Os governos do Pará e de Mato Grosso estiveram juntos, na tarde desta quarta-feira (15), em dois eventos realizados em Londres, no Reino Unido, para apresentar os esforços que vêm sendo feitos para derrubar o desmatamento e fortalecer cadeias produtivas com base sustentável, demonstrando assim o potencial de investimento nos dois estados.
As reuniões registraram presença de mais de 100 especialistas, investidores, presidentes de instituições financeiras e de fundos de financiamento de projetos sustentáveis, além de representantes de empresas globais da cadeia de abastecimento alimentar e que querem apoiar projetos voltados para o incremento da sustentabilidade na Amazônia. O embaixador do Brasil no Reino Unido, Eduardo dos Santos, acompanhou os encontros, assim como o vice-governador de Mato Grosso, Carlos Henrique Fávaro, que também participou dos debates.
As discussões concentraram-se em como podem ser celebradas as oportunidades de colaboração e trabalho conjunto entre governos, sociedade civil e setor produtivo, para garantir mais avanços para a mudança do modelo de produção, incluindo o conceito de sustentabilidade sendo aplicado na prática.
Para Marco Albani, diretor da TFA (Tropical Forest Alliance), uma das organizadoras dos eventos realizados em Londres, as empresas e as instituições internacionais têm percebido que o protagonismo dos Estados vem sendo cada vez mais compreendido como estratégia para a conquista de novos resultados e melhor desempenho na redução do desmatamento e melhoria dos índices de produtividade.
“Sabemos o quanto a preocupação com o equilíbrio do clima e a manutenção das florestas tropicais depende de um nível mais real, mais próximo da ação. E a ação acontece nos Estados, nas unidades subnacionais. Pará e Mato Grosso são progressistas na discussão para aumentar a produção. Mas, mais que isso, se deseja melhorar a produção com a conservação da natureza. A TNC é parceira, percebe e reconhece o que vem sendo feito, mas tem a convicção de que pode fazer muito mais”, disse.
Para Lexine Hansen, também da diretoria da TFA, é importante conhecer os esforços que vêm sendo realizados, assim como o potencial para novas ações. “Existe um desafio que é compartilhado: reduzir desmatamento, incluir comunidades e gerar produtividade. Por isso é fundamental conhecer o que se está fazendo, trocar informações e que, independente da esfera de atuação, possamos ter mais agilidade entre todos os atores para consolidar projetos”, destacou.
Esforço já demonstrou resultados
O governador Simão Jatene apresentou dados que comprovam o empenho do Pará nos últimos anos para frear o desmatamento na Amazônia. Para se ter uma ideia, em 2004 o Pará registrou o desmatamento de uma área de mais de 8,8 mil km² de floresta, enquanto que em 2016 esse número caiu para 2,4 mil km². Assim, a média anual de desmatamento no Estado caiu mais de 70% em 13 anos.
“Temos sim metas mais audaciosas, mas estamos convictos de que somente um esforço conjunto entre sociedade, setor produtivo e governos pode nos levar a outro patamar. Os mecanismos de comando e controle possuem um teto. Ou seja, o remédio genérico parece ter chegado ao seu limite. Agora é preciso ir além e encontrar medicamento mais específico, próprio e adaptado para as características de cada Estado, de cada dinâmica econômica, de cada comunidade e sociedade”, destacou Jatene. O governador paraense completou que somente com este olhar pela sustentabilidade também do setor produtivo poderá se mudar o modelo de produção.
“É necessário rever o padrão que vem sendo adotado. O Pará detinha o oitavo PIB per capita do Brasil em 1940. Em 2010, o Pará registrou o 23º do país. Em quatro décadas da chamada ‘integração da Amazônia’ tivemos toneladas de minérios saindo de nossas terras, milhões de metros cúbicos de madeira sendo derrubados e milhões de metros cúbicos de água passando pelas turbinas de hidrelétricas. Mas percebe-se que foi trocado um grande ativo da Amazônia em troca de quase nada”, destacou.
O governador Jatene alertou que hoje, com o Programa Pará Sustentável, lastreado no eixo ambiental, social e econômico, já foi virada a página de se aplaudir qualquer projeto que chegasse. “Estamos na fase de escolher o que queremos. E podemos fazer isso juntos, entre governos, sociedade e iniciativa privada e instituições que têm na sustentabilidade sua principal meta e objetivo”, destacou.
O governador destacou ainda que o Pará tem mantido a vigilância. “Passamos de 20 mil registros no Cadastro Ambiental Rural (CAR) para mais de 180 mil nos últimos anos. Buscamos mostrar que mais que um dever, o cadastro é um direito do produtor. E, a partir disso, podemos trabalhar juntos. Isso é vital inclusive para o produtor conquistar novos mercados, já que a sustentabilidade é mais que um conceito, é uma exigência atual”, disse. O atual número de registros do CAR representa cerca de 75% da área cadastrável do Estado. Com o Centro Integrado de Monitoramento Ambiental (Ciam) é possível identificar e antecipar os mecanismos de intervenção e de cooperação diretamente com o produtor.
Colaboração
No encontro promovido pelo TFA, após as aberturas feitas pelo governador Jatene e pelo vice do Mato Grosso, Carlos Henrique Fávaro, seguiu-se um debate mais técnico e específico para apresentação do potencial de investimento dos Estados. Pelo Pará, Eduardo Leão, secretário-adjunto da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme) apresentou o programa Pará 2030, que foi desenvolvido dentro da estratégia do Pará Sustentável, que tem como base os pilares ambiental, social e econômico. Neste sentido, a apresentação do Pará contou ainda com explanação sobre o esforço para garantir a conservação de áreas no Estado, com o diretor do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-bio), Thiago Valente.
Os investidores presentes questionaram quanto ao acompanhamento que pode ser feito dos avanços conquistados. Thiago Valente, do Ideflor, destacou que entre as ações de monitoramento possibilitadas com o Ciam, inaugurado este ano com tecnologia de ponta, está o projeto “De Olho na Floresta”, sistema de monitoramento ambiental do Pará desenvolvido com atenção especial para os recursos florestais, que auxilia o processo desde o licenciamento até o monitoramento ambiental, utilizando tecnologia como imagens de satélite de alta resolução, com garantia de segurança técnica na apreciação dos projetos e da cobertura florestal.
Reportagem: Daniel Nardin