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Parauapebas ultrapassa Belém e se torna município mais rico do Pará

Ultrapassou. O município de Parauapebas já é o mais rico do Estado do Pará, conforme divulgação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na manhã desta terça-feira (17), da pesquisa “Produto Interno Bruto dos Municípios 2011”, cujos dados se referem à produção de riquezas total de cada unidade territorial para dois anos atrás.
Em números, Parauapebas tem Produto Interno Bruto (PIB) total de R$ 19.897.434.661 (dezenove bilhões, oitocentos e noventa e sete milhões, quatrocentos e trinta e quatro mil reais e seiscentos e sessenta e um centavos). Em 2011, a produção de riquezas da “Capital do Minério” superou em mais de 200 milhões à da capital paraense, que foi de R$ 19.666.725.016. Com essa “singela” diferença entre Parauapebas e Belém – quase imperceptível nas estatísticas devido ao fato de os números serem distantes demais da realidade – seria possível construir por aqui 4.614 unidades habitacionais e tirar mais de 18 mil pessoas do aluguel, da galha do pau ou da sarjeta.

O salto dado por Parauapebas o aproxima cada vez mais do topo, entre os municípios mais ricos do Brasil. Dificilmente, o município paraense chegaria sequer à metade da produção de riquezas das metrópoles São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba ou Belo Horizonte. Mas, por ser pequeno e estar na Amazônia, ele intimida.
O IBGE põe na conta da indústria extrativa de minério de ferro o crescimento de praticamente R$ 4 bilhões do PIB em apenas um ano – só a título de comparação, o PIB de Marabá cresceu no mesmo período menos de R$ 200 mil. Entre 2010 e 2011, a “Capital do Minério” foi arrebatada da 33ª posição na lista dos municípios mais poderosos para a 25ª – seu PIB anterior era de R$ 15.947.708.648. Belém ficou encostado a Parauapebas, na 26ª colocação. O Brasil tem atualmente 5.570 municípios.
Com esse avanço de oito degraus na escadaria da riqueza, Parauapebas se tornou o mais estribado município de interior do Norte e Nordeste – título que durante muito tempo pertenceu a Camaçari (BA) – e o segundo mais rico do Norte, atrás apenas de Manaus, que é capital do Estado do Amazonas.
Além disso, com Belém destronado, o Pará se torna a segunda Unidade da Federação a não ter a capital como município mais rico de Estado. Até 2010, apenas Santa Catarina estava nessa condição, visto que Florianópolis, capital, não é o município mais rico, e sim Joinville.

PIB faz vistas grossas à má distribuição de renda; PIB per capita é delírio

Por trás dos números que fazem girar o PIB de Parauapebas está uma cordilheira de minérios que têm sido extraídos desde 1984, na Serra Norte, e que vão acabar mais cedo ou mais tarde. Só este ano, por exemplo, foram minerados do solo do município R$ 26.301.688.723,04 em ferro, manganês, granitos e gnaisse. Em 2015, quando a performance de 2013 for computada pelo IBGE, Parauapebas ainda poderá deixar outros municípios a sua frente para trás. Mas, a partir de 2018, só quem viver verá se a força econômica se manterá a mesma, já que Canaã dos Carajás roubará o centro das atenções no tocante à produção de minério de ferro.
No momento, dos mais de R$ 26 bilhões movimentados pela mineração em 2013, o município recolheu R$ R$ 663.120.491,41 em Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) e a prefeitura local encheu os cofres com R$ 450.805.592,51, a cota-parte dos royalties.

Os números são graúdos, sim; orgulhosos, talvez; mas muito mais preocupantes que comemoráveis. Isso porque, na partilha individual das riquezas totais, o chamado PIB per capita, o de Parauapebas também é elevadíssimo: R$ 124.181,23 (20º entre todos os municípios do país), contudo não reflete a realidade. É como se cada um dos quase 177 mil habitantes (de idosos a bebês) produzisse e recebesse essa bolada em um ano – ou ganhasse um salário mensal de R$ 10.348,43. No frigir dos ovos, os números se mostram um verdadeiro absurdo, e se basear neles para efeito de orgulho é o mesmo que viajar no mundo da lua.
A renda per capita – que é diferente de PIB per capita – de cada cidadão de Parauapebas é de apenas R$ 627,61 por mês. Considerando-se apenas os maiores de 18 anos, empregados, a renda sobe para R$ 1.295,32. Ou seja, está muito longe dos R$ 10.348,43 teóricos, medidos pelo IBGE. Aliás, não mais que 400 pessoas recebem salário de mais de R$ 10 mil no município. Para piorar, a renda per capita parauapebense é menor que a renda média do Brasil, de R$ 1.296,19.

