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EM COBRE: Marabá e Canaã também ajudaram Vale a bater recorde

Das entranhas do complexo minerador de Carajás, a mineradora multinacional Vale levou, além de minério de ferro, muito cobre. Isso se tornou fato na última quinta-feira (16), por ocasião da divulgação do relatório da empresa, intitulado “Produção da Vale no 4º Trimestre de 2016”, um documento que contabiliza volumes de minérios lavrados tanto nos últimos três meses do ano, período ao qual se dá o maior destaque, quanto na totalização de 2016.

Da cesta de produtos que a Vale entrega a mercadores do oriente, são negociadas milhares de toneladas de cobre de dois projetos gigantes na região, o Salobo, localizado no município de Marabá, e o Sossego, no município de Canaã dos Carajás. Mas não se iluda: junto com o cobre, saem ouro, prata, platina, entre outras preciosidades, sobre as quais a empresa nem gosta de tocar no assunto.

SALOBO

De Marabá, a Vale levou uma sacola colossal de cobre. Na mina de Salobo, localizada nos rincões do município, saíram 175,9 mil toneladas do metal em 2016, percentual 13,2% a mais que as 155,4 mil toneladas mineradas em 2015. A capacidade do complexo Salobo é de 200 mil toneladas, e a mineradora está a um passo de atingi-la. A Vale prevê que, mantido o atual ritmo de lavra, o cobre de Salobo só vai acabar em 2065, conforme o Relatório Anual 2016.

Em diversas publicações que a reportagem do Portal Pebinha de Açúcar publicou, iniciadas em 2013 (a primeira foi aqui: <http://pebinhadeacucar.com.br/parauapebas-quer-mais-ferro-…/>), adiantou que Salobo iria ultrapassar Sossego em produção e fazer de Marabá o maior produtor de metal do país. Em 2015, anunciou a confirmação da virada no mês de setembro (veja aqui: <http://pebinhadeacucar.com.br/maraba-recebe-maior-quantia-…/>).

Era óbvio que isso iria ocorrer, mais cedo ou mais tarde, em decorrência do processo de exaustão da mina de Canaã. Salobo, em Marabá, rendeu à Vale em seu início de carreira, cinco anos atrás, 13 mil toneladas métricas de cobre. Hoje, produz 13 vezes mais o valor inicial, e a perspectiva é de despejar muito mais metal no mercado, a partir de uma terceira planta.

SOSSEGO

Já em Canaã dos Carajás, onde a empresa opera a mina de Sossego, a produção recuou 11,2%, de 104,3 mil toneladas de cobre em 2015 para 92,6 mil toneladas ano passado. Lá, onde o Sossego opera em ritmo cada vez mais lento, a produção está em franco declínio. Mas era previsto. Embora muitos insistam em não querer acreditar, a Vale assinou no Relatório Anual 2016 que a jazida de Sossego vai pendurar as chuteiras nos próximos sete anos. Isso mesmo: em 2024, nada de cobre em Sossego.
O auge de produção da mina se deu em 2008, com total de 126 mil toneladas, quatro anos após a abertura da mina. Hoje, está cada vez mais distante dessa marca.

O recuo da produção de cobre da Vale em Canaã tem impacto direto nas contas da prefeitura local. Isso porque o cobre gera Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem), chamada vulgarmente de royalty, e sua cota-parte desabou nos últimos anos.

Em 2016, enquanto Marabá recebeu cota-parte no valor de R$ 46,8 milhões, Canaã pegou R$ 19,4 milhões — um valor distante do auge, em 2013, de R$ 25,8 milhões, e praticamente o mesmo de 2011.

DISPARIDADES

O contraste que se verifica nas cercanias dos projetos por meio dos quais a Vale bate sucessivos recordes, com a extração dos minérios da terra, é absurdo. À medida que aumenta a produtividade em minas novas ou intensifica o processo de exaustão em cavas mais antigas, o desemprego prospera nas áreas urbanas de municípios mineradores.

Os projetos — cuja implantação têm início, meio e fim, bem como sua operação — criam expectativas na população, mas, na prática, passado o frisson do anúncio e o “start-up”, não dão conta de absorver a mão de obra ociosa. As prefeituras, por seu turno, não criam tampouco investem em estratégias de desenvolvimento e cadeias produtivas capazes de transformar os recursos financeiros decorrentes da mineração em geração de emprego e renda. Bolsões de pobreza, com milhares de família passando fome, vão se intensificando na vizinhança de projetos prósperos e que conferem milhões de dólares de lucro a investidores. Estes, muito distante daqui, vibram e faturam horrores com os recordes conseguidos à custa do suor do trabalhador do complexo minerador de Carajás.

Marabá acumula, desde a operação de Salobo, em 2012, impressionantes 8.900 desempregados, que se ajuntaram aos quase 30 mil que já existiam antes desse período. Canaã dos Carajás, apenas em 2016, despejou na praça 7 mil novos demitidos de uma vez só. Sem trabalhadores para ganhar dinheiro e fazê-lo circular, o movimento comercial urbano agoniza e o número de calotes cresce exponencialmente; a violência e o tráfico de drogas recrutam ociosos e galopa; os serviços de saúde pública são abarrotados por “ex-trabalhadores” que perderam plano particular pago pelo empregador; e a pressão por serviços sociais se intensifica. Para piorar, está longe de caber neste enredo a situação dramática dos municípios que abrigam grandes empreendimentos que exploram recursos, os quis, mais cedo ou mais tarde, vão acabar.

E vem mais notícia “boa” por aí, para render debates. Na próxima quinta-feira (23), o mercado vai sacudir com o relatório financeiro da Vale, do qual, já se sabe, vem anúncio de recorde em termos de dinheiro, que é o que realmente tira sorrisos dos investidores. Enquanto isso, na conta bancária dos habitantes da região de onde sai o cobre…

Reportagem: André Santos – Colaborador do Portal Pebinha de Açúcar

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