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Roberto Sleiman: o engenheiro civil que se tornou dono de padaria em Carajás e acompanhou o crescimento de Parauapebas

Roberto Sleiman disse que tomou a decisão acertada ao deixar São Paulo e vir para Parauapebas

O comerciante libanês Sleiman Elias Sleiman morava no Rio Grande do Sul, mas decidiu mudar-se para a capital de São Paulo com a esposa Aida Sleiman. A cidade gaúcha era Santa Rosa e lá nasceram os filhos Roberto, Elias Jorge, Júlia e Jaqueline, nesta ordem. Um belo dia, sem trabalho em São Paulo, e por influência de um primo, “Seu Elias” como era conhecido, acabou aceitando o convite do primo para conhecer Marabá (PA) e trabalhar em Carajás, bem no início da implantação do Projeto Carajás pelo governo federal, executado pela Companhia Vale do Rio Doce, conhecida na época como CVRD.

“Meu pai estava sem trabalho em 1981 quando o Supermercado Soraya de Marabá, cujos donos eram Adnam e Jaudet, este último primo de meu pai, ganhou a concessão de algumas lanchonetes dentro dos canteiros de obras das empreiteiras que estavam começando a implantar o Projeto Carajás. Como meu pai era conhecido dos donos do Soraya, fizeram o convite para ele gerenciar as mesmas, o que foi prontamente aceito. Assim começou a nossa história no Pará! Vim conhecer o projeto em 1982 e Parauapebas, que a época limitava-se a poucas ruas, acabei gostando do que encontrei e quis ficar. Porém, como faltavam dois anos para me formar, meu pai não permitiu que eu trancasse a faculdade para vir ajudá-lo, mesmo ele sabendo que o serviço era muito e que não dava conta”, revelou Roberto Sleiman, o nosso pioneiro homenageado de hoje. Assim se passaram mais de 30 anos em Carajás, com o pai já falecido há cinco anos e a mãe, hoje com 84 anos, morando em São Paulo.

A história

Roberto Elias Sleiman, que completa 61 anos dia 11 de junho, morou no Líbano dos 6 aos 10 de idade. Estudou em internato de freiras, onde o ensino era muito bom, mas o regime bastante rigoroso, especialmente no que se refere à disciplina das crianças no dia a dia. Meses após completar 10 anos, o menino voltou para São Paulo, onde estavam os pais e os três irmãos: Elias, Júlia e Jaqueline Sleiman.

O pioneiro Elias Sleiman, pai do Roberto, chegou a Carajás em 1981

 

O namoro

Em 1983, Roberto conheceu a jovem odontóloga Maria Esther Curiati Bueno no consultório do dentista dele, onde ela trabalhava. Ele se formou em 1984 em Engenharia Civil na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli) e em janeiro de 1985, devido à crise que país passava e sem emprego em sua área em São Paulo, resolveu vir dar uma força para o pai, que havia ganho mais uma concessão de lanchonete na Vila de N5, em Carajás “e ajudar a desbravar Parauapebas”.

Casamento

Veio noivo e seis meses depois casou-se em São Paulo em 7 de junho de 1985. “Tive que esperar até 1985, após minha formatura em Engenharia Civil, para voltar para Parauapebas e me fixar de vez em Carajás”, disse ele.

O casal fixou residência na Serra de Carajás. “Como não tínhamos direito a uma casa por sermos do comércio, começamos a vida de casados morando num quarto de empregada cedido por uma amiga que trabalhava na Vale que se chamava Célia e cujo marido era funcionário da Infraero (Batata era seu apelido). Ficamos nestas condições até o Hospital Nossa Senhora de Nazaré contratar a Esther como dentista para mais tarde ela ter direito a uma casa na Vila de N5”, destacou, acrescentando com entusiasmo que o pai já estava aqui na região desde 1981.

Roberto Sleiman e a esposa Maria Esther na década de 1980 em Carajás

 

Enquanto isso, também na Vila de N5, Roberto ajudava o pai na Lanchonete Arizona (“o apelido era uma alusão ao comercial de cigarros da mesma marca, que mencionava o Arizona a um local onde os homens se encontram, pois nossos clientes eram 99% homens”, explicou). Segundo ele, “era o único estabelecimento que podia vender bebida alcoólica das 17 às 23h durante a semana, no sábado a partir de 12h e aos domingos o dia todo”.

