Em 2014, ao menos 70% da riqueza gerada em Parauapebas passavam pelo crivo da mineradora Vale. A indústria extrativa encabeçada por ela movimentou R$ 10,88 bilhões. Quem anda em Parauapebas pode se perguntar: onde está a indústria da Vale? Está nos rincões do município, em forma de um imenso buraco, a céu aberto, que se espalha dia a dia e que ficará como lembrança e produto final da passagem da Vale por aqui na metade da década de 30 deste século, ou antes, quando a última jazida de minério de ferro na Serra Norte exaurir.
Por outro lado, sem a Vale, hoje, até mesmo os R$ 576 milhões em impostos que compõem o PIB não existiriam. O valor adicionado do setor de serviços cairia a um terço dos R$ 3,05 bilhões atuais e a frágil agropecuária, que contribui com pífios R$ 163 milhões da produção de riquezas, não daria conta de sustentar o município — exatamente: não nas condições em que se encontra, populoso e carente. Sem a Vale, hoje, Parauapebas sobreviveria com muita, mas muita dificuldade, amparada em transferências constitucionais e no comércio, a cada dia cambaleante e com um estabelecimento cerrando as portas a cada 48 horas.
Ainda assim, não faltaram promessas ao longo dos últimos anos para enganar os bobos. Em 2014, em meio à crise que alastrava igual a rastilho de pólvora, a Secretaria de Desenvolvimento municipal divulgava com pompa e circunstância a implantação de um suposto projeto piloto que produziria biocombustível com previsão de iniciar em julho daquele ano. Envolveu até o nome da poderosa Natura, do ramo de cosméticos, com a finalidade de dar credibilidade ao negócio. Um fiasco. Parauapebas continua fora do mapa da produção de biocombustível, o preço da gasolina é um dos mais altos do Brasil e, para além de todo esse sufoco, continua inerte e dependente da mineração — o que não vai mudar da noite para o dia —, com o agravante de que a cada ano a população aumenta, e suas demandas também.
SALVAÇÃO DA PÁTRIA
A consolidação de um polo universitário num dos municípios mais ricos do Brasil é menosprezada, enquanto vira arma e ganha-pão em outros lugares. Em Marabá, por exemplo, os cursos universitários movimentam um capital anual de R$ 250 milhões — apenas o orçamento da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) é de R$ 84 milhões, 85% dos quais ficam nas unidades de Marabá. Em linhas gerais, os cursos presentes em Marabá, públicos e particulares, movimentam tanto dinheiro quanto quase toda a receita da Prefeitura de Araguaína (TO), que foi de R$ 313 milhões em 2015.
Castanhal, Altamira, Bragança, Tucuruí, Paragominas e Redenção têm imensamente menos recursos financeiros que Parauapebas, mas nem por isso se acomodaram; têm boa vontade, vontade político-administrativa e, hoje, podem ser considerados polos universitários (regionais, como Castanhal, ou locais, como Redenção). Vale ressaltar que em Castanhal, Altamira, Tucuruí e Bragança já há mestrado regular em instituição pública, enquanto Parauapebas, o pobre município rico, luta para conseguir manter os cursos regulares que possui e trazer alguns outros, sem muita expectativa.
Os jovens parauapebenses, capazes de fazer o PIB crescer e o município sorrir, concluem o ensino médio e são praticamente “expulsos” de sua terra se quiserem fazer cursos na área de Saúde ou Ciências Sociais Aplicadas, por exemplo. O campus local da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) tem feito de forma heroica e brilhante seu papel, após ter corajosamente decidido fincar raízes aqui, mas a instituição sozinha não dá conta de absorver a demanda e os anseios daqueles que pensam em ser médico, economista, arquiteto, publicitário, geólogo, nutricionista, fisioterapeuta, enfermeiro, entre outros.
Faltam mobilização e vontade política porque, no caso dramático da “Capital do Minério”, dinheiro e nome de respeito sempre teve — ou tinha.
Há muito “progressista” local de plantão vociferando que “a educação é a salvação”, mas, no caso de Parauapebas, pelo menos em nível superior, não envida um palmo de esforço para superar burocracias e transformar o município no polo tecnocientífico a que faz jus por seus sabidamente apreciados recursos naturais.
Na vergonha de PIB divulgada hoje, se tivesse havido investimento basilar para a qualificação de excelência do capital humano e agregação de valor aos recursos aqui existentes, certamente não haveria queda na produção de riquezas, uma vez que a dependência da Vale seria minimizada pela produção de tecnologias, produtos e serviços locais exportáveis.
Até mesmo na balança comercial, enquanto os vizinhos exportam ao exterior carnes, flores, móveis, papel, ervas e até bombons, Parauapebas só tem — e graças a Deus por isso — minérios, que são recursos finitos e que, mais cedo ou mais tarde, vão deixar o município na mão. Aí nem PIB, nem receita para a prefeitura.
É preciso pensar as oportunidades para o presente sem se descuidar do futuro, este o qual um tanto incerto. Está na hora de virar a página cheia de rabiscos inconclusivos e falaciosos.
Reportagem: André Santos – Colaborador do Portal Pebinha de Açúcar