A criança, que precisa ser identificada ainda oficialmente no Instituto Médico Legal (IML), estava nua da cintura para baixo e com partes do corpo, principalmente a cabeça, carbonizadas.
O cadáver foi encontrado pela população, que realizava buscas desde o desaparecimento da menina, entre 7 horas e 7h30, no Bairro Vila Braga, próximo da casa da mãe dela, identificada como Maria Rodrigues Félix. A população do município está revoltada com o caso, já tendo realizado várias manifestações, e acredita que os responsáveis pelo crime possam ter sido a mãe e o padrasto, conhecido como Filho.
A Polícia Civil, no entanto, negou os boatos que circulam pela cidade, principalmente por meio de redes sociais, de que os dois teriam confessado o crime em depoimento. Conforme o delegado Marcelo Delgado, superintendente de Polícia Civil do Sudeste do Pará, o casal foi retirado do município após ameaças de linchamento.
“Nos não descartamos nenhuma hipótese, todavia essa não é a única linha de investigação e até o momento não temos nada que nos leve a crer que algum familiar, seja o padrasto ou a mãe, esteja envolvido. Ainda não temos suspeitas para o bárbaro crime”, informou, em entrevista na noite de segunda, após o corpo ter sido encontrado.
Ele informou que na manhã de domingo (22), a mãe e o padrasto estavam sendo ouvidos na Delegacia de Polícia Civil de São Domingos do Araguaia quando muitas pessoas começaram a se aglomerar em frente ao prédio público. “Esse clamor social começou após a divulgação de algumas informações que são inverdades até o momento, porque não sabemos ainda o que ocorreu. Foram lançados na internet que eles teriam confessado, o que não ocorreu. Por conta disso, devido à situação fora da delegacia, o delegado que estava aqui julgou por bem tirá-los para preservar a integridade deles”, ressaltou.
Questionado sobre o andamento das investigações, o superintendente informou que a mãe da criança foi quem procurou a delegacia, ainda no sábado de manhã, relatando que a menina teria sido sequestrada no caminho entre a casa dela e a padaria. “A versão deles é de que a garota dormiu na residência dos pais do padrasto, junto com a mãe, e pela manhã levantou para ir à padaria, comprar pão, e desapareceu”.
Uma equipe da Polícia Civil, de acordo com o superintendente, percorreu nesta segunda-feira o caminho no qual a menina pode ter desaparecido, de aproximadamente 500 metros, entre a casa da mãe e a padaria. “Conversamos informalmente com o dono da padaria e com todas as pessoas no caminho para tentarmos levantar informações. Até então não conseguimos nem confirmar e nem desmentir a tal versão e só há rumores de que pessoas teriam visto ela, mas até agora nenhuma dessas pessoas foi identificada”, explicou.
Ainda na manhã de sábado, a mãe de Maria Eduarda teria alugado um carro de som para noticiar o desaparecimento dela nas buscas pela cidade, informação que foi confirmada pelas investigações. “Assim a gente conseguiu confirmar já um pouco do que ela disse. Estamos tentando seguir os passos que a criança supostamente deu na manhã de sábado e, a partir daí, começar a investigação”.
Além do padrasto e da mãe, a Polícia Civil diz já ter ouvido diversas outras pessoas, dentre familiares, a professora da criança e vizinhos. “Ao que apuramos o comportamento dela era normal de uma criança da idade dela, era quieta, meiga, não tinha o hábito de sair. Tinha a idade cronológica dela semelhante ao que vivia. Ela era uma criança realmente”, observou o delegado.
O corpo, encontrado pouco depois do meio-dia, a aproximadamente três quilômetros da casa da mãe da vítima, foi removido pelo Instituto Médico Legal (IML) às 16h53 após longo trabalho da equipe do Centro de Perícias Científicas “Renato Chaves” no local do crime. Grande parte da população da cidade esteve na área, mas o acesso à cena foi proibido para curiosos e imprensa com apoio de investigadores da Polícia Civil, além do Grupo Tático Operacional (GTO) e Batalhão de Choque da Polícia Militar. O helicóptero da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Segup) permaneceu sobrevoando a região.
