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PARAUAPEBAS 33 ANOS: Léo da Ceverbrás: o jovem que jogava bozó à luz de lamparina e tornou-se empreendedor

– Seu Manoel, quanto o senhor me cobra para levar minha mudança, minha carroça e minha jumenta para o povoado de Parauapebas, no Pará?
A pergunta foi feita no primeiro semestre de 1982 pelo senhor João Tragino, mais conhecido por “Velho da Jumenta” ou “Velho da Jega”, ao comerciante Manoel Alves de Sousa, conhecido em Chapadinha, no Maranhão, como “Manoel Valdemiro”. Seu Manoel tinha um caminhão Ford amarelo abóbora, motor Detroit, comprova peixe no Lago Açu e vendia na capital, São Luís, e às vezes fazia frete em seu caminhão também. João havia conhecido Manoel no vizinho município de Lago Verde, também no Maranhão. (Lago Açu é hoje o importante município de Conceição do Lago Açu, a 352 km de São Luís, na baixada maranhense. É o maior lago natural do estado. E a baixada maranhense é dos maiores centros pesqueiros do Maranhão).

Antes de viajar para o Pará, porém, e antes mesmo de se casar, Seu Manoel teve um relacionamento ainda muito jovem e foi pai bastante novo do Carlos Alberto, que anos depois passariam a morar em Parauapebas.

Primeira carroça que entrou em Parauapebas
Manoel e João chegaram a um acordo sobre o valor do longo frete e fizeram a viagem para Parauapebas. A viagem foi tranquila, apesar das estradas esburacadas, e tempos depois a jumenta do Seu João Tragino acabou parindo gêmeos, ou seja, dois burrinhos. E a carroça do João da Jega foi a primeira a entrar no então povoado de Parauapebas.

Seu Manoel, que voltaria em uma semana para Chapadinha, gostou do povoado – que crescia rapidamente – e acabou ficando por aqui. Em Parauapebas, passou a ser conhecido por “Manoel do Ford”, por ter dois caminhões da Ford. Trabalhou em Carajás na Paranapanema, com seu caminhão fichado, e depois na Corjan, com outro caminhão Ford azul. Depois de trabalhar fichado nestas duas empresas, Seu Manoel resolveu abrir uma cerealista em Parauapebas, bem no centro do povoado, na hoje Av. JK, no local onde atualmente funciona a loja Só Colchões, na esquina com a Rua Sol Poente, em frente à Praça do Cidadão, que à época era apenas um campo de futebol.

Três anos depois – 1985 – Manoel trouxe a esposa Maria de Jesus Meneses de Sousa e os filhos: Janicleia, Aguilson e Aguinerilson. Aguinel (Léo), Janete e Aguinaldo ficaram no Maranhão. “Fiquei lá no Maranhão para continuar meus estudos”, afirmou. “A minha irmã Janicleia trabalhou muito na área social da prefeitura municipal. Hoje, ela e o esposo Júnior têm uma metalúrgica em Parauapebas”, comenta, demonstrando um enorme carinho pelos irmãos. Quatro anos após a vinda do pai para Parauapebas, ou seja, em 1986, Aguinel veio morar na Capital do Minério e passou a ajudar o pai na cerealista.

E dez anos depois de ter vindo do Maranhão, Seu Manoel voltou para Chapadinha para passear. A família morava em frente ao Clube do Morro na Av. JK, nº 220, que ficava no terreno localizado hoje em frente onde é hoje o Banco do Brasil, no bairro Rio Verde. “O Clube do Morro era bom demais e muito animado, por isso virei festeiro”, disse, brincando, o pioneiro. A mãe dele, Dona Maria, morreu há 15 anos.

