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Mercado de Parauapebas “passou o cerol” em quase 200 engenheiros em 2015

Ao longo de três décadas de atuação da Vale na Serra Norte, para extração de minérios de ferro e manganês, a indústria extrativa atraiu cerca de 500 engenheiros de minas, 300 geólogos, quase 200 engenheiros mecânicos e eletricistas, igual número de engenheiros de produção e civis, uma centena de engenheiros de segurança do trabalho e, em menor quantidade, engenheiros ambientais, florestais, de telecomunicações e da área de informática, entre outros ramos.

Na década passada, com o crescimento urbano acelerado da sede municipal, à sombra da implantação e funcionamento dos projetos em Carajás, Parauapebas tornou-se um dos dez municípios brasileiros que mais aumentaram sua população no período entre os censos de 2000 e 2010 e que, também, mais viram surgir apartamentos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a maior parte deles para locação. Aqui fervia um caldeirão de engenheiros civis, por todos os lados da cidade, que trabalhavam erguendo prédios comerciais e residenciais, hotéis, lojas, galpões.

Por isso, num período de dez anos, particularmente de 2008 a 2012, Parauapebas chegou a ter mais engenheiros civis que grandes capitais, como Belém ou Goiânia, por exemplo. Eram obras que pareciam não ter fim, espalhando-se pelos quatro cantos da então cidade próspera. Foi em 2008, aliás, que a Universidade Federal do Pará (UFPA), de olho no filão da construção, fez desembarcar aqui duas turmas de Engenharia Civil, com 30 alunos cada, para que, após formados, os profissionais aproveitassem o “boom” dos novos empreendimentos.

DESILUSÕES

Enquanto as turmas de Engenharia Civil da UFPA se iniciavam em Parauapebas, em 2008, em Marabá a primeira turma de Engenharia de Minas, implantada em 2004 por meio de parceria entre a Vale e a UFPA, preparava-se para formar. As perspectivas do final da década para o mercado de trabalho em Parauapebas, na construção civil e na mineração, eram excelentes – e foram.

Atualmente, porém, o cenário é outro. Ano passado, os dois mais promissores setores de Parauapebas bateram recorde de demissão de profissionais: 82 engenheiros de minas e 45 engenheiros civis que trabalhavam com carteira assinada ganharam as contas, de acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Somados todos os ramos de Engenharia em que foram registradas demissões, 198 engenheiros perderam emprego em Parauapebas, e apenas o ramo da Elétrica registrou mais admissões que desligamentos.

O engenheiro civil Jader Menezes, primeiro colocado no vestibular pioneiro que ofertou vagas em Engenharia Civil em Parauapebas, oito anos atrás, está fora do mercado celetista de trabalho da engenharia e percebe o drama que sua categoria profissional vive. Ele está empregado – tem outra formação acadêmica e é servidor público concursado –, mas analisa que muitos colegas seus têm sentido as desesperanças da carreira. “A onda de demissões é generalizada”, afirma.

TEMPOS ÁUREOS

Em 2011, Parauapebas via nascer 10 novas obras por dia

“O cenário mudou dos meus tempos de universitário para hoje. Entre 2008 e 2012, Parauapebas viveu o apogeu do mercado imobiliário, com construções sendo erguidas a todo momento”, observa o engenheiro Jader Menezes. E ele tem razão.

Um levantamento do jornal O Estado de São Paulo em 2012 revelou que, no auge do frenesi imobiliário, Parauapebas chegou a ter nove novas construções de apartamentos por dia. Em nenhum outro lugar no Brasil se construiu tanto, destacou a reportagem de um dos mais influentes jornal do país. Parauapebas saltou de 79 apartamentos em 2000 para 5.836 em 2010, e de lá para 2012 o número ainda cresceu 50%.

“Hoje, porém, estamos assistindo à desaceleração da economia, em nível nacional, e o efeito de encerramento dos trabalhos de implantação e ampliação das minas em Carajás aliado à queda no preço do minério de ferro, aqui em Parauapebas. Assim, muitas empresas de construção civil que detinham grandes contratos em Carajás acabaram encerrando suas atividades e demitindo engenheiros locais”, explica Jader Menezes, de acordo com quem muitos profissionais foram embora para Altamira, tentar a sorte nas obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, e Canaã dos Carajás, que contratou muitos engenheiros, de diversos ramos, para trabalhar tanto no projeto S11D quanto no Ramal Ferroviário Sudeste do Pará.

CANAÃ ROUBA A CENA

Atualmente, o polo dinâmico de trabalho para engenheiros vai perdendo sua posição para o vizinho Canaã dos Carajás, parido (emancipado) de Parauapebas. De 2014 para cá, 300 engenheiros ficaram desempregados aqui no município, o que, em termos de massa salarial, implica quase R$ 20 milhões de impacto ao mercado local, embora muitos engenheiros preferissem gastar seus gordos salários muito longe de Parauapebas e até do Pará. Apenas ano passado, o município perdeu R$ 11,5 milhões com demissões desses profissionais.

Ao passo em que Parauapebas demitiu 300 em dois anos, Canaã empregou cerca de 200 profissionais da engenharia, a maioria deles dos ramos Civil, Mecânica e Produção. Quando a operação de S11D for iniciada, serão necessários 100 engenheiros, 60 deles de minas, conforme detalhado no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do Projeto Ferro Carajás S11D. elaborado pela consultoria Golder Associates e encomendado pela Vale. Geólogos, engenheiros mecânicos, eletricistas, ambientais, de produção e de segurança do trabalho também vão ser contratados.

Por aqui, as perspectivas para Parauapebas, em 2016, são de mais demissões. Alguns ramos da engenharia estão com seus estoques praticamente vazios – isto é, um ramo que empregava já não tem mais profissional com carteira assinada porque todo mundo perdeu o emprego.

Jader aponta como uma das saídas para o engenheiro desempregado a continuidade da qualificação, por meio de cursos de pós-graduação. “Fazer mestrado, atualmente, virou a grande pedida, especialmente nestes tempos de crise. O magistério superior, hoje, já paga até mais que o piso sugerido pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia [Confea]”, informa, destacando que o Serviço Público tem o bônus da estabilidade, para quem é concursado.

Jader nota que, além das demissões, outro fato grave está desestimulando os profissionais: o achatamento dos salários e cortes de benefícios por parte do empregador. “É uma bola de neve que, nas relações de trabalho, sujeita o profissional a ganhar menos trabalhando muito mais, já que o sortudo que se mantiver no posto vai ter de desempenhar também a função do colega que foi demitido”, esclarece.

Dados atualizados nesta sexta-feira (19) pelo Confea apontam que o Pará possui 18.191 engenheiros. Por outro lado, um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que 59% dos engenheiros não estão trabalhando na área de formação. Em Parauapebas, sete de cada dez engenheiros trabalham fora do ramo ou muito pior: estão desempregados.

Crise no mercado de trabalho para engenheiros em Parauapebas (PA)

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, 2016. Elaboração Própria.
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, 2016. Elaboração Própria.

Nota: Nos ramos Minas, Civil, Produção e Elétrica, estão incluídos cargos de gerência que exigem formação específica nas respectivas áreas.

Reportagem especial: André Santos – Colaborador do Portal Pebinha de Açúcar

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