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Curso promove formação de guias turísticos para atuar em Parauapebas

Mais de 30 alunos recebem nesta segunda-feira (1º), às 19 horas, no Centro Universitário de Parauapebas (Ceup), certificado de participação do curso de Condutores de Atrativos Naturais, que objetiva formar guias turísticos para atuar em Parauapebas. Idealizado pela Cooperativa de Turismo Ecológico (Cooperture), em parceria com o ICMbio, Sebrae e Secretaria Municipal de Desenvolvimento (Seden), o curso iniciou no dia 26 de junho e encerrou neste dia 1º de julho.

Participam do evento o gerente regional do Sebrae, Raimundo Nonato Oliveira; o presidente da Cooperture, Miguel Ângelo; o secretário municipal de Desenvolvimento, Heleno Costa; o coordenador municipal de Turismo, José Gonçalves Almeida; assim como os formandos e a professora do curso, Maria do Socorro Almeida, consultora do Sebrae.

Procon divulga cronograma de fiscalização nos bairros

O Procon de Parauapebas informa realizará fiscalizações educativas nos comércios dos bairros do Complexo Altamira e na Cidade Jardim nos dias 3,4,10,11,17 e 18 de julho de 2013.

Na oportunidade os comerciantes serão orientados sobre os direitos do consumidor. Também receberão cópias do Código de Defesa do Consumidor, demais legislações pertinentes e placa elucidativa do Procon.

CRONOGRAMA DE FISCALIZAÇÃO EDUCATIVA – JULHO/2013 

O QUEQUANDOONDECOMOQUEM
Fiscalização Educativa3 e 4/07/2013Complexo Altamira

Av. Inglaterra – Novo Horizonte

Av. Pedro Álvares Cabral – Altamira

Orientando sobre os direitos do consumidor e entregando de CDC, placa elucidativa do PROCON e Leis pertinentes.3 agentes + carro
10 e 11/07/2013Complexo Altamira

Av. Bom Jesus e Bartolomeu – Betânia

Orientando sobre os direitos do consumidor e entregando de CDC, placa elucidativa do PROCON e Leis pertinentes.3 agentes + carro
 17 e 18/07/2013Cidade Jardim

Av. Ipê

Orientando sobre os direitos do consumidor e entregando de CDC, placa elucidativa do PROCON e Leis pertinentes.3 agentes + carro

 

PTB inaugura nova sede do diretório em Parauapebas

Visando atender com mais comodidade a diretoria do partido, demais filiados e simpatizantes da agremiação política, a presidência do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), à frente o ex-vereador Antonio Massud Sales, inaugurou na manhã do último sábado (29) sede própria do diretório municipal do PTB em Parauapebas, localizada na Avenida JK nº 98, Bairro Rio Verde.

A solenidade de inauguração do diretório foi marcada com grande participação de petebistas, entre estes a vice-prefeita de Parauapebas, Maria Ângela Pereira, além de dezenas de simpatizantes do partido.
Durante a inauguração, algumas pessoas do ramo empresarial e de serviços aproveitaram o momento e se filiaram ao PTB, engrossando as fileiras do partido.
Por ocasião dos pronunciamentos, os petebistas ratificaram o compromisso de manter cada vez mais forte as bases da agremiação partidária, participando das decisões que visam o crescimento de Parauapebas, com a busca incansável de melhorias para a população.

Em declarações prestadas à reportagem, Antonio Massud explicou que a presidência do PTB tem a preocupação de manter o partido alinhado com a população não somente em ano de eleição, mas durante todo o tempo. “Por isso, inauguramos a sede própria do diretório municipal, onde serão recebidos todos os filiados e futuros filiados, para decidirmos, juntos, os destinos de Parauapebas”, frisou o presidente local do partido, lembrando que o PTB hoje no município conta a vice-prefeito Maria Ângela e o vereador José Pavão.
Antonio Massud fez questão de destacar o importante papel das mulheres e dos jovens dentro do partido, que vêm fazendo um trabalho de mobilização junto aos demais militantes, fortalecendo ainda mais o PTB de Parauapebas.