Infância
Lá no Maranhão, o menino Aguinel aproveitou bem a infância jogando peão, bola de gude, futebol, soltando pipa e aproveitando todas as brincadeiras da época. Lá em Chapadinha ele estudou o ginásio e em Parauapebas fez até o segundo ano do segundo grau, hoje ensino médio, mas largou os estudos para “empreender”, como faz questão de ressaltar. Nas horas de folga, ganhava uns trocados ajudando a vender produtos eletrônicos que a irmã Janete comprava no Paraguaio e revendia na cidade. Esperto, ainda garoto, Léo aprendeu a dirigir o caminhão do pai e ajudava também no que podia.

Carteira de motorista
Aguinel Alves Sousa, também conhecido por Léo da Ceverbrás ou Léo do Cacau, nasceu em 17 de abril de 1968, lá mesmo em Chapadinha. Em Parauapebas, já com 18 anos, ele tirou a Carteira Nacional de Habilitação (CNA) por intermédio da banca da Polícia Militar. Estudou a legislação em um curto espaço de tempo e como já tinha experiência ao volante, passou na prova com facilidade. “O teste de caminhão fiz no Ford Azul do meu pai. (O Ford abóbora já havia sido encostado). O teste de caminhonete peguei emprestada a D10 do também pioneiro Valdir Flausino e o pioneiro Ramalho me emprestou a moto para eu tirar a carteira de habilitação em motocicleta”, recorda.

Fretes
Ele dirigia bastante o “Ford Azul” do pai fazendo fretes em Carajás e chegou a trabalhar 28 dias como manobrista na Belauto, famosa empresa de Belém que trabalhava com locação de veículos. “Fazia muita hora extra. Às vezes trabalhava das 7 da manhã a uma da madrugada. Acho que por isso me dispensaram”, disse, sorrindo.

Cerealista
Após sair da empresa em Carajás, Léo passou a ajudar o pai na cerealista. “Depois, meu pai montou uma cerealista em Jacundá, foi para lá e fiquei administrando a cerealista em Parauapebas, com o apoio do meu irmão, Aguinerilson, que havia trabalhado na Vale e estava liberado para me ajudar. Comprava milho, feijão e arroz na região do Cedere I e revendia. Eu mesmo aprendi a beneficiar o arroz. Conheci todas as vicinais da região”, destacou, acrescentando que o Seu João da Jegue o ajudou muito na entrega de mercadorias na região sudeste do Pará. “Mas para entregar os nossos produtos, comecei em uma carroça, depois passei a ter meu próprio caminhão e até carretas e entregávamos mercadorias em Marabá, São Felix do Xingu, Tailândia, Breu Branco, Itaituba, entre outros municípios”, afirmou.

A cerealista do pioneiro “Manoel do Ford” funcionava na Av. JK, em frente ao campo de futebol, onde hoje é a Praça do Cidadão, no Rio Verde

 

Enquanto isso, Seu Manoel, o pai do Léo, sempre namorador, teve um relacionamento extraconjugal em Jacundá e nasceu mais uma filha: a Caroline.

Farinhas
Já com o nome Ceverbrás – Cerealista Verde Brasil, a cerealista do Léo se destacava na região porque, como empreendedor, comprava feijão em diversos locais do país, incluindo São Paulo, Paraná, Bahia, Pernambuco, Mato Grosso, Rondônia e Rio Grande do Sul, e revendia na região de Parauapebas. “A farinha Dona Maria, cujo nome foi dado em homenagem à minha mãe, comprova em Cruzeiro do Sul; a farinha Brasil adquiria em Santa Maria (PA) e Pernambuco; a farinha Diamante, em Santarém e Santa Maria; a farinha Amazonas, na região de Uruani. A farinha de Uruani eu embalava com alho e a farinha de Cruzeiro do Sul era embalada com coco, para eu revender. O pessoal gostava muito. Acho que fui a único no país a fazer isso”, declarou, acrescentando que na distribuidora vendia também a fécula dona Maria que ele comprava no Paraná e Santa Catarina. “E vendíamos também arroz e feijão, que eu adquiria nas colônias de Parauapebas, com destaque para a área do Cedere”, afirmou. Léo disse ainda que o pecuarista Rafael Saldanha deu a dica para ele e chegou a ir à região de Barreiras, na Bahia, comprar feijão e revender em Parauapebas e até na região de Itaituba, no Pará.
Léo tornou-se o primeiro empresário do ramo a empacotar farinha no Pará e um dos maiores distribuidores de arroz, feijão e farinha do sul e sudeste do estado.