Trocando em miúdos, essa riqueza estratosférica e delirante do PIB fica apenas para quem o produz em grande escala, na extração de minérios. E mais: a riqueza é produzida aqui, porém é levada para fora. E ninguém duvida, visto que os 892 quilômetros da Estrada de Ferro Carajás (EFC) abrem alas ao trem, que conduz ferro e manganês de excelente qualidade para embarcar Atlântico afora.
A Parauapebas, o ônus e os passivos de todo azar. Os salários pagos na indústria extrativa não acompanham a superinflação interna, e tudo é ou se pretende ser mais caro que noutros lugares. A propósito, o salário médio de um trabalhador da mineração, com curso técnico, gira em torno de R$ 3 mil – muitos praticamente se matam para tentar enxertar o contracheque com horas-extras.
Para reforçar o contrassenso do superPIB, entre 2000 e hoje, o número de desempregados, nesta que é conhecida como terra do trabalho, saltou de 3.900 para 7.100, a maioria jovens, com idade entre 18 e 24 anos. E enquanto se torna ainda mais produtiva, investindo em tecnologia de ponta, a indústria extrativa cada vez emprega menos, já que, não raro, uma máquina realiza o trabalho de 100 ou mais homens. Por isso, não passa de 7.500 o número de operários em Serra Norte, contingente que já chegou a 11 mil outrora, conforme dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

‘Capital do Minério’ multiplicou problemas, inclusive ambientais

Na sede urbana de Parauapebas, é visível como o fosso social é colossal. Prédios de dez andares são separados por uma avenida de ocupações irregulares em morros; e encostas e ruas sem asfalto proliferam-se como rastilho de pólvora. O potencial econômico e o PIB em ascensão da região atraíram uma ruma de gananciosos que, ao mesmo tempo em que alegam investir, deixam ônus ambientais de lembrança.
A cidade mais “canteiro de obras” do país, que só vê o gigantismo do PIB nos relatórios do IBGE, mostra-se pujantemente “eficiente” na promoção de crimes contra a natureza. A atração de novas promessas imobiliárias para a milagrosa ilusão de tirar todos do aluguel faz com que o meio ambiente urbano sinta-se convidado a sair para dar passagem à expansão urbana. Por isso, a “tratorização” de morros é vista nos quatro pontos cardeais da cidade como se fosse algo comum e cotidiano.

Para alguns, em curto prazo, é sinal de progresso; para a maioria que resolver fincar morada em Parauapebas, com o decorrer dos anos, se tornará um desconforto porque, para cada morro detonado em área urbana e para cada árvore retirada, uma voçoroca e uma ilha de calor estão certas de se formarem.
A saber, a ilha de calor, segundo cientistas e pesquisadores, decorre da associação entre detonação de morros e encostas, derrubada da vegetação e utilização frequente de materiais de construção. É o modelo de Parauapebas, onde, sem um planejamento urbano claro e atualizado, muito pouco se pode fazer para conter as fronteiras de poeira e a instabilidade geológica causada a cada planalto que vem abaixo e que faz trincar a estrutura do que estiver na vizinhança.

No mais, o progresso do PIB esquentou de vez Parauapebas, literalmente. A sensação térmica na sede municipal está mais elevada a cada ano. Estudos realizados no município, por consultorias ambientais, demonstram que a temperatura subiu de 26,35 graus Celsius (ºC) na década de 1980 para 27ºC hoje. Pode parecer insignificante esse quase um grau, mas é suficiente para modificar todo clima local e afetar profundamente a biodiversidade, provocando desastres ambientais.
A própria temperatura máxima pulou de 32ºC para atingir picos de 34ºC no verão, frequentemente. Por outro lado, o volume de chuvas diminuiu. Antes, o índice pluviométrico anual estava em torno de 2.000 milímetros (mm); hoje, 1.800 mm.
Em linhas gerais, o termômetro que mede o crescimento do PIB se mostra em sentido contrário ao desenvolvimento socioambiental de Parauapebas, onde as aparências proporcionadas pelos números da cara da riqueza enganam.

Reportagem: André Santos

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