No local, os peritos detectaram a presença de preservativos e resquícios de consumo de entorpecentes, como papelotes usualmente utilizados para embalagem de crack. “É nítido que o local é muito frequentado por usuários de entorpecentes e encontramos não apenas restos de preservativos como também um aparentando ter sido utilizado mais recentemente. Tudo o que chamou a atenção da perícia foi coletado e encaminhado para análise”. Até o fechamento desta edição, o corpo seguia no IML de Marabá, onde deve passar por necropsia para estabelecer a causa da morte, se houve violência sexual e há quanto tempo a menina estava morta.
SAIBA MAIS
O caso foi registrado oficialmente na Delegacia de Polícia Civil de São Domingos do Araguaia, sendo as investigações conduzidas pelo delegado Vinícius Cardoso das Neves. Outros três delegados, no entanto, acompanham o caso, dentre eles, o superintendente, delegado Marcelo Delgado, a delegada Raíssa Beleboni, do Departamento de Homicídios de Marabá, e o delegado Leandro Vilas Boas, do Núcleo de Apoio à Investigação.
Lavradora diz ter “sentido” onde estava o corpo
A lavradora Rita Sousa da Silva, responsável por encontrar o corpo da criança, informou em entrevista à Reportagem ter sentido onde estaria o cadáver e saído à procura dele. Ela contou que no dia anterior, domingo (22), estava em casa quando “sentiu vontade” de ir ao local onde o corpo foi encontrado. “Ainda falei para os meus meninos que achava que a criança poderia estar naquele mato porque a gente não vê ninguém pra esse lado. Fiquei com aquela vontade de vir aqui”, destacou.
Ela diz que no dia seguinte, segunda-feira, ao meio-dia, começou a pensar novamente no assunto e saiu de casa. “Quando cheguei bem aqui senti o cheiro e é diferente a catinga de gente morta. Senti o cheiro e voltei. Em casa chamei meu genro pra vir comigo e meu filho. Eu e meu genro passamos o arame e entramos no mato, de longe ele já viu e disse ‘olha, dona Rita, é a menina que está bem ali’”, relembrou.
Rita diz que a partir de então começou a telefonar para o aparelho celular do Destacamento da Polícia Militar, mas as chamadas só caíam na caixa postal. “Falei pro meu genro ir na casa dos parentes dela. Ele foi aí eles chamaram a polícia e nós viemos para cá com os familiares. Meu genro mostrou onde estava o corpo”.
Rita afirma ter ficado chocada quando viu o estado do cadáver. “Vi aquela situação, fiquei cismada e muito abalada. Só vi que ela estava queimada quando viemos com o pessoal dela. O rosto dela ninguém viu, não, porque está toda queimada”, observou.
R$ 1 mil por informações que levem à autoria do crime
A assessoria de comunicação do Disque Denúncia Marabá informou nesta segunda-feira (23) estar oferecendo uma recompensa de R$ 1 mil para quem compartilhar informações que possam levar ao autor do crime e sua consequente prisão. De acordo com o serviço, as informações deverão ser repassadas para o atendimento do Disque Denúncia, por meio dos números 3312-3350 (Marabá), 3346-2250 (Parauapebas) ou 98198-3350 (Whats App).
“Pedimos a ajuda da população que denuncie. A Central funciona de segunda à sábado, das 8 às 20 horas. A sua informação pode ser a peça fundamental para o esclarecimento das investigações”, informou a coordenadora do serviço, Hellen Araújo. O delegado Marcelo Delgado, que acompanha as investigações, também ressaltou em entrevista a importância da participação popular.
“Quem puder contribuir com informações que não sejam inverdades, que as traga até a Polícia Civil por meio do 181 ou para o serviço do Disque Denúncia porque vamos analisar e investigar a linha que nos for apresentada”, comentou.
Reportagem: Luciana Marschall / Grupo Correio