendo era apenas joguinho político, e que a Constituição proibia a criação do município.

Como foi sua participação no Movimento pela Emancipação?
– Organizei e comandei o Movimento desde o princípio, reparti tarefas e atribuições conforme as habilidades de cada um, fui o responsável pela montagem do processo legal, e os contatos de Belém eram feitos diretamente comigo. Negociei os acordos políticos necessários, e conduzi o evento do início até a vitória. Os documentos que guardo em meus arquivos comprovam o que digo, porque isto é História, não é versão.

 

Quem eram seus parceiros nesta luta, mesmo os que já morreram?
– Para a primeira reunião que fiz, assim que cheguei de Marabá, no Bar do Clóvis, chamei cinco pessoas e expus com clareza o que acontecia e o que a nossa única saída para a situação em que Parauapebas se encontrava, seria separar o município. Seria uma luta a enfrentar.
Essas pessoas foram o Osmar Careca, o Zé da Papelaria, o Zé do Galo, o Carlão, e o Almir da Transrodovia. Estes ficaram de chamar outros para uma segunda reunião, quando já vieram o Juca, o Valdir Flausino, a Carmelita, e o Sr. Antônio, presidente do Sindicato Rural e esta ocorreu em minha casa. A partir daí o movimento tomou corpo rapidamente.
A cada reunião o grupo aumentava, tanto que precisamos fazer as demais no Clube do Morro, cedido por Gildo e D. Ana. E preciso lembrar que os maiores apoiadores financeiros do Movimento foram o Sr. Zé da Areia, o Sr. Zezinho J.R. (José Rodrigues do Vale), o Almir da Transrodovia e o Sr. Ernesto Almeida.

Quais os momentos mais importantes da sua vida na cidade?
– O mais importante foi a conquista da Emancipação do Município. Fora este, há tantos! Nos momentos marcantes para Parauapebas sempre fui entrevistado pela grande imprensa como Globo (Jornal Nacional, Jornal Hoje) e pela Gazeta Mercantil, de São Paulo.

Quais as lembranças que o senhor tem de Parauapebas do passado?
– São muitas, tantas que não dá para anotar aqui. Elas estarão expostas nos livros que publicarei neste ano no Rio e São Paulo. Um de Contos e um de História.

Como foi seu trabalho como administrador de Parauapebas? Que dia o senhor assumiu e ficou até quando?
– Assumi em fevereiro de 1983. Permaneci no cargo até o final de 1985, já em brigas com Marabá pela Emancipação. O trabalho foi de colocar, o mais rápido possível, tudo o que precisava para funcionar: Hospital, Tratamento de água e esgotos, distribuição dos lotes, abertura de ruas e seu alinhamento no Rio Verde, instalação do Ensino Fundamental e Médio, do serviço de coleta de lixo (inicialmente feito com a contratação de carroceiros), e por último busquei com o Governador Jader Barbalho a liberação da Gleba Ampulheta para o projeto de Assentamento de Colonos na área rural. Este assentamento foi primeiramente chamado Colônia Jader Barbalho e na década de 1990 teve o nome modificado para Colônia Paulo Fonteles.

O que representa Parauapebas para o senhor?
– Minha vida toda está aqui. Criei raízes. Criar raízes é próprio tanto de minha família como da família de minha esposa.

Chico Brito com sua esposa e os dois filhos

 

O que pensa sobre o futuro de Parauapebas?
– Continuamos a ter em mãos a oportunidade de fazer aqui o melhor município do Brasil. Estamos deixando passar a oportunidade.

Como vê hoje a mineração no município de Parauapebas?
– Vivemos da mineração, somos um dos municípios mais ricos do país por causa dela. Mas em uma ou duas décadas a situação irá mudar, infelizmente. E uma coisa é importante anotar: Parauapebas/ Carajás, com a maior mina de ferro do mundo no meio da floresta amazônica é a prova para o Brasil e para o mundo de que a mineração pode sim ser feita preservando o Meio Ambiente. A área mais bem preservada na região é exatamente a área em torno das minas.

O que precisa ser feito para o município não ficar dependente só da mineração?
– Falo que História é trajetória e projeto. Nossa trajetória até aqui é espetacular, mas estamos dormindo sobre os louros (ou sobre os fartos recursos que arrecadamos). Já passou da hora de começar a discutir um projeto de economia sustentável, e penso que não há outro caminho a não ser a agricultura e a pecuária. Mais a pequena agricultura. Conveniar com a UFRA, analisar o solo de cada região, providenciar a planta de curva de nível de toda a zona rural, e caminhar para uma agricultura orgânica e a produção de uma pecuária orgânica também. É o que ganhará cada vez maior valor no mercado. Mas para isto são necessários muitos estudos e discussões antes. Precisamos começar isto agora. Destinar, até por lei aprovada na Câmara, parte dos royalties para esta finalidade seria nada mais que bom senso e compromisso com o futuro.
E precisamos dar sequência à rodovia PA-275 (Rodovia Raymundo Mascarenhas) para, passando pela Floresta Nacional de Carajás, termos uma ligação direta com o resto do país e deixar de ser fim-de-linha. Outra grande luta a se travar.

Chico Brito é a história viva de Parauapebas

 

Vereador

Na primeira eleição de Parauapebas, em que foi eleito o prefeito Faisal Salmen, Chico Brito conquistou uma vaga de vereador na Câmara Municipal e foi escolhido relator da Lei Orgânica.
Depois, se afastou da política e anos depois foi secretário de Cultura do governo Valmir Mariano.

– Se me permite, quero terminar com um poema:
CAMINHOS
Caminhos de mim,
De minas,
De hematita, itabirito,
Esmeraldas,
De diamantes,
Ametistas,
Turmalinas,
Toda gama de minérios,
Qualquer forma cristalina;
Aluvião, cava, mina…
Minha sorte, minha sina?
Surpresas que a vida traz?
Não,
É apenas um caminho
Que, de Minas,
Me trouxe pra Carajás.

 

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