Uma emocionante história com mais um final feliz. Eu recebi um pedido do Erivan Januário dos Santos, de 24 anos, bombeiro civil, residente em São Paulo, para localizar o tio dele, Eronildo Januário da Silva, o Nildo, em Parauapebas (PA), mas quando comecei a investigação recebi a notícia que a família acabara de localizá-lo graças à iniciativa do jovem Francijunior Campos, residente em Canaã dos Carajás (PA). O Francijunior havia enviado um vídeo para o site Bananeiras Online Notícias, de Bananeiras, na Paraíba, onde moram os irmãos do Seu Nildo. O diretor da site, José Luiz, divulgou o vídeo. Uma sobrinha do Nildo, Josineide Morais, o conheceu e enviou o vídeo para o Erivan em São Paulo. O Erivan entrou em contato com o Márcio Alves, do portal Pebas Notícias, e o Márcio passou meu número de contato.
A mensagem que recebi foi esta: “Meu nome é Erivan Januário dos Santos, sou da cidade de Bananeiras, na Paraíba, mas moro atualmente em São Paulo. Há muitos anos meu pai, Agnaldo Januário da Silva, e seus irmãos estão à procura de nosso tio, Eronildo Januário da Silva, apelido de Nildo, que foi embora da Paraíba em 1975 e nunca mais deu notícias. Aí, nós queríamos o contato de alguém que tenha visto ele na cidade de Parauapebas, no Pará. Eu, em nome da família, é que estou focado nesse reencontro entre meu tio com meus pais, seus irmãos e irmãs. Nossa família agradeceria muito e ficaria muito feliz”. O Erivan também vinha há muito tentando localizar o tio nas suas redes sociais, mas sem sucesso.
Enquanto isso, o Francijunior, em Canaã dos Carajás, que também estava interessado em desvendar o caso do tio da sua esposa, foi até a propriedade do Seu Nildo na área da Palmares II, em Parauapebas, e gravou um vídeo. Divulgou o vídeo no Instagram e demais redes sociais e resolveu enviar também para o site paraibano Bananeiras Online Notícias. A persistência dele valeu a pena. Uma prima do Erivan viu o vídeo e encaminhou para ele em São Paulo, que por sua vez entrou em contato com o Francijunior e conversaram sobre o assunto. Francijunior imediatamente passou o contato do Glauber, publicitário e enteado do Seu Nildo, residente em Belém. Erivan e o primo dele, Josinaldo, que mora na Paraíba, e o Glauber se falaram e já trocaram os números de telefone e até criaram um grupo de WhatsApp para os familiares se comunicarem e matarem a saudade depois de mais de 45 anos.
A história
Eronildo Januário, ainda jovem e destemido, e mesmo semianalfabeto, aproveitou a propaganda do governo militar na década de 1970 de povoar a Amazônia com o slogan “Integrar para não entregar” e deixou a Paraíba rumo ao Pará, mas antes ficou um período no norte de Goiás, hoje Tocantins. Ao chegar ao Pará, por ter vindo do Goiás, recebeu o apelido de Goianinho e posteriormente Goiano. Acabou ficando Goiano. Trabalhou em garimpos e mais tarde conseguiu comprar um caminhão para transportar a produção agrícola de produtores da região de Parauapebas, que ainda nem era emancipada, e da área do Cedere I, vila que surgiu graças ao projeto do governo denominado GETAT – Grupo Executivo das Terras do Araguaia/ Tocantins. Goiano passava muita dificuldade, mas acreditava na sua garra e determinação para vencer na vida.
Em 1980, o agricultor Aguinaldo saiu da Paraíba e fez uma viagem ao sudeste do Pará, passando por Marabá e o então distrito de Parauapebas em busca do irmão, mas não obteve sucesso. Voltou para a Paraíba achando até que o irmão já estivesse morrido.
Cupido
O comerciante Gilberto e sua esposa Heloísa sempre viram com bons olhos o caminhoneiro Nildo. Fizeram amizade com ele e ofereciam cafezinho, almoço e até local para tomar banho, já que ele morava no próprio caminhão. Quando o Goiano vinha da zona rural com os agricultores e seus produtos, sempre trazia frutas para o casal Gilberto e Heloísa, como melancia, banana e abacaxi. A felicidade estava se aproximando.
