O maior estudo sobre potencial de consumo do país, que subsidia grandes marcas nacionais, redes supermercadistas e de varejo, shoppings centers e os maiores veículos de comunicação, está pronto e aponta: dos municípios com mais de 150 mil habitantes (188, no total), Marabá é o que mais cresceu, proporcionalmente, na escalada do poder de compra. Isso quer dizer que a população marabaense tirou a cobra de carteiras, bolsas e bolsos em 2013 e se mostra, agora em 2014, com todo pique para continuar comprando. Elaborado pelo IPC Marketing Editora, o estudo que mede o Índice de Potencial de Consumo (IPC) revela o espantoso crescimento do poder aquisitivo da população de Marabá financiada pelo movimento em ascensão da atividade comercial no município.
Em 2013, os marabaenses despejaram R$ 2,75 bilhões no comércio local. Este ano, a previsão é de que a população gaste R$ 3,27 bilhões no município de cerca de 260 mil habitantes, uma alta de 19% em apenas um ano. É quase o dobro de Parauapebas, que cresceu 10% em nível de consumo, mas que vinha sendo a grande estrela das edições do IPC desde 2006.
Marabá avançou nove casas na escalada capitalista de ter o que se deseja, entre o necessário, o ideal e o supérfluo, passando da posição de número 154, em 2013, para 143, este ano. Ano passado, de cada R$ 100 gastos no Brasil, ao menos nove centavos foram trocados por um marabaense no comércio. Este ano, já são dez centavos.
O aumento de um centavo pode parecer pouco, mas, no frigir dos ovos, fará volume de R$ 520 milhões no comércio local, que tem despertado a cobiça de grandes redes de negócios do Centro-Sul do país, estas as quais miram Marabá como eldorado de gastança em ascensão – desprezados os riscos de falir a população ou deixá-la endividada.
CENÁRIO PARAENSE
Marabá é o 3º maior mercado de consumo do Pará, atrás de Belém e Ananindeua. A capital paraense, cuja população deve torrar R$ 24,66 bilhões em compras ao longo de 2014, é a 13ª maior praça do Brasil. Já Ananindeua, parede-meia com Belém, deve movimentar R$ 6,96 bilhões no comércio, despontando com o 59º poder de compra nacional.
Os tradicionais concorrentes de Marabá, entretanto, são – pelo menos no Pará – os municípios de Santarém, Parauapebas e Castanhal. Santarém, que tem cerca de 40 mil habitantes a mais que Marabá, ficou para trás no quesito poder de compra. É que, embora a “Pérola do Tapajós” tenha apresentado o segundo maior crescimento do país em sua categoria, a população santarena vai gastar R$ 2,99 bilhões, portanto, menos que a população da “Rainha do Tocantins”. Santarém ocupa o 156º lugar entre os 5.570 municípios brasileiros.
Parauapebas perdeu parte do fôlego consumista que apresentou muito bem entre 2006 e 2012, ainda assim permanece à frente de Castanhal, mas cada vez mais distante da força de Marabá. A elevada inflação local e a crise na geração de empregos formais no município, que fez mais de 5 mil perderem renda mensal, associados à abertura de atrações comerciais regionais mais interessantes fora de seus domínios, saturaram a “Capital do Minério”, que, apesar de tudo, ainda tem carta na manga e continua a atrair investidores visionários e grandes empreendimentos focados nos R$ 2,73 bilhões que a população parauapebense tem para entregar até 31 de dezembro deste ano. Parauapebas, quinto em consumo no Pará, está na ordem 168 no Brasil.
Mais discreto, o município de Castanhal – que não chega a ser a terra da ostentação de gastos, como Parauapebas – foi o que apresentou a melhor escalada na lista nacional dos maiores de 100 mil habitantes (298 integrantes). A “Cidade Modelo” está tecnicamente empatada com o paraense Altamira e o baiano Santo Antônio de Jesus, em número de degraus subidos, passando da ordem 239 para a 201. Este ano, o mais populoso município do Nordeste Paraense vai abocanhar R$ 2,27 bilhões em produtos e serviços.
GUERRA DE MERCADO
Marabá tem seu potencial de consumo espiado por redes hoteleiras, supermercadistas e até de alta tecnologia. Fora do Pará, seu nome é sempre lembrado nos conflitos existenciais de “onde investir?”, quando são analisados os principais centros de consumo do país. Contudo, a disputa é acirrada.
Não é tarefa fácil escolher Marabá em meio a centros dinâmicos do Nordeste, como Imperatriz (MA), Mossoró (RN), Campina Grande (PB), Caruaru e Petrolina (PE), Vitória da Conquista, Itabuna e Ilhéus (BA), com os quais a “Rainha do Tocantins” indiretamente concorre. Se todos esses lugares ganham em infraestrutura e saneamento básico, Marabá vence pelas riquezas naturais concedidas pelo Criador e pela produção de riquezas humanas, a exemplo do – tão mal distribuído – Produto Interno Bruto (PIB), além de ser imbatível no quesito crescimento de potencial de consumo.
Teoricamente, o município paraense perde a briga para mercados caducos e supersaturados do Centro-Sul, muitos dos quais falidos financeiramente, mas com excelente e incontestável nível de qualidade de vida, notadamente nas áreas de educação e saúde. No entanto, ganha na prática porque, ao capitalismo, importa o lucro – e como zona de “prosperidade”, Marabá é o destino certo, nem que para isso surja uma geração de endividados.
Em todo caso, a terra centenária é um bom exemplo do fenômeno de dinâmica da interiorização do consumo e se mostra forte candidata a receber investimentos para que uma parte dos R$ 3,26 trilhões que o Brasil tem na agulha para gastar este ano seja consumida localmente. Romper com a velha tradição de acúmulo de gargalos expressos em péssimos indicadores sociais – entre os quais o fosso na distribuição de renda, que possibilita (ou não) o consumo – é seu maior desafio.
Reportagem Especial: André Santos – Colaborador do Portal Pebinha de Açúcar
Foto: Arquivo