Apesar do anúncio da Organização Mundial da Saúde, que suspendeu temporariamente os estudos do medicamento de hidroxicloroquina em pacientes acometidos pelo novo coronavírus, a Secretaria de Estado de Saúde do Pará (Sespa) informou na tarde esta segunda-feira (25) que, por enquanto, a medicação continuará sendo prescrita e utilizada no Pará, em casos específicos. A secretaria não esclareceu, até o fechamento desta edição, contudo, se haverá mudança de protocolo a partir do anúncio da OMS.
De acordo com a Sespa, já foram distribuídos mais de 1 milhão de comprimidos de hidroxicloroquina e cloroquina desde o início do combate à pandemia em território paraense, em meados de março deste ano. A secretaria destacou, contudo, que os medicamentos para tratamento da Covid-19 no Estado devem ser obrigatoriamente prescritos pelo médico. O profissional de saúde, deve, ainda, conforme afirmou a Sespa, “orientar os pacientes e familiares sobre possíveis riscos e efeitos colaterais da medicação, cuja eficácia no tratamento da doença ainda não foi comprovada”.
Os estudos que vinham sendo feitos sobre o uso da hidroxicloroquina para pacientes acometidos com o novo coronavírus foram interrompidos após a ausência de comprovação de êxito no combate ao novo coronavírus. A suspensão foi anunciada nesta segunda-feira, 25, pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Segundo ele, haverá agora uma avaliação sobre o medicamento, para se decidir se esses estudos serão retomados ou devem ser interrompidos de modo permanente.
O estudo foi publicado na sexta-feira passada, 22, na revista científica The Lancet. A publicação britânica mostrou em um levantamento que pacientes com coronavírus que tomavam cloroquina e hidroxicloroquina tinham taxas de mortalidade superiores às de outros grupos, no mais recente estudo a contestar os eventuais benefícios desses medicamentos contra a covid-19, com o agravante de que eles podem causar problemas cardíacos em parte dos pacientes. Um novo posicionamento sobre o udo do medicamento deve vir a público dentro de até duas semanas.
NO BRASIL
Na quinta-feira passada, 21, o Ministério da Saúde divulgou uma nova versão do documento técnico no qual recomenda que médicos receitem a cloroquina e a hidroxicloroquina mesmo em casos leves de Covid-19. Inicialmente, as orientações do Ministério da Saúde falavam em “tratamento medicamentoso precoce” para pacientes com a Covid-19. Nesta versão atualizada do documento, os técnicos da pasta substituíram a palavra tratamento pela palavra manuseio.
Além disso, o documento publicado no dia 19 deste mês dizia que os estados já tinham protocolos próprios de “associação de fármacos”. A versão divulgada na semana é mais direta e afirma que estados, municípios e hospitais particulares “já estabeleceram protocolos próprios de uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para tratamento da Covid-19”.
O documento anterior dizia que o Conselho Federal de Medicina (CFM) autorizava o uso de cloroquina, a nova versão traz ressalvas à recomendação. A primeira versão era direta e dizia que o CFM “autorizou a prescrição médica da cloroquina”. Depois de uma versão revisada, o trecho foi reescrito e agora diz que o conselho “propôs a consideração da prescrição de cloroquina e hidroxicloroquina pelos médicos, em condições excepcionais, mediante o livre consentimento esclarecido do paciente”.
Há ainda uma ressalva da Sociedade Brasileira de Cardiologia. A entidade recomenda a realização de eletrocardiogramas nos primeiro, terceiro e quinto dias em todos os pacientes que estejam em tratamento com a cloroquina.
Já o Conselho Nacional de Saúde (CNS) pediu a suspensão das orientações do Ministério da Saúde que recomendam o uso de medicamento anti-malárico para casos leves de Covid-19. Em nota publicada na sexta-feira, 22, a entidade reforçou que não há eficácia comprovada para prevenção ou tratamento da doença. A entidade pediu que o “governo federal desempenhe seu papel na defesa da ciência e a redução da dependência de equipamentos e insumos, construindo uma ampla e robusta produção nacional”. Além disso, foi enviado um pedido ao Ministério Público Federal (MPF) para que o órgão fiscalizador atue em “defesa da sociedade brasileira”.