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Vale fatura 4,88 bilhões de dólares nas costas de Parauapebas e companhia

Foto: Divulgação | Vale

“Quatro anos atrás, escrevi por aí que, em 2017, a indústria extrativa mineral do Pará ultrapassaria à de Minas Gerais, sem que fosse necessário esperar a virada da década. Pois pronto: fechou. No primeiro semestre deste ano, o resultado financeiro das exportações do Pará superou, de maneira inédita, o de Minas, um estado matusalênico em se tratando de extração de minérios. A Vale, sozinha, exportou 4,88 bilhões de dólares em recursos minerais do Pará, quase o dobro ante os 2,73 bilhões exportados no mesmo período do ano passado.

Agora, foco no mapa de geografia do Pará: de onde você acha que saiu essa virada histórica? Vamos dar nomes aos bois de canga: Marabá, Parauapebas, Canaã dos Carajás, Curionópolis e Ourilândia do Norte. Essas são as estrelas municipais de onde a manda-chuva do Pará, a mineradora multinacional Vale, extrai riquezas e deixa muitos a verem navios, às margens de uma ferrovia que corta comunidades paupérrimas e por onde passam três quilômetros e 300 metros de um monstrengo trem com suas 330 locomotivas carregando o melhor minério de ferro do globo e outras commodities.

É a Vale quem manda no Pará, e poucos ousam afrontar sua tirania no estado — tirania que, diga-se de passagem, só é magistralmente competente para a mineração; é fraquérrima em assessoria, responsabilidade social e relacionamento com a comunidade haja vista as enrascadas incontáveis nas quais a empresa se mete com populações que moram nas cercanias de seus projetos.

De hoje a 15 dias, a poderosa Vale vai divulgar seus resultados (de produção física e de balanço financeiro) a investidores do mundo todo lá no Rio de Janeiro. A vida dos municípios onde ela mantém operações, como Marabá, Parauapebas e companhia, é toda decidida lá, mas ninguém se atém ao fato de que, a cada anúncio de recorde de produção da empresa (como ela fará dia 27), são três meses a menos de vida útil para os minérios da região. E tendo a vida útil encurtada a cada três meses, o resultado financeiro de médio prazo para os municípios, na prática, é o caos, particularmente para as localidades de Parauapebas e Canaã dos Carajás, cujas finanças das respectivas prefeituras têm alto grau de dependência da atividade mineradora realizada pela Vale.

5 CONTRA QUASE 500

O que somente a Vale extraiu e exportou, em dólar, dos municípios paraenses é equivalente a praticamente toda a extração e exportação de minérios que ela mesma, a Vale, fez em Minas e todas as outras mineradoras juntas que atuam lá naquele estado da Região Sudeste. Só para comparar, falo de um confronto direto entre apenas cinco municípios paraenses (Marabá, Parauapebas, Canaã dos Carajás, Curionópolis e Ourilândia do Norte) e todos os quase 500 municípios mineradores de Minas Gerais (a rigor, 448 no primeiro semestre de 2017).

Os dados são oficiais e foram divulgados na manhã desta quarta-feira (12) pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). É claro que essas estatísticas jamais vão bater com as da Vale, que, misteriosamente, apresenta outros números ao mercado, mesmo suas ações de exportação estarem sujeitas ao crivo do MDIC. Imagine aí o tamanho — e a carreira histórica — da sonegação embutida nas disparidades.

No próximo artigo, vamos viajar por 450 quilômetros de corredor da indústria extrativa mineral, pelas rodovias BR-155 e PA-275, no trecho correspondente a Marabá e Parauapebas; depois pela PA-160, seguindo de Parauapebas até Canaã dos Carajás; e, por fim, pela PA-279, de Canaã a Ourilândia do Norte. Você vai perceber como o trajeto é marcado por riqueza que ninguém vê e sofrimento que todos sentem, inclusive com estradas mal cuidadas, trechos perigosos, cheios de buracos e até sem asfalto. Aguarde”.

Por: André Santos – Jornalista e engenheiro de minas

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Ei, Psiu! Já viu essas?

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