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Ataques de onças viram um dilema ambiental em Canaã dos Carajás

Autoridades de meio ambiente e saúde de Canaã dos Carajás, a 60 km de Parauapebas, vivem um dilema ambiental sem precedentes. É que onças estão colocando em clima de tensão e medo funcionários da Vale que atuam na Mina do Sossego, um pouco afastado da zona urbana do município.

Um trabalhador do projeto em questão informou à reportagem em Canaã que ao redor do refeitório da empresa em que ele trabalha o número de gatos domésticos foi aumentando até chegar a cerca de uma centena, isso porque eles estariam se alimentando dos restos deixados por trabalhadores.

Como o refeitório está localizado em uma área próxima à floresta nativa densa, a existência dos gatos acabou atraindo onças para a redondeza, que passaram a atacar os parentes felinos domésticos. Por tabela, as onças se tornaram uma ameaça, também, para os trabalhadores, que estão assustados e temerosos de que venham a ser vítimas das “pintadas”, “vermelhas” – chamadas de suçuaranas – e “pretas”, variações dos tipos de onça da região.

O funcionário disse que a direção da mineradora teria solicitado às autoridades de saúde de Canaã uma solução para o problema, o que poderia apontar para uma eutanásia em massa dos gatos que estão se proliferando aos montes em torno do refeitório. “Esse pedido foi feito há mais de 15 dias, mas até agora não houve resposta positiva”, disse o funcionário, que pediu reserva de seu nome temendo algum tipo de represália e perda de emprego.

A reportagem procurou Cleverson Zajac, assessor de Comunicação da Secretaria de Saúde de Canaã, o qual disse desconhecer o problema narrado, mas se comprometeu em apurar o caso. Menos de uma hora depois, ele ligou de volta e informou que o caso era verídico, observando que o restaurante em questão era da Vale mesmo e que os gatos começaram a ser criados na área há cerca de dez anos, desde a implantação da mina e a população foi aumentando. De acordo com ele, a atitude para resolver o problema partiu do município e não da Vale.

Agora, segundo Cleverson, uma ação conjunta da Vigilância Sanitária e Vigilância Ambiental do município identificou o problema, com mais de 100 gatos vivendo das sobras das refeições ao redor do refeitório e os ataques de onças a eles foi confirmado, causando temor aos trabalhadores.

De início, foi ventilada a possibilidade de eutanásia, mas ela está proibida. Depois, surgiu a ideia de capturar os gatos e enviá-los ao CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) de Marabá, uma vez que nem Canaã nem em Paraupaebas há um centro de zoonoses, mas essa ideia foi descartada também. Em Marabá, a direção do CCZ informou que não poderia mesmo ajudar o município vizinho porque a lei não permite armazenar animais de outras cidades.

Agora, uma equipe da Secretaria de Saúde e outra da Secretaria de Meio Ambiente de Canaã estão discutindo com técnicos do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) o que fazer para resolver o dilema ambiental. “Precisaríamos de um hotel para gatos, já que não temos aqui em Canaã um Centro de Controle de Zoonoses. Mas uma coisa é certa, vamos tomar uma medida urgente para resolver o problema da proliferação de gatos e evitar ataque de onças a humanos”, garantiu.

O município chegou a consultar o Estado para saber que solução tomar diante deste impasse, mas o que ouviu não foi animador, porque esse é um problema único, que não tem precedente no Estado.

Eutanásia
A eutanásia de animais sadios era uma prática comum até bem pouco tempo atrás. Em Marabá, por exemplo, a carrocinha recolhia cães e gatos errantes e levava para o CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) e, caso o dono não aparecesse nos dias seguintes, eles eram sacrificados para evitar a disseminação de raiva animal, cujo vírus circula na zona urbana do município.

Em várias partes do País foi aprovada uma lei que proíbe a eutanásia de animais que não estejam doentes, o que causou um dilema em Canaã dos Carajás. As autoridades municipais ainda estão analisando de que forma vão atuar para resolver o problema de aumento localizado e repentino do número de gatos em torno do projeto de mineração.

Em nota, Vale confirma um fato mas omite outro
A reportagem entrou em contato com a Assessoria de Imprensa da Vale na semana passada, mas a informação inicial era de que ninguém sabia, dentro da empresa, sobre esse fato na mina em Canaã. Já na segunda abordagem, com dados mais concretos sobre os ataques de onça, a Vale acabou se pronunciando sobre o caso por meio de sua assessoria de Imprensa.

A nota à reportagem confirma apenas a “ocorrência de animais domésticos (gatos), mas em nenhum momento cita o nome “onça” ou ataques dela aos gatos. Leia a seguir a nota na íntegra: “A Vale informa que solicitou apoio à Secretaria Municipal de Saúde em Canaã dos Carajás para manter sob controle a ocorrência de animais domésticos próximos à sua área operacional. A unidade da empresa em Canaã fica próxima à Floresta Nacional de Carajás, onde é natural a presença de felinos e outros animais silvestres de grande e pequeno porte. Entretanto, essa proximidade e/ou convivência com animais domésticos pode resultar na ocorrência e/ou na proliferação de doenças.
A Vale reforça ainda que todos os cuidados são adotados para evitar riscos para as pessoas que trabalham em suas unidades, assim como é feito um trabalho permanente de monitoramento, orientação e conscientização dos trabalhadores para que cumpram as regras internas de segurança. A empresa ressalta que essas medidas fazem parte da sua rotina de atuação ambiental, obedecendo à legislação vigente e a sua política de sustentabilidade. Em 10 anos de operação da Mina do Sossego, nunca houve nenhum registro de ataque de felinos nesta unidade”.

Reportagem: Ulisses Pompeu – CT Online
Foto: Arquivo

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