Velho Barreiro

Roberto lembra que o consumo de Velho Barreiro pela peãozada era muito grande. “Vendíamos 50 caixas de Velho Barreiro – em doses – por fim de semana. Não era permitido vender a garrafa. Colocávamos dois guardas armados, um em cada caixa, para manter a ordem nas filas e impor respeito para que não houvessem brigas, nem sempre conseguindo evitá-las. Tentei separar algumas delas, onde uma vez ganhei de presente uma garrafada na orelha. Depois disto, nunca mais quis separar briga de ninguém”, afirmou.

Orelhão

Outra curiosidade desta época contada pelo o Roberto era a fila da peãozada para falar com os familiares via orelhão e pelas cabines da Telepará. “Tinha um único orelhão no local e umas poucas cabines da Telepará. Aos domingos eram formadas filas enormes para eles ligarem para os familiares e a gente ouvia de tudo, já que os peões falavam alto. Era uma fila extensa que avançava pelo domingo todo, onde os peões ligavam para os parentes em todo o Brasil, especialmente o Maranhão”.

Padaria Nova Era

Em 1987, surgiu a oportunidade para adquirir uma padaria no Núcleo Urbano de Carajás, que pertencia ao também pioneiro Seu Osvaldo. “Como sabíamos que a Vila de N5 tinha os dias contados, vimos uma oportunidade nova surgindo para podermos continuar na região. Ficamos morando na Vila de N5 até o início de 1990 quando o hospital disponibilizou uma casa para minha esposa no Núcleo. Resolvemos colocar o nome de Nova Era, não por causa da cidade mineira, mas porque estava começando ali uma nova era na padaria, revitalizada e com nova mentalidade. E há quase 10 anos passamos a trabalhar também com restaurante, por sugestão dos clientes”, revelou.

Divertimento

“O divertimento das famílias da Vila de N5 na década de 1980 e início de 1990 eram os Clubes Serra Norte (para nível superior) e o Carajás Clube (Nível médio). Ainda no final da década de 1980 foi inaugurado o Doce Norte no Núcleo Urbano. O Carajás Clube foi desativado antes do Serra Norte. Os dois clubes ficaram atuando paralelamente por mais algum tempo até o fechamento do Serra Norte, ficando só o Doce Norte”, conforme contou o Roberto.

“Nosso divertimento em Carajás no início era um visitar o outro para jogar baralho ou fazer churrascos ou para festas de aniversários (muitas na época!). Paralelamente, o Clube Serra Norte começou a fazer almoços aos domingos e passávamos o dia por lá, onde amizades sólidas foram construídas e se mantém até os dia de hoje. Quando resolvíamos descer para almoçar em Parauapebas, havia a Churrascaria Gaúcha, do Sérgio, no Rio Verde, a Churrascaria Boi na Brasa, do Ézio, ou o Pit Dog do Jorge, no bairro Cidade Nova (O Pit Dog do Jorge era onde hoje é o Centro de Desenvolvimento Cultural – CDC”, lembrou o pioneiro.

Filha paraense

“Gosto muito daqui e do que faço. Minha filha nasceu em Carajás e ela adora ser paraense. Não me arrependo em nenhum momento por ter vindo para Parauapebas e Carajás”.

Em 2006, a Vale pediu a casa onde ele morava em Carajás e a filha Paula, com 13 anos, foi estudar em São Paulo. Como a esposa havia saído do Hospital Takeda, ela foi morar em São Paulo com a filha e a rotina do Roberto mudou. Passou a ficar 10 dias em São Paulo e 20 dias em Carajás. Hoje, a filha Paula tem 28 anos e é formada em Engenharia Mecânica, também pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli).

A filha Paula e os pais Maria Esther e Roberto

 

Dificuldade do passado

“Na década de 1980 sofríamos muito para manter a padaria e produzir 10 mil pães por dia para atender aos funcionários da Vale e das empreiteiras. Parauapebas ainda não tinha padarias estruturadas. Às vezes, íamos comprar farinha de trigo em Curionópolis (PA), que devido ao garimpo de Serra Pelada, tinha um comércio forte no município. Íamos a Marabá semanalmente para comprar mercadorias e produtos para a produção da padaria. Algumas vezes, para adquirir fermento fresquinho, mandávamos trazer o produto de avião de Imperatriz (MA). Sofremos também com os planos dos governos Sarney (Cruzado e tabelamento de preço) e com o confisco determinado pelo plano econômico do governo do Collor. Parauapebas quebrou e se levantou por algumas vezes nos últimos 30 anos, mas seu destino é ser grande”.