Antecipando o que muita gente esperava saber, o presidente do diretório municipal do PTB revelou que o partido pretende lançar nomes de Parauapebas para concorrer a cadeiras de deputado estadual e federal nas eleições de 2014.

O presidente do PTB adiantou que no mês de agosto os militantes do partido vão sair às ruas da cidade numa grande campanha em busca de novos filiados à agremiação política, visando tornar o PTB um dos maiores partidos de Parauapebas.

Após as solenidades de inauguração da sede do partido e abono de novas filiações ao PTB, a presidência do diretório municipal ofereceu aos presentes um almoço com churrasco e refrigerante no Juvenil Clube, animado com música, dança, karaokê e outros tipos de diversão, numa grande confraternização dos partidários.

Reportagem: Waldyr Silva / Foto: Rui Guilherme

Brasil é Tetracampeão da Copa das Confederações

A seleção brasileira conquistou neste domingo (30), no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, o seu quarto título de Campeão da Copa das Confederações, ao vencer a Espanha por 3 a 0, proporcionando festa aos mais de 70 mil torcedores, que lotaram o estádio do Maracanã.

Confira como foi o lance a lance da decisão

Logo no começo, o hino nacional inspirou os onze jogadores em campo e logo aos dois minutos, Fred deu alegria aos 170 milhões de brasileiros. Após falha da zaga, o atacante ajeitou com a barriga e deitado apenas deu um chute certeiro para abrir o placar. Brasil 1 a 0.

O Brasil procurava impor seu ritmo em campo, mas acabava perdendo oportunidades de gol. A “Fúria”, aos poucos oferecia perigo ao goleiro de Júlio César e quando a bola passava do arqueiro brasileiro, David Luiz salvou a pátria. Após chute de Pedro, o zagueiro tirou a bola do rumo das redes e evitou o empate espanhol.
Azar de Pedro, sorte de Neymar, que na inteligência saiu do impedimento e chutou forte para marcar o segundo gol brasileiro, para a festa da torcida, que ainda de forma tímida começava a fazer a festa no Maracanã

Mal o segundo tempo começou e Fred, sem força, mas com jeito colocou para longe a desconfiança e aproximou mais uma taça para o Brasil, que marcava 3 a 0. Aos gritos de olé, a Espanha tentava cair de pé, diante da seleção brasileira. Ainda conseguiu uma penalidade, mas Sérgio Ramos chutou para fora, o gol de honra espanhol.
Ainda deu tempo para Pique ser expulso, ao fazer falta em Neymar e Marcelo não coroar uma troca de passes, com um belo gol. Ao final, Thiago Silva levantou o caneco e fez a festa com os torcedores, numa festa que ainda teve Júlio César como goleiro menos vazado, Neymar e Fred recebendo as chuteiras de bronze e prata, além de Paulinho receber a bola de bronze e Neymar recebeu a bola de ouro, como melhor jogador da Copa das Confederações.

FICHA TÉCNICA

BRASIL: Júlio César; Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz e Marcelo; Luiz Gustavo, Paulinho (Hernanes) e Oscar; Hulk (Jadson), Fred (Jô) e Neymar.
Técnico: Luis Felipe Scolari

ESPANHA: Casillas; Arbeloa (Azpilicueta), Piqué, Sérgio Ramos e Alba; Busquets, Xavi e Iniesta; Pedro, Fernando Torres (David Villa) e Juan Mata (Jesus Navas).
Técnico: Vicente Del Bosque

Árbitro: Bjorn Kuipers (HOLANDA)

Hidrelétrica de Marabá vai causar 141 impactos negativos na região

Com investimento de cerca de R$ 12 bilhões, a futura Hidrelétrica de Marabá será mais do que uma geradora de energia. O empreendimento causará 36 impactos no meio físico, 41 no meio biótico e 65 socioeconômicos. Esses dados fazem parte do Estudo de Impactos Ambientais realizados por uma empresa contratada pela Eletronorte e Camargo Correa, que têm interesse na construção da hidrelétrica.

