Se o ano de 2014 não foi muito bom para a economia do município de Parauapebas, a “Capital do Minério”, aperte os cintos porque, a julgar pelos dois primeiros meses de 2015, a situação será ainda mais crítica. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior divulgados na última terça-feira (17) revelam que as exportações originárias do município de Parauapebas caíram pela metade, em cotação de dólar (US$), na comparação com os dois primeiros meses do ano passado.
Além disso, com a crise que se abate sobre a indústria extrativa de minério de ferro, cujo preço da tonelada chegou a preocupantes 57,60 dólares esta semana (na China, maior compradora do mundo, foi ainda pior: 54,50 dólares, o preço mais baixo da história), Parauapebas perdeu o posto de maior exportador do Brasil e, agora, ocupa o quarto lugar, com a iminente possibilidade de cair mais ao longo do ano, caso a situação do preço do minério não melhore.
Nos dois primeiros meses deste ano, a “Capital do Minério” vendeu lá fora 731,95 milhões de dólares em minérios de ferro (US$ 720 milhões pela produção de 16,88 milhões de toneladas) e manganês (US$ 12 milhões por 111,6 mil toneladas). É uma transação financeira preocupante porque, nos dois primeiros meses do ano passado, Parauapebas exportou 1,56 bilhão de dólares – portanto, mais que o dobro de 2015 – por praticamente as mesmas tonelagens de minérios de ferro (US$ 1,54 bilhão por 16,72 milhões de toneladas vendidas) e manganês (US$ 26,9 milhões por 206,4 mil toneladas).
Na comparação entre os períodos de 2014 e 2015, o município viu suas exportações despencarem Serra dos Carajás abaixo 53% em apenas um ano. E, para piorar, não foi em volume físico, mas em valor monetário – o que, na prática, mostra que o caixa do quarto mais rico município da Amazônia Legal está esvaziando numa velocidade tão rápida quanto assustadora.
Para falar sobre essa questão, a Reportagem do Pebinha de Açúcar procurou o engenheiro de minas André Santos, que fez dissertação de mestrado sobre a socioeconomia de Parauapebas pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Na pesquisa, defendida em 2014, ele já antecipava o momento de crise atual, em decorrência do preço do minério, e crises futuras, por conta da exaustão de jazidas.
Santos faz estudos nas áreas de meio ambiente, economia mineral e desenvolvimento socioeconômico e tem duas dezenas de trabalhos publicados em anais de congresso e revistas científicas. Ele chegou a ser premiado em 2014 durante congresso nacional de meio ambiente por trabalhos desenvolvidos nas áreas de levantamento de fauna urbana em Parauapebas e Marabá e ecologia de estradas nas rodovias BR-155 e PA-275.
Na última segunda-feira (16), um dos artigos na área de socioeconomia produzidos pelo engenheiro de minas durante o mestrado e publicados na ocasião do 4º Seminário Internacional do Programa de Pós-Graduação em Sociologia, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em 2013, foi selecionado por uma renomada revista norte-americana para divulgação científica por lá. O artigo que traz Parauapebas no nome (Royalties de Mineração e o Financiamento de Problemas Sociais no Município de Parauapebas, PA) vai ser traduzido para o inglês e deve ser publicado na “Sociology Study”. O autor foi convidado para participar, inclusive, do 4º Simpósio Internacional de Administração e Ciências Sociais, que será realizada em Hokkaido, no Japão, no mês de julho.
MAIOR E PIOR CRISE
Essa é a pior crise da história de Parauapebas e que tem levado a uma redução tanto de exportações quanto de seu Produto Interno Bruto (PIB) como nunca antes. De acordo com Santos, os dados de PIB relativos aos anos de 2014 e 2015 serão divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2016 e 2017, respectivamente. Mas assim como ocorreu em 2012, quando o PIB do município encolheu, as estatísticas referentes a 2014 e 2015 vão apresentar números consolidados ainda piores.
“Sem medo de errar, a produção de riquezas de Parauapebas, que, em seu auge, chegou a ser a 25ª maior do país, superando até a de Belém, vai cair para a quase centésima colocação nacional. Não é uma posição ruim, já que o Brasil tem 5.570 municípios, e Parauapebas tem população relativamente pequena. Ruim e arrasador vai ser perder muitos bilhões de reais no fechamento do PIB e passar a ter o desenvolvimento econômico engessado”, analisa.
Santos explica que a base econômica de Parauapebas é a indústria extrativa mineral e em cujo setor o minério de ferro sozinho representa 98,36% das exportações. “O preço spot do minério cravou esta semana míseros 54,50 dólares, o mais baixo da história. No ano em que o PIB de Parauapebas ultrapassou o de Belém, a tonelada havia chegado a seu preço recorde: 191,90 dólares em fevereiro de 2011”, informa.
Nos cálculos do engenheiro de minas, o PIB de Parauapebas – que encolheu de R$ 19,89 bilhões em 2011 para R$ 16,73 bilhões em 2012, a maior perda nacional de um município – tende a apresentar queda livre. “Ora, se temos um panorama de produção física atual de 115 milhões de toneladas de minério, como foi em 2014 na Serra Norte, muito pouco superior às cerca de 110 milhões de toneladas produzidas em 2011, e, por outro lado, temos um contexto de preço por tonelada quase quatro vezes menor que há quatro anos, é óbvio que veremos o PIB de Parauapebas encolher na mesma proporção”.
DE PIBÃO A PIBINHO
Parauapebas deve ficar até R$ 10 bilhões mais pobre em 2017
O engenheiro André Santos prevê que, matematicamente, aquele “pibão” de 2011 reduza-se a algo em torno de R$ 7 bilhões em 2015. Mas o dado só será revelado em 2017, já que a pesquisa de PIB do IBGE tem carência de dois anos. “E aí, Parauapebas pode cair do atual 34º lugar para o 87º, coincidentemente ocupado hoje pelo município mineiro – e minerador – de Ipatinga. Está tudo caminhando para ser a maior queda econômica da história dos municípios brasileiros, a menos que o preço do minério dispare para mais de 100 dólares a tonelada, o que não se visualiza para antes de 2017”, alerta.
Para ele, o efeito mais arrasador disso tudo deve ser sentido nos setores que mais empregam no município, como a própria mineração; a construção civil e o comércio, que faturam com o poder de compra da mão de obra empregada; e a administração pública municipal, que sobrevive majoritariamente à custa da movimentação da indústria extrativa.
Essa questão vem sendo discutida por André Santos desde 2012, quando ele iniciou o mestrado.
O Portal Pebinha de Açúcar já havia divulgado muitos estudos dele, inclusive sobre a exaustão das minas de Serra Norte, e muitos não acreditaram e até disseram que seria especulação uma possível crise. Sobre isso, ele diz que “o assunto não é para brincadeira; a situação econômica de Parauapebas é crítica, já que o preço de sua principal fonte econômica é regulado pelo mercado internacional, e o município, até o momento, não tem outra porta de escape de igual equivalência”.
Reportagem especial: Bariloche Silva – Da Redação do Portal Pebinha de Açúcar
Foto: Arquivo