Paralelamente a isso, a dona de casa Maria Tereza Marques Januário, irmã do Gilberto, morava na Serra dos Carajás desde 1985, mas em 1993 o casamento dela com o funcionário da Vale, Álvaro José da Silva, acabou. Álvaro passou a morar em Parauapebas e dona Tereza mudou-se para Icoaraci, distrito localizado a 20km de Belém, onde moravam seus pais e demais parentes. Lá, montou seu próprio negócio.
Um certo dia do ano de 2005 dona Tereza resolveu visitar o irmão em Parauapebas e conheceu o Nildo, que estava sempre com seu caminhão estacionado próximo ao comércio do Gilberto.
– Quem é esse aí?, perguntou dona Tereza.
– O Goiano, dono daquele caminhão, que traz os produtos do pessoal da zona rural para vender aqui na cidade, respondeu Gilberto.
Os dois trocaram olhares e o cupido bateu forte. Dona Tereza, separada há muito tempo, e o Goiano, solteiro, livre e desimpedido, o resultado não poderia ter sido outro, senão o começo de um grande amor, apesar de o Goiano falar pouco e ser muito tímido. A simpatia foi muito grande e os dois começaram um bonito e respeitoso relacionamento.
Dona Tereza tinha recursos e ajudou a reformar o caminhão do Goiano e a providenciar os documentos que ele havia perdido. O casal morou um tempo em Parauapebas e em 2007 decidiu ir para Belém, onde dona Tereza já morava. Em Belém, o Goiano deixou de ser caminhoneiro e foi trabalhar numa cervejaria, conseguiu recursos e com o apoio de dona Tereza conseguiu comprar um amplo terreno em Icoaraci, construíram uma casa e a família vivia muito feliz. Dona Tereza já era mãe de quatro filhos: Glauber, Camila e os gêmeos Micael e Helen, à época com apenas 4 e 5 anos, respectivamente. Anos depois, Goiano perdeu o emprego na cervejaria e não conseguia se adaptar à modernidade e trabalhar com computador, já que é semianalfabeto e nunca teve experiência com tecnologia. A partir da saída dele da cervejaria, conversou com dona Tereza e o casal decidiu vender a metade do terreno de Icoaraci e voltar para Parauapebas. A outra metade ficou com o filho mais velho, Glauber, que estudava na capital paraense e hoje é formado em Publicidade. “O Goiano foi um segundo paizão que tive. Ele me ajudou a pagar a faculdade e me deu muito apoio em vários momentos. Foi e é muito importante na minha vida. Tenho uma grande consideração por ele, assim como todos os meus irmãos. Eu e minha irmã Adriana sempre o chamamos de Goiano, mas meus irmãos mais novos, Micael e Helen, como eram crianças quando ele passou a conviver com minha mãe, sempre o chamaram e chamam de pai até hoje”, disse Glauber, que continuou morando em Belém.
Em Parauapebas, o casal comprou uma propriedade na área da Palmares II. O Goiano teve um relacionamento antes de conhecer dona Tereza e desse namoro nasceu a filha Camila. Família unida e feliz, todos foram morar juntos. Tempos depois os filhos foram ganhando seus rumos e hoje a Camila é casada, mãe de dois filhos e está grávida do terceiro filho.
“Mas o Goiano sempre falava de sua família da Paraíba e a gente tentou inúmeras vezes localizar algum parente dele, mas nunca obtivemos sucesso. Nunca foi possível. Até que para surpresa nossa, o Francijunior, casado com minha prima, resolveu, sem muita pretensão, gravar um vídeo com meu padrasto e divulgar no Instagran. O vídeo viralizou, teve uma enorme repercussão e deu certo. Estamos muitos felizes, já criamos um grupo de WhatsApp para todos se comunicarem. Meu pai ficou tão emocionado e ainda não está acreditando que reencontrou os irmãos na Paraíba”, afirmou o publicitário Glauber.
A família paraibana
A família do Nildo é grande. Seus pais, já falecidos, se chamavam Cícero Januário da Silva e Amélia Alves Teixeira. Ao todo o casal paraibano teve nove filhos: Agnaldo, Natanael, Gizelda, Amélia, Abílio, Josilene, Ana Maria, e Joacil e Hozana, já falecidos.
Em breve, Nildo irá a Bananeiras rever todos os irmãos e parentes que moram por lá e matar a saudade depois de mais de 45 anos sem vê-los.
Mais uma família feliz. Desta vez, com minha pequena participação e a grande atuação do Francijunior, do Erivan e do Glauber. Que sejam felizes para sempre. Amém.