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Pesquisa diz que meninas paraenses estão mais compromissadas

A pesquisa “Por ser menina no Brasil – Crescendo entre Direitos e Violências” produzida pela Plan International Brasil e apresentada ontem, em Brasília, revelou que o Pará é o Estado com menos meninas (6 a 14 anos) exercendo algum tipo de trabalho. De acordo com as informações apresentadas pela entidade, que desenvolve programas e projetos voltados para crianças e adolescentes, 82,2% das meninas paraenses responderam nunca ter trabalhado na vida. O percentual é maior do que a proporção nacional de respostas nesse sentido (75,7%) e superior aos resultados de outras Unidades da Federação.

O Pará também tinha, no período da apuração da pesquisa, a menor porcentagem de meninas trabalhando. O levantamento da Plan revelou que 3,5% das crianças e adolescentes questionadas no Estado afirmou estar trabalhando e 0,8% estava procurando trabalho. Ambos os dados são pelo menos duas vezes inferiores às médias observadas no cálculo para todo o Brasil – 7,1% e 2,3%, respectivamente. No Estado nortistas, mais de 80% das meninas que responderam ao questionário se sentem bem quando estão na Escola e mais de 70% delas não conhece outra menina que tenha sofrido violência.

A pesquisa, disponível para download no portal da Plan International Brasil, faz parte da campanha mundial Por Ser Menina, que realiza esforços para dar visibilidade aos problemas que afetam globalmente a vida das meninas em países pobres e emergentes. O documento produzido teve como objetivo verificar o contexto de direitos, violências, barreiras, sonhos e superações a partir do próprio olhar das meninas brasileiras.

Conforme os resultados da pesquisa, os dados colhidos acabaram trazendo à tona um contexto de gritantes desigualdades de gênero, que prejudicam o pleno desenvolvimento das habilidades das meninas para a vida. “Embora as mulheres e crianças sejam reconhecidas em políticas e planejamentos, as necessidades e direitos das meninas frequentemente são ignorados. Trabalhamos para que elas sejam as principais agentes transformadoras das suas realidades. As meninas nos contaram, por exemplo, que gostam de serem meninas, mas outros resultados são surpreendentes”, afirma Anette Trompeter, diretora nacional da Plan International Brasil.

No Pará, 6,2% dessas meninas responderam já ter trabalhado, mas disseram que estão fora do mercado, atualmente. Segundo a publicação, 8,4% das entrevistadas no Estado não respondeu às questões colocadas sobre esse tema. No Brasil, 13,7% das meninas já trabalharam ou estão trabalhando no período da pesquisa. A maioria das meninas paraenses (46,2%) disse que fazem trabalho doméstico na casa de outras pessoas cuidando de crianças, limpando, passando e fazendo outras atividades. Outras 7,7% estavam trabalhando na agricultura, pecuária ou pesca e 15,4% trabalhavam em “outro lugar”.

Não havia, no Estado, meninas no comércio, trabalhando na rua (vendendo coisas, catando lixo, engraxando, vigiando ou limpando carros e etc.), trabalhando na área administrativa ou trabalhando na indústria/fábrica, segundo as respostas fornecidas. Em todo o País, 16,5% estavam em comércio, 5,2% na rua, 37,4% em serviços domésticos, 7% na agricultura, 0,9% na administração, 6,1% no trabalho em indústria e 26,1% em outro lugar. O somatório percentual pode ultrapassar 100%, no caso de meninas com mais de um trabalho ou menos de 100%, se as meninas não tiverem respondido às perguntas.

A questão do trabalho doméstico em outras casas levanta uma questão que envolve a quantidade de meninas que realizam tarefas também em sua residência, sendo as vezes a principal responsável pelo trabalho doméstico. “Simplesmente por ser menina, ela é tratada como a pessoa responsável pelas tarefas domésticas, o que tira dela parte de sua infância quanto ao direito de brincar, estudar e de não assumir responsabilidades em substituição de adultos”, ressalta Célia Bonilha, gerente técnica de Empoderamento Econômico e Gênero da Plan.