Decisão acertada

“Quando vim de São Paulo, não demorei me adaptar em Carajás. Nos primeiros dias dava vontade de chorar na hora das refeições, sempre feitas sozinho. Com o tempo a gente vai superando, também porque já estava acostumado a morar sozinho, como foi o caso da infância, quando morei dos 6 aos 10 anos no internato no Líbano. Trabalhava das 6 da manhã até meia noite na lanchonete de domingo a domingo, então não tinha muito tempo para ficar pensando na vida. Mas vir morar em Parauapebas foi uma decisão acertada. Gosto muito do que faço. Não me arrependo de jeito nenhum de ter vindo trabalhar aqui na região”.

Trabalho da esposa

“Minha esposa Maria Esther realizou um trabalho maravilhoso em Carajás como odontopediatra. A comunidade gostava muito do seu trabalho. Muitas crianças formaram-se em odontologia influenciadas por ela, que também fez um trabalho de prevenção e escovação correta dos dentes na escola no Núcleo Urbano. Fez parte do trabalho de fluoretação da água em Carajás. Então, ela sempre foi muito querida e até hoje quando vem por aqui é muito bem recebida por todos aqueles que conhecem sua trajetória”.

Funcionários

“Uma das coisas que me dá muita satisfação é ter ajudado muitos funcionários ao longo da nossa vida de empresário em Carajás. Atualmente, temos algo em torno de 45 funcionário, e alguns dos que passaram por aqui, hoje trabalham na Vale ou têm seu próprio negócio. A minha fé em Parauapebas me permitiu ficar mais comprometido com a cidade e fazer com que nossos funcionários melhorem de vida cada vez mais. Isto é o que nos motiva sempre, ou seja, dar oportunidade para as pessoas também crescerem e se estabilizarem”.

Emancipação

“Não participei diretamente, mas votei no plebiscito pela emancipação política e administrativa do município e voto aqui desde 1986, antes mesmo da emancipação. Faço questão sempre de acompanhar o processo político. Teve um período no início que até pensei em me candidatar a vereador, mas minha mulher e eu achamos melhor participar de outra forma no desenvolvimento da cidade. Acompanhei a trajetória do Faisal (Faisal Salmen, primeiro prefeito eleito) e da Bel (Bel Mesquita, ex-esposa de Faisal e a terceira prefeita eleita de Parauapebas) desde o início. Falo fluente o árabe, porque meu pai tinha o sonho de voltar para o Líbano, onde moram muitos dos nossos parentes e onde passei alguns anos de minha infância. O Faisal sempre que me encontrava procurava conversar comigo em árabe, uma forma de não esquecer o idioma. Bons tempos!”.

Parauapebas

“Parauapebas representa muito na minha vida. Passei mais da metade de minha vida aqui. Chegamos aqui eu e minha esposa com a cara e coragem, por que naquela época precisava de coragem para deixar o conforto de SP e vir morar em alojamento. Fui me apegando a esta terra e acabei ficando. Hoje me sinto realizado”.

Futuro de Parauapebas

“Enquanto tiver minério de ferro e o mundo precisar desta commodity para se desenvolver, a Vale continuará explorando este e os outros metais até o último grama. A cidade crescerá mais ainda, pois é sua vocação, mas infelizmente não da forma como deveria crescer. A gente gostaria de ver uma cidade melhor, considerando a arrecadação bilionária que recebe fruto da exploração do minério, onde hoje os recursos são mal aplicados em segurança, saúde e educação (esta última, mola propulsora do desenvolvimento de qualquer sociedade). Com investimentos de qualidade nestas áreas com certeza poderemos dizer daqui a alguns anos que valeu a pena! Vamos torcer para que nosso sonho se realize”.

Roberto e o jornalista Lima Rodrigues durante entrevista no Núcleo Carajás

 

Por ter vindo a Parauapebas pela primeira vez em 1982, ter se mudado de São Paulo para a cidade em 1985, ter acompanhado o crescimento e o desenvolvimento do município; por gerar emprego e renda nos últimos 35 anos em Carajás e por ter dado oportunidade de trabalho para centenas de pessoas em sua padaria, Roberto Elias Sleiman, que completa 61 anos dia 11 de junho, é o nosso homenageado de hoje no Projeto Entrevistas com Pioneiros.

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