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MAIS MINÉRIO, MENOS EMPREGO: Vale bate recorde de produção à custa do minério de Parauapebas

Minas de N4E, N4W, N4WS e N5, na Serra Norte de Carajás, município de Parauapebas. É daí, desse complexo minerador denominado Sistema Norte, que a mineradora Vale retirou a maior fatia do minério de ferro que ela vendeu no primeiro semestre deste ano e fez de seu segundo trimestre (correspondente aos meses de abril, maio e junho) o melhor da história, em se tratando de produção física.
Isso é o que a própria Vale acaba de anunciar nesta manhã de quinta (23), no Rio de Janeiro, a investidores do mundo inteiro.

Da porta do prédio da Vale, na cidade do Rio, local dos holofotes e tomadas de decisão que interessam à empresa, à portaria de acesso a Carajás, em Parauapebas, de onde sai o melhor minério de ferro do globo, são 2.722 quilômetros, um distância tão grande quanto o fosso social que impera em Parauapebas, município assentado sobre muito minério e imerso em mazelas sociais que destoam do que sempre foi propagandeado a seu respeito: um dos mais ricos do Brasil em Produto Interno Bruto (PIB).

No primeiro semestre deste ano, a Vale retirou de Parauapebas 59,13 milhões de toneladas (Mt) de minério, com teor médio de ferro de 65,1%. É 12,3% a mais que o retirado no mesmo período do ano passado, um volume de 52,65 Mt.

Na prática, os números de produção da empresa cruzados com indicadores sociais de Parauapebas para o mesmíssimo semestre apontam que a Vale aumentou sua produção física na Serra Norte na mesma velocidade em que a arrecadação local caiu assombrosamente e o desemprego cresceu – e esta questão, para quem não está no Rio de Janeiro, e sim em Parauapebas, é mais grave e desesperadora. O município produtor de minério ganhou, no semestre, mais 2.168 novos desempregados, e a tendência é piorar.

O MINÉRIO ‘NOSSO’…

Detalhadamente, a Vale retirou das minas parauapebenses 27,52 Mt de ferro no primeiro trimestre deste ano e outros 31,61 Mt no segundo trimestre. Além disso, retirou também mais manganês da mina do Azul: foram 346 mil toneladas (t) no segundo trimestre e 407 mil t no primeiro trimestre, totalizando 753 mil t no primeiro semestre deste ano, o que representa crescimento de 7,4% em relação à produção de manganês do ano passado.

Somando todo o minério de ferro que retirou Brasil afora no primeiro semestre de 2015, a Vale totalizou 159,8 Mt, muito mais que os 150,5 Mt do primeiro semestre de 2014. Além do complexo minerador de Sistema Norte (ou Carajás), que compreende as serras Norte (Parauapebas), Sul (Canaã dos Carajás) e Leste (Curionópolis), a Vale opera os sistemas Sudeste e Sul, no Estado de Minas Gerais, e Centro-Oeste, no Estado de Mato Grosso do Sul. Mas está aqui no Pará o melhor produto e, inclusive, o motivo do crescimento da produção este ano: melhores condições climáticas da mina de N4WS, em Parauapebas.

…E O LUCRO DELES

Apesar do crescimento da produção física da empresa, o que os investidores – que nada têm a ver com Parauapebas e seus macroproblemas socioeconômicos – querem mesmo é saber o resultado financeiro da empresa, que deve ser divulgado no próximo dia 30. É que, embora a quantidade de minério de ferro produzida tenha aumentado, o preço da commodity foi mal das pernas durante o semestre, e isso impacta nos ganhos, lucros e resultados da mineradora e seus acionistas.

No tocante a Parauapebas, que nada teve a comemorar no semestre, nem é preciso esperar o dia 30 de julho para saber os efeitos do preço baixo do minério. Isso porque a Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem), os royalties de mineração, uma das principais fontes de receita do município, caiu drasticamente no semestre, atingindo seus menores valores dos últimos cinco anos. De uma média de R$ 30 milhões por mês, os royalties afundaram a R$ 10 milhões. No final das contas, é possível dizer que, enquanto a população de Parauapebas cresce e seus problemas ampliam-se, suas finanças mínguam.

O maior volume extraído, para além de encher o ego da Vale perante seus concorrentes globais, só é bom para o Governo do Estado do Pará, que lucra à custa de Parauapebas em cada tonelada de minério – seja ele ferro ou manganês – extraído, particularmente com a Taxa de Fiscalização de Recursos Minerais (TFRM), que desde que entrou em ação, em 2012, já botou quase R$ 1 bilhão na conta de governo administrada por Simão Jatene, grande parte desse valor oriunda de Parauapebas – fato que até mesmo sua população e seus políticos desconhecem.

E assim, livre, leve e solta, a Vale segue firme em sua sina de exaurir o principal recurso mineral da fantasiosa “Capital do Minério”, que, daqui a pouco, assim como já perdeu a graça dos investimentos por parte da mineradora, vai perder sua importância para Canaã dos Carajás tão logo a operação do projeto S11D tenha start-up.
Enquanto isso não acontece, resta torcer para que este segundo semestre de 2015, pelo menos em termos de geração de empregos em Parauapebas, seja “menos pior”. Todo o resto parece muito distante da realidade do município. Mas somente parece.

Reportagem especial: André Santos – Colaborador do Portal Pebinha de Açúcar
Foto: Arquivo

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