Após as notícias sobre a tragédia do rompimento da barragem 1 da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), que causou a morte e o desaparecimento de dezenas de pessoas na região, moradores da Área de Proteção Ambiental (APA) do Igarapé do Gelado estão preocupados com o possível rompimento da barragem de rejeitos da Mina de Carajás, localizada naquela área, que fica cerca de 40 km de Parauapebas (PA). A Vale garante que é baixo o risco de rompimento da barragem da mina de Carajás na região da APA do Gelado.
Solicitada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Vale enviou a seguinte nota:
“As barragens estão em conformidade não apenas com a legislação ambiental brasileira, mas, seguem, também os mais altos padrões internacionais de segurança. No Estado do Pará, todas as barragens da Vale têm modelo de construção diferente da barragem da Mina Córrego Feijão, em Brumadinho.
A barragem da Apa do Gelado tem classificação de baixo risco, conforme norma da Agência Nacional de Mineração (ANM).
São realizados monitoramentos e inspeções periódicas em todas as estruturas que se enquadram na Política Nacional de Segurança de Barragens. A empresa montou ainda um grupo de trabalho que apresentará um plano para elevar o padrão de segurança das barragens da empresa. O objetivo é superar os parâmetros mais rigorosos existentes hoje no Brasil e no mundo. Essa semana, a empresa anunciou o descomissionamento de todas as suas barragens a montante mesmo modelo da mina em Brumadinho, todas em Minas Gerais”.
Por causa disso, os moradores se mobilizaram e convidaram autoridades e representantes da Vale para uma reunião na sexta-feira (1º) na Escola Jorge Amado, na Estação Conhecimento da Vale, na APA do Gelado.
O encontro foi aberto pelo presidente da Associação dos Produtores Rurais da APA do Igarapé Gelado, Raimundo Batista de Paula. Ele disse que “o objetivo da reunião era para ouvir esclarecimentos da Vale sobre a questão da segurança das famílias que moram na APA do Gelado” e pediu que todos ouvissem atentamente as explicações dos representantes da mineradora.
A primeira a falar foi a nova diretora da Escola Jorge Amado, Derenice Silveira. Segundo ela, “a reunião era muito importante porque os pais dos alunos estão preocupados com a situação, após o rompimento da Barragem em Brumadinho”.
Em seguida, o Ouvidor da Prefeitura de Parauapebas, Josemir Santos Silva, destacou que o prefeito Darci Lermen está atento e em contato direto com a Vale sobre a questão da barragem de rejeitos da Mina de Carajás e que “a prefeitura já está tomando todas as providências necessárias para proteger a população daquela área”.
O Coordenador da Defesa Civil em Parauapebas, Jales Santos, informou aos moradores que o prefeito Darci Lermen criou um grupo de trabalho para tratar da questão das barragens na região e lembrou que as barragens localizadas no município não são do mesmo modelo das barragens de Minas Gerais. “O prefeito Darci está atento e preocupado com a situação”, afirmou Jales.
O Gerente de Desenvolvimento Territorial da Vale, Frederico Baião, disse que “o momento é tristeza para todos, porque é muito triste perder colegas de trabalho”. Afirmou que “a empresa está se esforçando muito para dar toda assistência e o mínimo de conforto para as famílias afetadas pela situação e amenizar todo o impacto da tragédia causada na Barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, além da questão ambiental”.
Também participaram da reunião na APA do Gelado o engenheiro de Segurança da Vale, Eudes Barros, e o geotécnico Deni Octavio.
Frederico Baião informou que o modelo da barragem de Brumadinho é diferente do modelo das barragens da região de Carajás. “Além disso, a Vale segue todos os padrões vigentes e internacionais e está sempre buscando medidas de segurança para todos. Esse é o compromisso da Vale”, destacou.
Questionamentos
Depois os moradores começaram a fazer perguntas sobre a segurança na área, demonstrando preocupação com o possível rompimento da barragem de rejeitos da Mina de Carajás. Alguns até sugeriram que a Vale indenize todos os moradores da área da parte baixa da mina na região da APA do Gelado. Teve morador que alertou que muita gente não sabe onde ficam os pontos de encontros. Outros disseram que não participaram de treinamento simulado sobre a saída do local em caso de rompimento da barragem e que a segurança maior é a retirada de todos da área.
