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Violência contra a mulher é preocupante em Parauapebas

Apesar de tempos tão modernos, os gêneros parecem não se entender dentro dos espaços que, a cada dia, convergem para ser o mesmo; tendo em vista que não há mais aquela “velha qualificação” de que esse é trabalho ou lugar de mulher e aquele é trabalho ou lugar de homem.

O machismo e a sociedade patriarcal vêm sendo diluídos com a chegada da igualdade de gêneros, mas, para que isso aconteça, tem sido preciso enfrentar a resistência de muitos que, por muitas vezes, chegam ao extremo iniciando desde ameaças, coação, agressões verbais, agressões físicas, tentativas de feminicídio e até feminicídios consumados.

Em Parauapebas, coincidência ou não, dois marcos trágicos foram fincados no mesmo dia, apenas, em anos diferentes; assim, os dias 31 de março de 2018 e 31 de março de 2019 ficaram manchados com sangue. Na primeira data, Sindicléia de Carvalho Vieira Santos, 42 anos, esposa do então secretário municipal de Desenvolvimento de Parauapebas, Isaías Queiroz de França, que foi assassinada quando saída do culto da igreja Assembléia de Deus Mãe, Bairro Altamira. Já na mesma data, este ano, a comerciária Dayse Dyana Sousa e Silva foi assassinada pelo seu companheiro, o agente do DETRAN, Diógenes Samaritano da Silva.

Ambos os casos tiveram grande repercussão na mídia local e do Estado, porém, apenas o segundo teve como resultado a prisão do acusado. Quanto ao primeiro, em que teve como vítima Sindicléia de Carvalho, a família da vítima ainda clama por justiça.

A equipe de reportagens do Portal Pebinha de Açúcar entrevistou com exclusividade a delegada Ana Carolina Abreu, titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM), para entender melhor como tem se comportado os homens em relação às mulheres em Parauapebas.

“Talvez não seja a violência que tenha aumentado, mas, sim, o número de mulheres que tem se encorajado a denunciar os agressores. Isso acontece com o aumento da informação, pois, muitas mulheres ainda não sabem seus direitos ou não acreditam na solução do problema”, explica Ana Carolina, dando por certo que a melhor arma disponível para as mulheres é a informação a respeito dos seus direitos; o que, ainda segundo a delegada, encorajam a denunciar os agressores.

Mas, a delegada aponta como problemática o fato de que a polícia trata a consequência da violência doméstica e não a causa. Segundo ela a sociedade patriarcal continua impondo que a mulher é uma propriedade do homem, não sendo um indivíduo de direito e sim um objeto que deve se sujeitar a qualquer coisa, podendo inclusive tirar-lhe a vida. “Então, assim que a denúncia chega à DEAM, o que a gente faz? Retira a mulher do ciclo da violência dando uma oportunidade para ela se refazer. Mas, o causador da violência permanece violento, pois, a gente não tem um trabalho educativo e social com ele. Assim, ele continua fazendo mais vítimas, sendo elas a namorada ou a próxima esposa que ele arranjar”, conta Ana Carolina, dando por certo que o machismo não sendo tratado o ciclo da violência se repetirá.

Perguntamos a ela de onde se origina o machismo dos indivíduos. Ela explicou que, quase sempre, o homem violento foi criado em um lar onde via o pai era agressivo com a esposa, e que o mesmo foi criado fendo o avô também agredindo a companheira, e isso faz com que o indivíduo pense tem um comportamento correto, apesar de inadequado para o momento em que vivemos.

Ao perguntar como tratar esse tipo de comportamento, ela foi enfática: “Primeiro vamos à causa preventiva, devendo se fazer um trabalho com nossas crianças; pois, sabemos que reproduzimos o que vemos ao nosso redor, infelizmente, até mesmo a violência. Assim, através de ações afirmativas que são palestras e conscientização que mostre às nossas crianças o que é o respeito. Assim, vamos combatendo o machismo que é uma violência opressora que tenta colocar o homem em uma situação de superioridade em relação à mulher. Assim, um garoto que vive em uma casa onde vê o pai se portando como superior à mãe, provavelmente ele vai repetir isso em seus relacionamentos”.