Os dados foram apresentados durante a segunda reunião da Comissão Municipal de Estudo da Hidrelétrica de Marabá, ocorrida nesta quinta-feira, 27, na Câmara Municipal de Marabá. Além dos representantes locais, participaram Antônio Coimbra, superintendente de Meio Ambiente das Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A (Eletronorte); Bruno Payolla- Eletrobras/Eletronorte; Letícia Santos Masini, engenheira, e Ana Cristina Ablas, economista, da CNEC Worleys Parson, empresa que realizou o EIA-RIMA. Essas duas últimas fizeram as explanações do dia e revelaram alguns detalhes do estudo.

Antônio Coimbra explicou que, conforme a legislação nacional, a responsável pela qualidade e veracidade dos estudos éa própria empresa, que por isso não pode deturpar os resultados, sob pena de incorrer em artigos de crimes ambientais e serem responsabilizados. “Eles tiveram total autonomia nos resultados propostos e apresentados”, garantiu o superintendente da Eletronorte.

Ana Cristina apresentou parte dos resultados do EIA/RIMA, e disse que a sua especialidade é o socioeconômico,mostrando o que as pessoas da região fazem e do que vivem. Informou que em setembro de 2007 foi feita a primeira visita à área que será atingida pela inundação juntamente com técnicos do Ibama e, em 2009, houve uma reunião com os prefeitos dos 12 municípios que serão atingidos, inclusive o de Marabá.DEnovembro de 2009 a abril de 2011 foram realizados estudosde campo, e em março de 2013 foi feita a entrega do EIA/RIMA consolidadoao Ibama, exceto o componente indígena.
Como exemplo de que o estudo foi feito de forma criteriosa, ela revelou que eles renderam 24 volumes apenas de textos, além de outras 168 de mapas e oRIMA (relatório).

Ela mostrou, também,slides do empreendimento e a metodologia dos estudos do projeto socioeconômico na Bacia Araguaia/Tocantins e nas áreas de influência direta e indireta do empreendimento. Disse ainda, que o estudo foi feito nos 24 municípios que serão afetados indiretamente, com dados secundários de influência indireta, enquanto na direta foiestudo com trabalho de campo.

Segundo ela, na área diretamente afetada (ADA), foi realizado um cadastro das áreas rurais e um levantamento dos terrenos, além de elaborado um pré-cadastro fundiário, pesquisa socioeconômica censitária e pesquisa amostral. Foi levantada, durante um ano, a quantidade de pessoas nas áreas, renda. O estudo mostrou que há 2.239 imóveis rurais na área de influência da hidrelétrica em Marabá, onde vivem 4.459 pessoas.

Dos imóveis na área urbana que serão afetados são 1.319 e, onde residem 3.429 indivíduos. Essas pessoas, mostra a pesquisa, vivem em condições precárias de saneamento básico, a coleta de lixo só ocorre em metade das residências; o acesso a rede de água e energia elétrica existe na maioria das casas; mas há o drama da baixa escolaridade da população.
Foram identificadas 542 pessoas que trabalham como barqueiros e 268 que atuam como barraqueiros.
Segundo a engenheira da empresa responsável pelo EIA-RIMA, para compensar ou mitigar os impactos que ocorrerão foram propostos 14 planos, 37 programas e 72 projetos nos meios físicos (solo), biótico (fauna, flora…) e socioeconômico, onde ocorrerá o maior número de impactos.
Ao final da reunião, Coimbra advertiu que, Se não for construído um plano de desenvolvimento regional, a obra da Hidrelétrica de Marabá será uma outra decepção para a região. Na avaliação dele, os governos estadual e federal precisão aportar cerca de R$ 2 a 3 bilhões de investimento para compensar os impactos.

Ele sugeriu que a AMAT (Associação dos Municípios do Araguaia e Tocantins) seja chamada para a discussão para que seu presidente, prefeito de Tucuruí, Sancler Ferreira, explique como é a experiência de diálogo com a Hidrelétrica de Tucuruí. Além disso, poderão participar todos os membros do Consórcio dos Municípios Alagados da Hidrelétrica de Tucuruí (Compart), dirigido pelo prefeito de Itupiranga.