A assessoria de imprensa da Vale informou que “os simulados estão sendo feitos por etapa e quem não participou ainda, participará em breve, e que foram instaladas no ano passado 18 sirenes para alertar a população em caso de emergência”.
O agricultor Manoel Aparecido, que mora perto da Barragem da Mina de Carajás na APA do Gelado, disse que caso ocorra algum rompimento ele não tem nenhuma chance de sair do local. “Estou com medo dessa situação”, revelou.
Frederico Baião reafirmou que “o risco de rompimento da barragem é baixo e que a Vale sempre presta esclarecimentos sobre rota de fuga, localização de sirenes, pontos de encontros e simulado para uma eventualidade de rompimento da barragem”.
Ele esclareceu ainda que a Vale trabalha com três níveis de classificação: Nível 1: a empresa detecta uma falha e corrige. Nível 2: essa falha está em processo de correção e a Vale preventivamente retira as famílias do local para evitar qualquer risco. Nível 3: a retirada de todos os moradores é obrigatória. Acrescentou ainda que “a vale tem tomado todas as medidas preventivas para proteger seus funcionários e a população das áreas onde estão suas barragens de rejeitos para extração de minérios”. São 157 barragens da Vale no Brasil.
O representante do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade em Parauapebas, Vitor Garcia Neto, afirmou que o ICMBio está atento na fiscalização de preservação do meio ambiente na região. “Vale lembrar que nas áreas a onde se concentram as barragens no Pará foram criadas comissões nas esferas dos governos federal, estadual e municipal, uma espécie de comitê de acompanhamento para evitar rompimento de barragens e se preservar vidas”.
A reunião na APA do Gelado contou ainda com a presença do presidente da OAB – Subseção Parauapebas, Deivid Benasor da Silva (a nova presidente Maura Paulina toma posse dia 14 de fevereiro) e dos advogados Rodrigo Matos e Helder Igor.
O Dr. Deivid informou aos colonos sobre os ofícios encaminhados à Secretaria Municipal de Meio ambiente e à Defesa Civil de Parauapebas e manifestou a preocupação da Ordem dos Advogados com as barragens do Projeto Carajás e vizinhos. Ele disse ainda que a “OAB adotará todas as medidas administrativas e judiciais para evitar que a população (urbana e rural) de Parauapebas venha a ser vitimada como ocorreu em Brumadinho”.
Complexo Carajás
De acordo com a Vale, o Complexo Minerador de Carajás, em Parauapebas, é o maior produtor de minério de ferro em operação do planeta. Engloba a operação simultânea de cinco minas a céu aberto: N4E, N4W, N5E, N5W e N5 Sul. Das minas de Carajás saem aproximadamente 35% do minério de ferro produzido pela Vale anualmente.
Uma vez extraído, o minério é peneirado, agregando valor aos diversos produtos decorrentes desse processo.
Em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o complexo de Carajás contribui para a conservação de uma área três vezes maior que sua operação, de cerca de 1,2 milhão de hectares, que equivale a 10 vezes o tamanho de Belém, a capital paraense. As operações da Vale nas minas de minério de ferro de Carajás estão alicerçadas em um Sistema de Gestão da Qualidade Ambiental – SGQA, implementado e certificado dentro dos padrões e procedimentos das normas ISO 9000 (qualidade da produção) e ISO 14001 (qualidade ambiental). Dentre as ações realizadas em Carajás, a Vale desenvolve um amplo programa de recuperação de áreas que tem como objetivo a recomposição vegetal das áreas já mineradas com a utilização de espécies nativas da Floresta Nacional de Carajás. A empresa mantém ainda uma estruturada rede de monitoramento ambiental que avalia, sistematicamente, aspectos como a qualidade do ar, dos ruídos e vibrações e da água.
Carajás é a maior província mineral do planeta, com reservas estimadas em 18 bilhões de toneladas de ferro de alta qualidade, o melhor minério de ferro do mundo.