Mas, quando aos que já são adultos e praticam o machismo, a delegada explicou ser preciso combater de forma repressiva; porém, reconhece que o sistema penitenciário não trata ninguém. De acordo com a delegada Ana Carolina, é preciso implantar em Parauapebas grupos de homens com histórico da prática de machismo, a exemplo da Associação dos Alcoólicos Anônimos, onde através de conscientização, apoio e educação possibilite muitos homens mudarem de comportamento em relação às mulheres. “Isso serve como medida protetiva de urgência e medida restritiva de direito. A gente sabe que a maioria das penas aplicadas nas condenações às violências é apenas restritiva, sendo que poucos agressores chegam a serem encarcerados com condenação. Então, ao invés dele doar cestas básicas ou pintar muros, o melhor é obriga-lo a frequentar cursos, palestras, grupos etc. e depois que ele aprender sobre o respeito à mulher, ele ter que reproduzir o que aprendeu indo às escolas ensinar isso, propagando tudo o que aprendeu”, orienta Ana Carolina, dando por certo que o mesmo homem recuperado deva formar grupos de homens com históricos de agressão ou condenado pelo citado ato e assim ser um orientador ou palestrante, com objetivo de recuperá-los. Isso, na opinião da delegada, é uma medida repressiva.

Delegada Ana Carolina

 

Os casos de violência doméstica, de acordo com os dados da DEAM, não são uma exclusividade de alguma classe social; sendo que o machismo está permeado em todas as camadas e independe de grau de escolaridade. Porém, segundo a delgada Ana Carolina, os casos ocorridos em família com vulnerabilidade social são os que mais chegam à delegacia. “As mulheres de homens com melhor condição financeira ou mulheres com mais instrução escolar procuram resolver os casos sem exposição, pois, pensam ter muito a perder tanto em posição social quanto a bens que tem a repartir e isso a faz apanhar calada”, explica a delegada, recomendando que as mulheres agredidas precisam se encorajar e procurar a DEAM, onde ela será orientada a respeito dos trâmites e medidas protetivas de urgência.

Caso a mulher agredida não queira procurar a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM), pode procurar a Secretaria Municipal da Mulher (SEMMU), onde há equipe da Rede Protetiva de Atendimento com psicólogo e assistente social para ajudá-la a tomar a direção correta. Ana Carolina garante que a DEAM está sempre de portas abertas para acolher as mulheres vítimas de violência doméstica e, depois que ela procurar a delegacia, nunca mais as deixarão sozinhas. “Não adianta a mulher retirar a queixa contra o marido agressor, pois, todas as promessas de mudanças feitas por ele não durarão muitos dias. Enquanto ele não for curado do machismo e do modelo patriarcal e a violência voltará a acontecer”, assegura Ana Carolina.

Ações da sociedade

Mas, enquanto os gêneros não se entendem; os machistas não se curam; e uma geração de homens conscientes não surge; grupos de pessoas se unem para realizar atos públicos com o objetivo de levar conscientização a homens e mulheres.

Um desses exemplos foi a “Caminhada Contra O Feminicídio e Violência Doméstica” que foi realizada em Parauapebas no último sábado (11) pelo Instituto Mulheres Girassol em parceria com diversos órgãos, entidades e o poder público; quando saíram em caminhada do Bambuzal da PA-275, entrando pela Rua do Comércio, Rua Rio de Janeiro, Rua 16, Rua ‘E’ e encerrando na Praça de Eventos, onde houve palestras e distribuição de panfletos.

De acordo com a presidente da diretoria provisória do Instituto, Enildes Pereira de Melo, o ato teve como objetivo chamar a atenção para os altos índices de violência contra as mulheres, atos que ocorrem em todas as regiões brasileiras e em todas as camadas sociais. “Não existe um perfil de homem agressor; sendo encontrado em todas as profissões, raças e potencial financeiro. Por isso, é um mal mais difícil de ser combatido”, detalha Enildes.

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