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Coluna do Lima Rodrigues – 28 de fevereiro de 2018

Serra Pelada – Esperança Dourada

Talentoso, brilhante e grande profissional. Estas palavras poderiam muito bem definir o perfil do fotógrafo Anderson Sousa, de 33 anos, natural de Marabá (PA), mas que morou em Serra Pelada; em Curionópolis (PA), o famoso “Trinta” e em Brasília e está radicado em Parauapebas (PA) há cerca de dez anos.

Anderson é filho do ex-garimpeiro Manoel da Graça Sousa, que era conhecido pelo apelido de “Parazinho” e da dona Suelena Maria. O pai dele morreu em 2009 e a mãe dele em 2012. No auge do garimpo, Parazinho chegou a tirar 20kg de ouro de Serra Pelada.

Tive a honra de conhecer o Parazinho em Brasília nas décadas de 1980/1990 percorrendo os gabinetes de deputados e senadores do Pará em busca de apoio para as atividades do garimpo de Serra Pelada, após o seu fechamento – em 1992 – pelo governo Fernando Collor. Ele era um líder garimpeiro que lutou muito em prol de sua classe. “Meu pai sacrificou a vida e a família. Construiu um patrimônio para perder tudo, igual a praticamente 90% de todos os garimpeiros que passaram por Serra Pelada”, disse Anderson esta frase amiúde para os jornalistas que o entrevistaram nas últimas semanas.

O jovem fotógrafo cresceu vendo o garimpo de Serra Pelada, depois sua grande cava, o quase apogeu do garimpo por intermédio da parceria entre a Cooperativa de Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp) e a empresa canadense Colossus e depois o abandono do garimpo e a pobreza da vila e das famílias que por lá ainda moram. Pois foi para homenagear estas famílias, inspirado no Mestre da Fotografia, Sebastião Salgado, que Anderson Sousa fotografou vários ex-garimpeiros que ainda sonham um dia encontrar ouro em Serra Pelada. Alguns deles chegaram a bamburrar, isto é, encontraram ouro, mas a exemplo de seu pai, Parazinho, também ficaram pobres e hoje vivem só da esperança.

 

O garimpo

Só para relembrar a memória dos adultos e informar aos mais jovens que não conhecem a história, Serra Pelada foi considerado o maior garimpo a céu aberto do mundo. Um verdadeiro formigueiro humano, com cerca de 100 mil homens trabalhando lá em busca de ouro. Hoje, só resta a enorme cava de 200 metros de profundidade e um lago formado com a ação das chuvas e com água poluída por mercúrio, que era bastante utilizado no garimpo.

A partir da fama do garimpo na Fazenda Três Barras, a proibição da entrada de bebida alcóolica e mulheres, além de armas, os garimpeiros iam aproveitar suas noites em uma vila que se formou a 35 km de Serra Pelada, a hoje cidade de Curionópolis, na PA 175, entre Eldorado do Carajás e Parauapebas, cuja denominação surgiu a partir do nome do então Major do Exército, Sebastião Rodrigues de Moura, ou simplesmente, Major Curió, o militar que comandou com mão de ferro o garimpo de Serra Pelada e acabou sendo eleito deputado federal e posteriormente prefeito de Curionópolis.

Muitos homens morreram ao tentar chegar ao garimpo ou em brigas por causa do ouro ou nos cabarés por causa de bebedeiras gastando o dinheiro que haviam conseguido no garimpo. Outros morreram de morte natural cansados de esperar o “Grande Dia”, que ainda não tem previsão de chegar. O garimpo, após o seu fechamento em 1992, só pode ser explorado de forma mecanizada e nunca mais manualmente. A exploração mecanizada tornou-se mais difícil após a Coomigasp ter passado por administrações desastrosas que na maioria das vezes só causaram prejuízos aos sofridos garimpeiros. Mas, enfim, vamos deixar essa questão para a Justiça ou para quem desejar investigar o caso.

O objetivo aqui é falar sobre a exposição Esperança Dourada, de Anderson Sousa, produzida com o apoio da Agência Griffo, de Belém e de algumas empresas do Pará.

 

Ao apresentar Anderson Sousa, veja o que diz a Agência Griffo:

Em 2008, o fotógrafo Anderson Souza deixou o audiovisual para se dedicar exclusivamente à sua primeira paixão: a fotografia. A mudança se deu a partir do encontro com o fotógrafo mexicano Eugênio Moraes Montoya, cuja estética fotográfica lembrava os registros de Sebastião Salgado. O renomado profissional, que na década de 1980 fotografou o garimpo de Serra Pelada, mostrava um universo muito familiar a Anderson, cujo pai era garimpeiro.