Coimbra entende que o debate precisa ser ampliado e está aguardando a montagem da próxima agenda, ficando com a Eletronorte a marcação de uma reunião com a direção da Hidrelétrica de Itaipu e da ANA (Agência Nacional de Águas).
Para o início da obra, ainda falta ser realizado o estudo de impacto ambiental na Terra Indígena Mãe Maria, o que deve durar seis meses. Em seguida, serão mais nove meses para análise do Ibama e audiência pública, depois 3 a 6 meses para leilão do empreendimento por parte da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Ao todo, serão mais 21 meses de burocracia.

Reportagem: Ulisses Pompeu

Miséria e balbúrdia poderão tomar conta de Parauapebas no futuro

Tome nota: 31 mil famílias ou 108 mil pessoas com menos de meio salário mínimo para passar o mês (o equivalente a muito mais da metade da população atual de Parauapebas só de pobres); 32 mil crianças passando fome em lares de baixa renda (pouco mais de um Canaã dos Carajás entupido de mirins chorando de barriga vazia); 164 mil cidadãos pagando aluguel ou morando na sarjeta por não terem casa própria (tanta gente quanto praticamente a população municipal hoje); 13 mil jovens, de 16 a 29 anos, desempregados (o mesmo que uma cidade de Curionópolis lotada de rapazes e moças de cara para cima, vagando e vulneráveis à criminalidade); 49 mil favelados (dois Bairros da Paz e uma Cidade Nova repletos de pessoas socialmente excluídas dos equipamentos públicos); e, no meio das estreitas ruas, 167 mil veículos – carros, motos, caminhões, caçambas, entre outros – levam a população à loucura, ao leito e à morte.

Não, não se trata da África subsaariana ou do Paquistão com carros-bomba. Este é o cenário “menos ruim” de um Parauapebas de 2026 que, se não for pensado com carinho no hoje, cuidando dos seus no agora, vai estrangular-se sem que seja preciso ter pessoas saindo pelo ladrão ou os 500 mil habitantes profetizados pela prefeitura recentemente.
No cenário de projeção populacional mais razoável, utilizando-se a metodologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é possível visualizar um Parauapebas com quase 375 mil habitantes, dos quais aproximadamente 350 mil deverão estar na sede urbana. É praticamente uma cidade do porte atual de Maringá, no Paraná; Montes Claros, em Minas Gerais; ou Campina Grande, na Paraíba.

A MALDIÇÃO DO 13
Se, no tarô, ele é representado pela morte; se, quando cai numa sexta-feira, vira sinônimo de azar; ou se, para o grosso da população, ele representa mau agouro; ele, em Parauapebas, pode representar o maior tsunami da história social e moral do município, num passado não muito distante. É o número 13.
De 2000 para 2013, 13; de 2013 para 2026, 13. Treze é o número de ordem do Partido dos Trabalhadores (PT). Mas os sentimentos não podem ser misturados com a racionalidade nem virar motivo de ausência de reflexões. O fato é que os anos 2000 e 2013 podem ser considerados picos dos problemas modernos para o município de Parauapebas. Não por acaso, o 13 que os distancia é um número de azar.

Foi a partir de 2000 que os gargalos municipais – detectados à época pelo censo – começaram a se agravar, tornando-se um mega-abacaxi hoje. Naquele ano, com 72 mil habitantes, era mais fácil administrar uma receita orçamentária de R$ 99,7 milhões, diante de problemas que, até então, eram mini. Como bola de neve, os gargalos foram crescendo, avolumando-se, e hoje esperam solução num banco oposto ao de onde a Prefeitura de Parauapebas recebe um mar de notas multicores, que só este ano, até o momento, somam R$ 595 milhões.
Entre 2005 e 2012, a Prefeitura Municipal de Parauapebas recebeu R$ 1,01 bilhão apenas em royalties de mineração. Ajuntados os royalties à cota-parte do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias (ICMS), ao Fundo de Participação dos Municípios (FPM), ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e a outras fontes, a prefeitura viu sua conta-corrente inchar com R$ 3.540.863.565,93 (isso mesmo: mais de três bilhões e meio de reais). É tanto dinheiro que daria para erradicar absolutamente todos e quaisquer problemas locais existentes em 2012, 2013 ou 2026. Oito anos se passaram, a gestão anterior se acabou e o dinheiro tomou doril: ninguém sabe, ninguém viu.

