A operação de minério de ferro da Vale, em Carajás, voltou a ser a mais rentável do mundo, com um custo de produção no porto – incluindo mina, usina de beneficiamento e transporte ferroviário até o navio, sem royalties – de US$ 10,7 por tonelada.
A concorrente anglo-australiana Rio Tinto tem um custo de US$ 14,4 a tonelada no porto. A comparação foi apresentada na quarta-feira, 30, pela mineradora em um encontro anual com investidores, no Canadá.
Em um cenário de preços do minério de ferro em baixa e concorrência super acirrada, a Vale comemora o dado como uma virada em relação aos últimos anos, quando as concorrentes Rio Tinto e BHP Billiton encurtaram a distância competitiva nos quesitos custo e volume.
Após anos de liderança isolada da Vale, de 2008 a 2014 as australianas reduziram custos e elevaram sua produção ao iniciar a operação de minas novas e mais eficientes.
A Vale de certa forma ficou parada, já que sua maior aposta, o projeto S11D ou Serra Sul, de expansão de 90 milhões de toneladas em Carajás, ainda não havia deslanchado.
“O objetivo é zerar esse ‘gap’ de competitividade. A operação de Carajás já é a mais rentável do mundo, independentemente da distância para a China”, disse ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, o diretor executivo de finanças e relações com investidores da Vale, Luciano Siani.
No momento, os principais investimentos da brasileira estão maturando, enquanto os de seus pares desaceleram. Após dez anos, a Vale voltou a ganhar qualidade em seu minério.
O S11D entra em operação no segundo semestre de 2016, levando a empresa para uma trajetória de produção crescente e de diluição de custos, afirma Siani. Antes disso, porém, a mineradora recupera vantagem em Carajás, onde é produzido o minério de maior qualidade do mundo.
Comparação
Tradicionalmente, a Vale evita fazer comparações com números das concorrentes. Mas, como ficou estigmatizada nos últimos anos por ter deixado de ter o minério mais rentável do mundo, optou agora por mostrar a recuperação.
“Houve uma aproximação (da concorrência) e nossa expectativa é abrir uma dianteira novamente”, diz Siani.
A mineradora brasileira ainda sofre por estar a 45 dias de distância da China, ante 15 dias das australianas. Por isso, o custo do frete para levar o minério de Carajás até lá é de US$ 16,7, quase três vezes o da Rio Tinto.
A diferença faz com que o minério entregue pela Vale no país asiático ainda seja mais caro: US$ 37,1 por tonelada, contra US$ 30,1 da Rio Tinto.
Apesar disso, a margem da Vale em Carajás é superior graças à qualidade do minério de ferro da região. Segundo a empresa, seu preço realizado com a venda da commodity extraída em Carajás é de US$ 62 por tonelada, enquanto o da Rio Tinto em Pilbara é de US$ 53,3.
Cortes de custo
Siani diz que a Vale ainda tem um caminho a percorrer em termos de redução de custos, embora a companhia já venha apresentando cortes há algum tempo.
Ao fim do segundo trimestre, o custo médio do minério da Vale no porto para todos os seus sistemas – Norte, Sul e Sudeste – caiu a US$ 15,8 a tonelada, ante US$ 18,3 no primeiro trimestre.
A melhora foi explicada por cortes de custo e pelo desenvolvimento da mina N4WS e dos projetos Itabiritos, em Minas. O custo de produção de Carajás no porto em junho era de US$ 12 a tonelada.
“A gente está no ciclo virtuoso agora porque com a abertura das minas novas e a finalização dos projetos no Sul (Itabiritos) há razões estruturais para o custo cair”, diz Siani, lembrando que as novas minas do sistema Norte são planas e menos distantes.
O projeto S11D, orçado em US$ 16 bilhões, promete achatar ainda mais a média do custo de produção no Norte. Até agosto, a empresa estimava que o minério do S11D entregue no porto custaria US$ 10 por tonelada. A desvalorização do real ajuda a reduzir a conta.
“Posso afirmar com segurança que o custo do S11D será de um dígito”, garante Siani.
Reportagem: Mariana Durão, do Estadão Conteúdo