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Pronto: confirmado. Enquanto a imprensa nacional vai embarcar em “releases” pirotécnicos da mineradora multinacional Vale, replicando seus números colossais de produção física de minérios assinados em seu “Relatório de Produção da Vale no 4º Trimestre”, um alerta se abate sobre Parauapebas: as jazidas do principal produto e sustentáculo das contas locais estão se exaurindo de maneira alucinante, bem debaixo do nariz de seus 200 mil habitantes. O que ficará depois?

A mineradora Vale acaba de anunciar a retirada de 148,1 milhões de toneladas (Mt) de minério de ferro com teor de pureza acima de 62% do complexo minerador de Carajás, entendido nos planos dela como Sistema Norte de produção. Esse sistema Norte compreende as minas de N4 e N5, na Serra Norte, dentro do município de Parauapebas; SL1, na Serra Leste, nos limites do município de Curionópolis; e S11D, na Serra Sul, dentro da extensão do município de Canaã dos Carajás.

Em 2016, foram contabilizados 141,2 Mt nas minas de Parauapebas, conforme o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) já havia informado, e 6,9 Mt na mina de Curionópolis; Canaã não teve produção comercial divulgada pelo MDIC, embora se saiba que de lá saíram “carradas” da commodity. Em comunicado, a multinacional diz que sua produção anunciada instantes atrás “representa um aumento de 18,6 Mt (14,3%) em relação a 2015, principalmente devido à performance operacional acima mencionada e ao start-up com sucesso da mina e planta de S11D” no último trimestre de 2016. Apenas nos últimos três meses do ano, a Vale lavrou mais de 40 Mt da região, uma verdadeira sangria desatada que esgotará o que temos de mais valioso economicamente em muito breve.

Na geolocalização dos números produtivos da Vale, Parauapebas — cujo nome não aparece uma vez sequer no relatório de 25 páginas que a empresa solta ao mercado financeiro com pompa e circunstância — é o sustentáculo de suas ambições. Mas, dentro do município, grande parte dos moradores geme, seja a Vale causa ou consequência disso, uma vez que a população parauapebense posicionou-se entre as 15 que mais cresceram no Brasil entre os dois últimos censos demográficos, o que acarretou uma miríade de problemas sociais agravados por crise econômica, desemprego, violência e favelização. A indústria extrativa da Vale é quem ergueu Parauapebas e, ao que parece, fá-lo-á sucumbir.

DESILUSÃO

Qualquer recorde da Vale já nem ilude mais. Nem aos funcionários, que dependem dos lucros da empresa para receberem bonificações, nem a um razoável número de cidadãos locais, que passaram a estar cada vez mais atentos às notícias sobre a mineração regional e a formular críticas próprias sobre o material que a mineradora faz circular como forma de adoçar a boca da sociedade.

Aliás, recorde que a multinacional anuncia ao mercado só é novidade para leigos. Antes mesmo de a mineradora disponibilizar sua agenda de divulgações, eu já o havia antecipado em dois momentos, desde o ano passado, analisando seus números de produção de anos anteriores e as perspectivas de mercado. Em 13 de dezembro, contabilizando apenas a produção de minérios de janeiro a novembro, escrevi: <http://pebinhadeacucar.com.br/gulosa-vale-ja-comeu-de-para…/>. Cinco dias após, ainda sem que fosse encerrado o ciclo produtivo de 2016, antecipei a produção: <http://pebinhadeacucar.com.br/sina-de-parauapebas-e-tornar…/>.
Mais recentemente, na publicação de 06 de janeiro, continuei a bater na mesma tecla: <http://pebinhadeacucar.com.br/parauapebas-bate-recorde-de-…/>; e em 20 de janeiro, mais do mesmo para ninguém esquecer: <http://pebinhadeacucar.com.br/vale-vai-divulgar-recorde-em…/>.

NÚMEROS

O dado da Vale que acaba de sair é interessante, do ponto de vista da espetacularização do fato. Não se sabe o que é melhor ou pior: anunciar o crescimento da produção ou prenunciar o aniquilamento de um município produtor que vive à custa da indústria extrativa, e somente dela. E é fácil explicar o porquê.

No dia 31 de março de 2016, quando a Vale registrou seu Relatório Anual junto à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, única entidade a quem parece ser obrigada a dar satisfação de suas operações, a empresa declarou na página 70 do documento haver 2,43 bilhões de toneladas de minério de ferro medidas, provadas e prováveis na Serra Norte, em Parauapebas, nos corpos N4 e N5, que são os economicamente viáveis. Com a produção de 2016 consolidada, a reserva cai para 2,3 bilhões.

Para saber quantos anos ainda se tem de minério economicamente viável das minas em operação, basta-se dividir esses 2,3 bilhões de toneladas pela produção atual, de 141 Mt. Teremos aí mais 16 anos de mineração pela frente em Parauapebas, e só. Menos do que aquilo com que os mais alvoroçados contavam. É leviano enganar uma população inteira anunciando que ainda resta minério para mais meio século, um século ou, muito pior, 500 anos. É uma ingenuidade que rompe os mais de 500 anos de passagem por aqui de Pedro Ávares Cabral.

No atual ritmo de produção da Vale, uma criança nascida hoje, e que será adolescente na década de 30 deste século, só ouvirá falar no “minério de ferro de Parauapebas” em textos antigos de conscientização de que os produtos da mineração são recursos finitos.

A própria Vale confirmou, na página 71 do relatório de 2016, que a Serra Norte esgota os minérios em 2034, dada a velocidade de produção — que, diga-se de passagem, ainda nem atingiu o pico. Vão restar o ferro de Serra Leste, em Curionópolis, previsto para durar até 2066; e o do bloco D, do corpo S11, na Serra Sul, município de Canaã, que deve se exaurir em 2065. A nova previsão de exaustão, mais atualizada pela Vale, sai em abril próximo, com piora nas projeções referentes às minas de Parauapebas.

O que restará da “Capital do Minério” sem minério? Cada recorde da Vale deve, sim, ser divulgado porque acumula o fim da linha para Parauapebas.

Sem a indústria extrativa de ferro hoje, 55% da receita local desaparecem. Agora, cada recorde ser celebrado por aqui são outros quinhentos. E o ferro não aguentará mais esse tanto de tempo, para desilusão dos amadores e enamorados.

Reportagem: André Santos – Colaborador do Portal Pebinha de Açúcar

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Ei, Psiu! Já viu essas?

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