No Brasil ,enquanto 81,4% das meninas arrumam sua própria cama, 76,8% lavam louça e 65,6% limpam a casa, apenas 11,6% dos seus irmãos homens arrumam a sua própria cama, 12,5% dos seus irmãos homens lavam a louça e 11,4% dos seus irmãos homens limpam a casa. Além disso, 31,7% de todas as meninas ouvidas informam que o tempo para brincar, direito fundamental de todas as crianças, é insuficiente durante a semana.

As entrevistas foram realizadas entre os meses de julho e setembro de 2013 nos Estados do Pará, Maranhão, São Paulo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. As capitais desses estados foram escolhidas pela sua representatividade em suas respectivas regiões, com potencial de indicar as tendências regionais. As meninas e meninas adolescentes, com idade entre 6 e 14 anos, participantes da pesquisa, foram distribuídas entre 1.609 da amostra das escolas, 149 do estrato de meninas quilombolas e 13 meninas fora da escola. 51,9% das meninas ouvidas têm entre 11 e 14 anos e 47,6% entre 06 e 10 anos (0,58% não informaram a idade). A cor da pele foi considerada de acordo com critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 39,1% das meninas têm cor da pele branca, 6,2% preta, 1,2% amarela, 53,2% parda (morena) e 0,3% indígena. O maior contingente de participantes foi de meninas que estudam em escolas da zona urbana (76,5%), enquanto a zona rural foi representada por 23,5%.

Brincadeira e felicidade
As meninas paraenses também responderam sobre brincar, ser feliz e ter conforto. 21,8% delas, discordam totalmente de que há muitas brincadeiras de menino que meninas não devem brincar. Uma parcela de 22% dessas meninas apenas discorda dessa afirmação, 36,7% concorda e 13,7% concorda totalmente. Os dados nacionais apontam percentuais médios de 26,4%, 25,6%, 29,8% e 11,7%, respectivamente. No total, 42,6% das meninas paraenses possui telefone pré-pago e 14,6% tem computador de mesa ou notebook. A maioria delas disse acessar a internet de casa (29,1%) ou na escola (10,2%). Aliás, 91,4% das meninas paraenses disseram se sentir bem quando estão na escola, percentual maior do que o nacional (81,6%).

Em geral, grande parte das meninas julga que, para ser feliz, precisa, em primeiro lugar, estudar (89,2%) e, em seguida, ter uma vida saudável (87,6%). Para as meninas quilombolas estudar (94,6%) e ter uma vida saudável (90,6%) são ainda mais importantes para serem felizes. Brincar (82%), fazer amizade com meninas da própria idade (79,1%), cuidar de si própria (78,9%) e cuidar do meio ambiente (77,7%) também receberam altos índices de adesão pelas meninas como significância de requisitos para a felicidade.

Ainda que com uma frequência levemente menor, outras afirmativas foram também consideradas significativas para o alcance da felicidade pelas meninas que participaram da pesquisa: conhecer seus direitos (70,7%), desenvolver talento artístico (70,6%) e praticar esportes (70,5%). Quesitos mais convencionais, considerados por muitas pessoas como fundamentais em projetos de futuro, parecem descer na escala de prioridades das meninas, já que menos da metade das meninas consideram, hoje, que casar (47,7%), ganhar dinheiro (45,9%) e ter filhos (45,2%) sejam importantes para sua felicidade.

Falta conhecimento sobre instrumentos legais
Na conclusão, a pesquisa demonstrou que, infelizmente, os instrumentos que asseguram os direitos da criança e do adolescente são ainda bastante desconhecidos por pelo menos 70% das meninas do Brasil. Mesmo assim, 37,7% das meninas acham que meninas e meninos na prática não têm os mesmos direitos (porcentagem praticamente igual para as meninas quilombolas). Uma menina de cada cinco conhece uma outra menina que já sofreu violência. Os percentuais registrados para os estados do Pará (26,4%) e São Paulo (22,4%) foram superiores à média encontrada na amostra-escola dos cinco estados.

Reportagem e foto: ORM News

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