A história do distrito de Serra Pelada, em Curionópolis, localizado a quase 700 quilômetros da capital paraense, já foi contada em filmes, livros, reportagens e trabalhos fotográficos. Neste domingo (2/4), às 18 horas, uma sessão especial de cinema promete marcar mais um capítulo da história do local: o despertar dos moradores para criar e contar e as próprias narrativas.
No dia 2 de abril, o projeto Cultura na Praça, que conta com o patrocínio do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, montou uma tela de cinema na quadra coberta da Praça da Juventude para a sessão especial de cinema para os moradores do distrito. Serão exibidos os dois curtas-metragens resultados das oficinas de cinema realizadas em Serra Pelada.
Os filmes “O diário de Hannah” e “Histórias que inspiram” são criações dos moradores do distrito, desde a escolha do roteiro até a edição dos vídeos. Tudo foi feito a partir das orientações que eles receberam durante os quatro dias de oficina, uma para adolescentes e jovens de 13 a 19 anos e outra para pessoas com 45 anos ou mais.
Vitória da Silva Conceição, de 19 anos, já havia participado do projeto em 2021 e voltou para ter uma nova experiência nesta edição. “Foi uma experiência incrível porque eu participei do projeto pela segunda vez. Mas, agora, como atriz, porque eu atuei bastante em algumas cenas. Eu queria ter essa experiência novamente e gostei de tudo. Eu fiquei na parte de atuação, operadora de áudio e na claquete”, contou ela.
A dona de casa Maria de Lourdes Pereira, de 55 anos, também gostou da experiência. “Quem me motivou a participar foi o meu filho Reginaldo, que esteve na edição anterior e na de agora. Eu gostei demais”, afirmou Maria.
Ela e outros sete moradores de Serra Pelada são os participantes adultos desta edição do projeto, sendo que Curionópolis foi o único dos quatro municípios paraenses, beneficiados pelo projeto em 2023, que recebeu uma oficina dedicada a pessoas com 45 anos ou mais. Em Canaã dos Carajás, Parauapebas e Ourilândia do Norte, todos no sudeste do Estado, as oficinas envolveram adolescentes e jovens.
Para o cineasta e coordenador do projeto, Cris Azzi, quem assistir aos curtas-metragens perceberá um desejo comum entre os dois grupos da oficina, apesar da diferença de faixa etária: o de reconstrução da identidade local.
“Serra Pelada é formada por pessoas que vieram praticamente do Brasil inteiro. E isso, no Cultura da Praça, acaba refletindo em um conjunto muito diverso, rico e colorido dessas histórias e culturas que se encontram ali. Em relação à faixa etária, o que a gente percebe é que, claro, de alguma forma, alguns estão um pouco mais ligados ao passado, mas o que une todo esse processo é, sem dúvida, perceber que existe um desejo de reconstrução de identidade e de perspectiva de futuro para a comunidade”, comentou Cris.
Aprendizados geram oportunidades de trabalho
Lembra da Maria de Lourdes que foi incentivada pelo filho a participar da oficina? Então, esse jovem é o Reginaldo Pereira da Silva, de 19 anos. Ele é um dos onze moradores de Serra Pelada que participaram da quarta edição do projeto, sendo que alguns deles estão vivenciando a experiência pela segunda vez. Da primeira experiência, Naldo, como é mais conhecido, já colhe bons frutos.
“Amei ter participado dessa edição e, através dela, pude obter mais conhecimentos na área de audiovisual, algo que me ajuda bastante na minha área de trabalho. Aliás, através do Cultura na Praça, tive inspirações para criar uma produtora de comunicações aqui da vila. Ela é constituída por jovens, a maioria já participou do Cultura na Praça”, disse Reginaldo.
A exemplo de Reginaldo, Gabriel Vieira Santos, de 17 anos, que participou do projeto em 2021 e 2023, fez dos aprendizados parte do seu ofício. “Hoje em dia, eu trabalho fazendo registros fotográficos para uma empresa que está na região, e eu digo que o Cultura na Praça foi o pontapé inicial para que eu começasse a me voltar pra esse mercado. Eu sou bastante feliz por conseguir trabalhar com isso”, confessou o jovem.
Os filmes produzidos em Serra Pelada e nos demais municípios que receberam as oficinas do Cultura na Praça também serão lançados no Cine Babaçu, plataforma virtual que reúne 25 produções feitas nas edições passadas do Cultura na Praça e que pode ser acessada pelo endereço www.culturanapraca.art.br.
O que é o projeto
Criado pela Vivas Esporte Cultura em 2017 e patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, via Lei Federal de Incentivo à Cultura, o Cultura na Praça é um festival itinerante de cinema que já rodou cerca de 22 mil quilômetros pelo interior do Pará e do Maranhão, alcançando mais de 40 mil pessoas. O projeto busca democratizar o acesso à cultura e fomentar a valorização do patrimônio cultural material e imaterial nos municípios beneficiados.
O projeto Cultura na Praça é patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, tem o apoio do Centro Cultural Tatajuba e é realizado pela Vivas Cultura e Esporte, Ministério da Cultura, Governo Federal – União e Reconstrução.
Ficha técnica dos filmes que serão lançados em Serra Pelada (Curionópolis)
Filme: O diário de Hannah
Sinopse: o perigo mora dentro da casa de Hannah e suas palavras parecem não ser ouvidas.
Participantes da oficina:
Agila Ozorio da Silva; Bianca Barros; Briccyo Oliveira; Carllos Henryque; Daniel Reis; Gabriel Vieira; Kawany Castro; Maria Rita Ozorio; Naldo Silva; Nickison Lorran e Vitória Silva
Elenco:
Arthur – Gabriel Vieira; Catarina – Vitória Silva; Fernando – Naldo Silva; Hannah – Maria Rita Ozorio; Jorginho – Briccyo Oliveira; Mãe – Mariza Lopes; Magno – Carllos Henryque e Simon – Nickison Lorran
Figuração:
Agila Ozorio da Silva e Daniel Reis
Filme: Histórias que inspiram
Sinopse: Em Serra Pelada existem milhares de histórias inspiradoras. Zé Branquinho e Maria Batista compartilham momentos marcantes de suas vidas.
Participantes da oficina: Edson Luiz; Eté Agripeiro; Francinete Santos; Lenilde; Maria Batista; Maria de Lourdes Pereira; Maria Martins; Zé Branquinho
Personagens:
Maria Batista e Zé Branquinho
Elenco:
Duda Maria; Eté Agripeiro; Maria Liz e Odailha Carneiro