O último casamento e a morte do pai
Seu Manoel morou a maior parte da vida em Parauapebas e alguns anos em Jacundá, totalizando 34 anos no Pará. Em 2016 retornou para Chapadinha e lá no Maranhão conheceu uma jovem de 30 anos e passou a ter um relacionamento com ela. Foi a última grande paixão dele. Em junho de 2020, aos 78 anos de idade, Seu Manoel morreu vítima de covid.

O pai do Léo,” Manoel do Ford”, fez um frete do Maranhão para o povoado de Parauapebas, acabou se apaixonando pelo local e tornou-se um pioneiro

 

Sociedade
Em 2014, Léo desfez a sociedade com o irmão Aguinerilson e ficou com a Fazenda Asa Boi Forte comprada na área da Paulo Fonteles e o irmão com a distribuidora no Bairro da Paz. “Na fazenda, estou criando gado de corte e plantando 25 mil pés de cacau, além de mamão”, afirmou.

A feira
“Não existia a Praça do Cidadão. Lá era um campo de futebol e aos domingos acontecia a feira e lá também eu revendia feijão e milho. Depois a feira passou a ser permanente”.

Chácara do Cacau
Há 12 anos Léo comprou uma chácara de 10 alqueires, na área da Vs10, com bastante castanheiras e 30 mil pés de cacau. “A chácara era do Nelson Verneck, que vendeu para o Antônio Barbudo, que passou para o Messias, de quem eu comprei. Sempre trabalhei muito e sempre gostei de atuar como empreendedor”, destaca.

Emancipação
O jovem motorista Léo ganhou até uma novilha do pioneiro Milton, pai do pecuarista Hamilton Ribeiro, para ir buscar as pessoas nas colônias da região para votar no plebiscito. “Eu votei no plebiscito e fiz campanha pela emancipação política e administrativa de Parauapebas”, afirmou. “Ainda cheguei a dirigir uma caminhonete com o capitão Saldanha, comandante do Batalhão da Polícia Militar, para ele inspecionar a votação do plebiscito na cidade”, recorda.

Divertimento
“Sempre me diverti muito em Parauapebas, porque a boemia é um combustível para você se preparar para o outro dia, ou seja, a bateria para a gente recarregar as energias para o outro dia de trabalho. Se você gasta, você precisa ganhar dinheiro de novo para poder se divertir depois”, explica.
Ele recorda com emoção dos locais que se divertia em Parauapebas na época de juventude. “Ia muito ao Clube do Morro, em frente da minha casa na Av. JK, mas fui também ao Fox Clube em frente à Praça Mahatma Gandhi, (onde hoje funciona o Açaí, que depois virou Flaycar; ao Nacional Clube, em frente à Praça de Eventos, onde funcionou a Câmara de Vereadores e na Asfepe, perto da portaria da Vale, também conhecido por Clube da Vale, além do Pit Dog do Jorge, que antes montou um carrinho de lanche em frente ao antigo Bamerindus, na Rua do Comércio. Lembro também da lanchonete do Sérgio da Gaúcha em frente ao Clube do Morro (a lanchonete ficava onde hoje é o Banco do Brasil) e sempre ia lá fazer um lanche”, lembra.

Show pirotécnico
“Assisti um belo show pirotécnico em Pimenta Bueno, em Rondônia, do paulista Claudemir dos Anjos, durante um evento de Motocross e aquilo me chamou a atenção. Quando cheguei a Parauapebas falei com o hoje vereador Zacarias, que era o coordenador da Facipa, a Feira do Comércio e Indústria, que antecedeu a atual Feira de Agronegócios de Parauapebas – FAP, ele topou e fizemos um grande show pirotécnico em frente ao estádio Rosenão, no Liberdade”, disse Léo.

