Se, atualmente, os municípios paraenses de Altamira, Canaã dos Carajás e Marabá estão entre os 50 que mais criam postos de trabalho com carteira assinada em todo o Brasil, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, divulgados esta semana, a notícia não é animadora para quem mora em Parauapebas, considerada a “Capital do Minério” e uma terra de oportunidades.
O motivo é simples: Parauapebas foi o segundo município brasileiro que mais demitiu e com o segundo pior saldo de contratações, atrás apenas de Porto Velho, capital de Rondônia. Isso mesmo. A “Capital do Minério”, que nas décadas de 1990 e 2000 chegou a abrir mais de 20 mil oportunidades no setor mineral, hoje se vê às voltas com o avanço tecnológico e com a especialização constante dos serviços da indústria extrativa.
Em 2013, de acordo com o Ministério do Trabalho, enquanto Altamira abriu 15.053 oportunidades com carteira assinada, posicionando-se como a nova maior empregadora do país, Parauapebas mandou à rua da amargura 5.795 pessoas. A desmobilização de algumas frentes de trabalho nas minas, a especialização das atividades e a perda de investimentos no setor mineral para a vizinhança, somadas a um estrangulamento social e a previsibilidade de exaustão das jazidas, talvez sejam alguns dos fatores que expliquem os números do Caged para a “Capital do Minério” e, também, as diversas placas de “vende-se” e “aluga-se” espalhadas em sua área urbana.
ALTAMIRA
Hoje, o Brasil tem 5.570 municípios, e Altamira é o único – e pela primeira vez na história – a desfilar entre as dez maiores fronteiras de oportunidades Brasil adentro. Turbinada pela construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que vez por outra empaca em razão das manifestações e polêmicas de que é alvo, a “Princesinha do Xingu”, com 105 mil habitantes, intimida até metrópoles com quase 3 milhões de moradores, como Salvador, capital baiana, que criou 16.738 vagas no ano passado.
Estimativas não oficiais dão conta de que Altamira ganhou cerca de 30 mil novos moradores apenas em 2013, a maioria trabalhadores nordestinos que se mudaram para lá na esperança de arranjar emprego nas obras de Belo Monte. E deve não ser mentira, a julgar pelo movimento na rodoviária de Marabá, principal ponto de partida direto rumo a Altamira.
Há três anos, do Terminal Agrorrodoviário “Miguel Pernambuco”, no Km 6, apenas duas vans partiam de Marabá a Altamira por dia. Hoje, a média é de uma van – lotada de pessoas sentadas e em pé – por hora. Há dias em que saem até 30 carros entupidos de candidatos a emprego na “Princesinha do Xingu”, atual rainha de emprego no Pará.
Por outro lado, no mesmo mapa em que Altamira emerge como capital do emprego, surgem, ainda mais avassaladores, os problemas sociais, que chegam nas malas daqueles que se dirigem ao município, mas não conseguem se empregar. Esse número, sem dúvidas, é muito maior do que aqueles que conseguem encontrar o doce sabor da carteira assinada.
CANAÃ DOS CARAJÁS
A 70 quilômetros de Parauapebas está a cidadezinha que mais recebe investimentos privados no Pará e a segunda que mais emprega no Estado. Com 4.488 postos com carteira assinada gerados ao longo de 2013 e desfilando na 42ª colocação nacional, Canaã ocupa um lugar confortável que nem mesmo Belém, capital paraense de quase 1,5 milhão de habitantes, sonha em estar.
Em Canaã, a mineradora Vale aposta todas as suas fichas para retirar 90 milhões de toneladas de minério de ferro, com 66% de teor de hematita, até – no mais tardar – 2018. É o S11D em ação, o maior projeto de mineração da história da humanidade e em torno do qual estão em jogo cerca de 20 bilhões de dólares para erguer mina, usina, aeroporto, ramal ferroviário para ligar S11D à Estrada de Ferro Carajás (EFC) e duplicar as trilhos da ferrovia.
De Marabá, Parauapebas e Xinguara, principais entrepostos humanos com destino imediato a Canaã, partem veículos entupidos de esperançosos por emprego na “Terra Prometida”, que na próxima década deve se consolidar como o maior produtor de minério de ferro de alto teor do planeta, com a ascensão da Serra Sul, tendo em vista a exaustão das minas de Serra Norte, em Parauapebas.
Com 31 mil habitantes no município, segundo estimativas oficiais, a prefeitura local crê que Canaã já tenha de 40 mil para lá, apenas na área urbana, que tem se expandido como rastilho de pólvora nos últimos dois anos.
MARABÁ
Com 4.126 vagas de emprego formais criadas, Marabá tem o 46º melhor saldo do país, de acordo com o Ministério do Trabalho. Depois de enfrentar uma década negra, com a quase falência de seu setor guseiro, o município mais desenvolvido e movimentado do sudeste paraense volta à cena, apresentando o maior progresso na balança comercial brasileira entre 2012 e 2013, bem como se tornando um dos principais mineradores do país, devido ao projeto de cobre do Salobo.
De olho no filão consumidor adormecido de Marabá, muitas empresas do ramo comercial, particularmente supermercados e lojas de departamentos, fincaram bandeira no “Tigre da Amazônia” – que, agora, sim, começa a fazer jus ao apelido que o colocaram no final da década passada. Atualmente, Marabá é dono de um dos maiores e mais movimentados shoppings da Amazônia, o qual atrai consumidores de todas as redondezas. Ainda tem mais centros de consumo a caminho para abocanhar os R$ 2,75 bilhões da terceira mais badalada praça de consumo paraense.
Ainda assim, a redenção de oportunidades por que passa o município, dono de 19 agências bancárias, ainda não é a ideal. Com 251 mil habitantes oficiais (e ao menos 50 mil “vagando” em subestimativas oficiosas), Marabá tem gargalos que, para os “progressistas” de plantão, travam seu desenvolvimento e a criação de empregos, como um pedral que estaciona a navegabilidade pelo Rio Tocantins. Sem a derrocagem do pedral, uma tão sonhada siderúrgica que a Vale prometeu construir no município não sai. E para muitos, hoje, mesmo com a derrocagem pronta, a siderúrgica não vinga mais.
Mas se esse sonho acabou, Marabá não para e busca novos ares. Jamais se deixará estagnar ou regredir por uma promessa não cumprida. O povo é forte e faz a diferença. As oportunidades do “Tigre” estão apenas no começo.
Reportagem: André Santos