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Alípio Ribeiro - Colunista

“E aí, velhinho?” “Fala, gordo!” “Venha cá, negão!” “Sai daqui, coisa feia!” “Ô, magrela, é a sua vez!”

Na maioria das vezes que chamamos alguém por nomes ligados às características físicas, o fazemos sem a intenção de ofender. No entanto, alguns o fazem no intuito de desqualificar, menosprezar. Se você chama alguém de gordo, gordinho, porque realmente a pessoa é gorda, saiba que isto pode estar contribuindo para baixar a autoestima dela.

Digo isto com conhecimento de causa. Como professor, eu nunca tive a intenção de ofender meus alunos. Mas já fiz brincadeiras, que hoje considero de mau gosto, e peço desculpas àqueles que se sentiram ofendidos. Neste ano de 2019, me senti muito mal ao fazer uma “gracinha” com um aluno. Olhei para ele, que estava alegre, sorridente, mas bagunçando muito durante a aula e disse: “menino! Cê é feio, ó! Creindôspai!” O sorriso dele desapareceu. O semblante dele se transformou no mesmo segundo. A turma toda sorriu e eu continuei a aula. Notei que ele não estava bem. Acontece que o aluno, realmente, me perdoem dizer aqui, é muito feio. Além de feio, traquina, bagunceiro, peralta. Quando terminou a aula, pedi para que ele ficasse. Conversamos. Ele chorou. Disse que sempre sofreu bullying pelo fato de não preencher os requisitos dos padrões de beleza. Eu fiquei sem ação. Não sabia se ria ou se chorava diante daquela criatura com olhos lacrimejantes, implorando por palavras ou atos que minimizassem a dor dela. Deve ter passado quase um minuto, que me pareceu uma hora, o tempo que o aluno ficou de cabeça baixa, inseguro, amedrontado, pequenino, diante de mim. Então eu disse para ele que me perdoasse pela brincadeira. Perguntei-lhe quantas pessoas feias ele conhecia. Ele respondeu que conhecia muitas, principalmente na família dele. (não contive o sorriso e ele sorriu também.) Ele disse que sabia que era feio, mas que ser feio e pobre era humilhante. (Eu ri de novo, não me contive!) Depois de alguns minutos de uma conversa descontraída e cheia de sorrisos, falei que ele precisava mudar. Quem é feio e tem atitudes e comportamento bonitos, disfarça a feiura. Falei sobre o Corcunda de Notre Dame, Quasímodo, de Victor Hugo. Pedi-lhe que assistisse ao filme. Realcei que o comportamento dele era ruim, que todos os professores reclamavam dele. Ele disse que era uma forma de defesa, de aparecer mais que a feiura dele. Então eu pedi que ele tentasse uma nova forma de chamar a atenção, que fosse carinhoso, não revidasse às provocações. E ele assim fez. O episódio aconteceu em abril de 2019. Hoje, julho, é notória a mudança dele e dos colegas. A simpatia, prestatividade com ele trata os colegas, transformaram-no. Claro, ele não ficou bonito, mas as qualidades dele amenizam a feiura física. Acabaram o bullying, as gozações, as brincadeiras de mau gosto. De certa forma, o que eu fiz serviu para melhorar a autoestima dele.

Não chamo mais alguém de velho porque é velho. De gordo porque é gordo. De gay porque é gay. A mente não segue o corpo. Mas se a pessoa é velha, é negra, é perneta, vou chamá-la como então? Pode alguém alegar. Digo para tratá-la com respeito. Pronomes de tratamento como senhor, senhora, existem para isto. Ser magro ou gordo pode ser uma opção ou não. Chamar uma pessoa de magrela pode soar como ofensa ou como elogio. Se um gordo emagreceu, vai até gostar de ser chamado de magrelo, mas você não sabe disto. Portanto, evite!

As piadas vão persistir. As vídeo-cacetadas dos programas televisivos chamam mais a atenção quando são com velhos, gordos ou crianças. Se alguém solta um “pum” fedido numa sala em que esteja um gordo ou negro, são para eles que convergirão os olhares de reprovação.

Quando eu ficar velhinho, não me chamem de velhinho, me chamem para a briga.

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