Casamento
Léo se casou em 1992 com a dona de casa Maria Iris Damasceno, filha do pioneiro Antônio Gomes Damasceno. “Era a moça mais bonita de Parauapebas”, disse, sorriso e demonstrando felicidade. O casal tem três filhos: Juliana, bioquímica da Policlínica da prefeitura de Parauapebas, Gustavo, empresário, e Igor Damasceno, engenheiro civil da prefeitura municipal.

 

Lamparina
Ao recordar de coisas curiosas da cidade, Léo da Ceverbrás lembra com carinho do uso de lamparina em algumas situações. “Antes da energia elétrica chegar à cidade, muitos locais eram iluminados por lamparinas ou por lampiões a querosene. A cada dia surgiu uma coisa na cidade. A energia elétrica chegou primeiro ao bairro Cidade Nova, que era considerado o bairro dos ricos. Lembro que o Gesmar, o ex-deputado estadual, tinha um jogo de Bozó na feira e às vezes ia para frente do Cinema do Cabeludo, em frente ao campo de futebol (atual Praça do Cidadão), e a gente jogava nos dados pintados com os emblemas dos times de futebol: Paissandu, Flamengo, Botafogo, Vasco, Fluminense, São Paulo, entre outros. Mas sempre quem ganhava mesmo era o dono da banca (risos). O Cinema do cabeludo apresentava filmes do Tarzan, faroeste e de Kung Fu. O pessoal saía do cinema do Cabeludo e ia para o Clube do Morro ou para os clubes no Cidade Nova e outros iam para os cabarés na Rua do Meio. Eu nunca gostei de cabaré, preferia ia para os clubes”, disse ele.

Parauapebas
“Valeu a pena ter vindo para cá. Parauapebas, em nível mundial, é imbatível. A cada dia que passa a cidade nos surpreende. É a Capital do Minério e fora de Belém, não tem igual. É uma cidade com gente chegando de todo canto diariamente e aqui você pode se alimentar qualquer hora do dia e da noite, igual a outras capitais e é um lugar maravilhoso”, afirmou, prevendo que Parauapebas ainda terá muitos anos de fortalecimento de sua economia pela frente. “Acredito que venha por aí o Salobo 8, fora outras minas menores, e teremos aí a exploração do minério por mais 100 anos, ou seja, ainda teremos uma alavancada muito grande da cidade”, prever o pioneiro Léo.

Amor pela cidade
“Parauapebas representa tudo para mim. Tenho um grande amor por esta cidade. Aqui fiz minha vida, consegui condições e equilíbrio, e adquiri terrenos em áreas nobres na cidade e tenho uma família estruturada, fiz minha vida e criei meus filhos maravilhosos”.

Política
Léo sempre gostou de política e foi candidato a vereador em 2000 e em 2008 e a prefeito em 2020.

Parque Ecológico
O sonho do Léo é que sua chácara na VS 10 seja adquirida pela prefeitura municipal para ser transformada em um grande parque ecológico, a exemplo do Bosque Gonzaguinha, em Canaã dos Carajás (PA) e o Bosque Rodrigues Alves – Jardim Zoobotânico da Amazônia, em Belém, com muita área verde e local para se fazer caminhada na floresta e aproveitar bons momentos de lazer. “Lá, hoje em dia, eu faço é doar sementes para quem deseja plantar mogno ou castanha do Pará”, disse ele.

Por ser empreendedor desde menino, ter acreditado no potencial econômico de Parauapebas desde 1984, ter amor pela cidade, ter consciência ambiental e lutar a cada dia pelo fortalecimento do município, Léo da Ceverbrás é nosso homenageado de hoje do projeto Entrevistas com Pioneiros.

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