Depois de trabalhar com Montoya, Anderson dedicou-se cada vez mais à arte de fotografar. Hoje, divide o tempo entre a cobertura fotográfica para assessoria de imprensa e registros incríveis da Região Sudeste do Pará, em especial das cidades de Marabá, Parauapebas (Floresta Nacional de Carajás), Curionópolis (Serra Pelada), Eldorado do Carajás e Canaã dos Carajás.

O olhar diferenciado sobre a região rendeu exposições solos e coletivas como a que está em Ferrara, na Itália, no Mercatino Della Fantasia, e que também ocupou a galeria do shopping Parauapebas. A “Exposição Povo Xikrin do Cateté” reúne 20 fotografias que mostram o cotidiano nas comunidades indígenas Xikrin do povo Kayapó: Ôodjân, Djudjêkô e Kateté, registrado ao longo de quatro anos.

Em 2014/2015, os moradores de Parauapebas ganharam uma exposição sobre seu cotidiano nas ruas da própria cidade. “Cenas da Cidade” foi um trabalho de Souza, em conjunto com o fotógrafo Felipe Borges. Anderson já teve trabalhos publicados pela BBC Brasil e, em maio deste ano, participou da exposição “The Family Of Man”, em Golshahr, no Irã, como convidado do coletivo EveryDay Brasil.
Em novembro deste ano, o fotógrafo, que é natural de Marabá, foi um dos vencedores do Prêmio de Jornalismo em Turismo Comendador Marques dos Reis na categoria #MeuBemPará. (Fonte: http://www.griffocom.com/esperanca-dourada/).

A exposição

Anderson Sousa disse que seu objetivo foi desmistificar um pouco aquela história do garimpeiro formiguinha, que subia as perigosas escadas do garimpo (“Adeus Mamãe”) com sacos pesados de terra em busca do ouro e registrar o dia a dia dos ex-garimpeiros que vivem até hoje na Vila Serra Pelada.

A exposição “Serra Pelada – Esperança Dourada”, realizada de 16 a 24 de fevereiro no Partage Shopping, em Parauapebas (PA), atraiu os olhares de jornalistas, estudantes, professores, funcionários públicos, empresários e de muita gente. A repercussão foi tão grande que Anderson chegou até a participar do programa “Encontro”, comandado pela jornalista Fátima Bernardes, na TV Globo.

Estudantes e visitantes do shopping tiveram a oportunidade conversar com o fotógrafo Anderson Sousa, assistir ao vídeo sobre os garimpeiros fotografados por ele (Produzido pelo site F5, de Parauapebas) e ouvir relatos do empresário Genésio Filho sobre o garimpo de Serra Pelada. O pai de Genésio, Genésio Ferreira da Silva, era o dono da Fazenda 3 Barras, onde hoje é Serra Pelada.
“A exposição no Partage Shopping foi frutífera. Ela conseguiu atingir seu objetivo, que é causar essa sensação de curiosidade e de interesse das pessoas em saber a história daquela comunidade que faz parte da nossa história. Serra Pelada, querendo ou não, é responsável por grande parte da migração nesta região (de Parauapebas). Além do mais, houve uma interação muito grande com as escolas do município, com muitos alunos comparecendo ao shopping para a ver a exposição. Minha meta agora é levar a exposição Esperança Dourada para escolas em Parauapebas, para o Centro de Convenções de Marabá e posteriormente para Belém”, disse Anderson Sousa em entrevista à coluna.

IMPERATRIZ

Como em Imperatriz mora a maioria dos ex-garimpeiros de Serra Pelada, o fotógrafo Anderson Sousa também pretende obter o apoio da prefeitura imperatrizense e levar a exposição Esperança Dourada para a cidade maranhense, que também teve participação importante na história do famoso garimpo. Muitos e muitos homens largaram seus empregos ou até mesmo suas empresas e aplicaram seus recursos e esperanças em Serra Pelada. Uma minoria conseguiu algum recurso e pôde sustentar a família aplicando o dinheiro ganho no garimpo em outras atividades comerciais. A maioria, porém, não conseguiu nada, a não ser muita malária, dívidas e o sonho de ficar rico. “A esperança é a última que morre”.

Boa semana a todos e até quarta-feira com saúde e paz.

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Ei, Psiu! Já viu essas?

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