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MPF processa Vale, União e Estado do Pará pela contaminação dos indígenas Xikrin do Cateté por metais pesados

O Ministério Público Federal (MPF) entrou, na última sexta-feira (21), com ação contra a mineradora Vale, a União, e o Estado do Pará devido à contaminação por metais pesados dos indígenas Xikrin do Cateté, causada pelas atividades da Vale, conforme apontam estudos técnicos. A ação foi proposta na Justiça Federal e busca garantir o acesso imediato e integral ao tratamento médico para descontaminação, incluindo consultas, exames e medicamentos, custeado pela Vale.

Além disso, o MPF exige a implementação de um programa de monitoramento contínuo da saúde da comunidade – conforme obrigações estabelecidas no licenciamento do empreendimento Onça-Puma, da Vale – e a apresentação de relatórios semestrais. O MPF também busca responsabilizar a União e o Estado do Pará a garantir suporte técnico e administrativo e fiscalizar as condicionantes ambientais, respectivamente.

O procurador da República Rafael Martins da Silva enfatiza a urgência da situação, comparando-a com a crise enfrentada pelos Yanomami, que levou a Corte Interamericana de Direitos Humanos a determinar medidas urgentes em 2023 contra a contaminação por mercúrio. O membro do MPF também destacou a responsabilidade objetiva da Vale, conforme a legislação ambiental brasileira.

Contexto – A Terra Indígena (TI) Xikrin do Cateté, onde vivem 1,7 mil indígenas, está localizada no sudeste do Pará e é irrigada pelos rios Cateté e Itacaiúnas. A TI está rodeada de empreendimentos minerários da Vale, com destaque para a mina Onça-Puma, de exploração de níquel.

Os indígenas estão sendo diretamente contaminados pela disseminação de metais pesados nos rios Cateté e Itacaiúnas, decorrente das atividades mineradoras conduzidas, sobretudo, pela Vale e licenciadas pelo Estado do Pará, aponta o MPF.

A ação registra que a contaminação dos indígenas Xikrin do Cateté vem sendo denunciada por instituições e pesquisadores e está amplamente comprovada por análises técnicas. Esses estudos revelam a presença alarmante de substâncias tóxicas como chumbo, mercúrio, bário, lítio e manganês nos organismos dos indígenas, impactando diretamente sua saúde e qualidade de vida.

Impactos – Os impactos dessa poluição são diretos e devastadores, refletindo-se no aumento expressivo de doenças crônicas, malformações congênitas e no agravamento das vulnerabilidades sanitárias da comunidade indígena, indica a ação.

De acordo com o MPF, estudos técnicos, como o “Relatório da campanha de averiguação de metais pesados em excesso nos organismos dos indígenas Xikrin do Cateté”, confirmam que 99,7% dos 720 indígenas analisados apresentam níveis alarmantes de elementos químicos em seus organismos, sendo 98,5% contaminados por metais pesados perigosos. O relatório foi coordenado pelo professor Reginaldo Saboia de Paiva, da Universidade Federal do Pará (UFPA).

A pesquisa, realizada em maio de 2024, revelou casos graves, como uma jovem de 19 anos com 2.326% de níquel acima do limite seguro e uma criança de um ano com altos níveis de alumínio, bário e chumbo.

“A contaminação humana por excesso de metais pesados é calamitosa e praticamente exibida em 99% dos indivíduos da reserva e necessita de atenção imediata das autoridades na aplicação de medicina especializada em busca da desintoxicação dos indivíduos da comunidade Indígena Xikrin”, ressalta o pesquisador Reginaldo Saboia.

“A disseminação desses poluentes no ambiente também compromete fontes tradicionais de sustento dos Xikrin, como a pesca e o uso da água para consumo e atividades diárias, ampliando o risco de contaminação e perpetuando um ciclo de doenças e degradação socioambiental”, alerta o procurador da República Rafael Martins da Silva.

 

Processo 1001462-67.2025.4.01.3901

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