FUGA DOS MILHÕES
O governo atual, pelejando com um poder médio mensal ainda maior que o governo anterior, viu a conta bancária da prefeitura esticar em, pelo menos, R$ 200 milhões em razão da dívida de royalties que a Vale acumulou, perdeu na Justiça e foi obrigada a pagar ao município. Em fevereiro e março, a mineradora depositou a bolada na conta-corrente do Morro dos Ventos. Em seis meses, a administração vigente abocanhou praticamente um quinto de tudo aquilo que sua antecessora demorou oito anos para pegar. Só agora em junho, já são, até o momento, R$ 86.259.442,20, praticamente o mesmo montante com que a gestão de 2000 se virava em 365 dias.
Mas tudo pode – ou poderia – ser diferente a partir de 2013, se o passado, que se arrasta desde a emancipação político-administrativa de Parauapebas, servisse de lição. Com o apelo a 2026, retorna novamente o drama do 13, desta vez na patifaria matemática que faz com que o “fato imediato” perca a batalha para o “muito provavelmente”. Com tanto dinheiro em caixa, o plano – e não a trama – é correr contra o tempo e evitar as tragédias para um Parauapebas de 375 mil habitantes ou, muito pior, 500 mil.

Já pensou os jovens, com idade entre 16 e 29, sendo assassinados à toa, brutalmente, com risco de morte duas vezes maior em relação a hoje, quando a situação não está nada fácil? Pode parecer imperceptível, mas com a taxa de homicídio juvenil dobrada e uma população de 500 mil habitantes, conforme a hipótese da prefeitura, Parauapebas se tornará o maior “frigorífico” de jovens do país, com 1.235 presuntos novos sendo enterrados por ano. Atualmente, a taxa de mortes violentas entre rapazes e moças por aqui, levantada pelo Ministério da Saúde (MS), é de 128 para cada grupo de 100 mil jovens. É proporcionalmente maior que a do país mais violento do mundo, Honduras, que, em 2012, registrou ao menos 91 mortes violentas para cada grupo de 100 mil habitantes, de acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime.

NOSSO FUTURO COMUM
Desenvolvimento de Parauapebas está cinco anos atrasado em relação ao resto do Brasil

O que é mais importante: três ou quatro praças com internet de alta velocidade ou crianças da periferia sorrindo, sem fome, fora do risco da morte infantil e saudáveis? O que vale mais: “internetizar” a cidade inteira, para incluir digitalmente quem passa fome, ou não deixar faltar água, energia elétrica e dotar de saneamento básico o subúrbio, promovendo inclusão social? A resposta depende dos objetivos os quais se pretenda alcançar, mas é fato consumado que a humanidade conseguiria viver, sem sofrer, se não houvesse fibra ótica, modem, antena de rádio. Por outro lado, a fome, a falta de água e de saneamento básico já mataram – e continuam a matar – milhares de pessoas no Brasil e no mundo diariamente.

Por que num município de 172 mil habitantes em 2013 menos de 1.000 jovens são universitários e por que a maioria dos que querem crescer tem de deixar sua cidade, sua família e buscar conhecimento fora, no mais das vezes não retornando para contribuir com o desenvolvimento local? Por que num município tão rico, o 33º entre 5.570 no país, existe apenas uma universidade efetivamente instalada que oferece ensino público gratuito, enquanto lá fora municípios sem um décimo do dinamismo econômico local têm alguns dos cursos mais disputados e prestigiados do país?
Quando, no mês de julho, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) divulgar o Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios (IDH-M), com base em 180 variáveis do censo 2010, será possível ter um diagnóstico completo de Parauapebas. Sua posição é de destaque, e a reportagem teve acesso a dados exclusivos sobre os quais o Pnud está trabalhando para fazer a maior divulgação socioestatística do ano.

Com IDH-M em 0,791 (superior ao 0,74 de 2000), esse dado certamente sofrerá alterações significativas até a divulgação oficial do IDH, já que o valor disponível considera apenas os critérios Renda e Educação cujos resultados amostrais censitários foram divulgados em 2011.
Ainda assim, esse dado preliminar, que não leva em consideração o fator Saúde (que se amplia para além da Longevidade), mostra que Parauapebas está entre os cinco mais desenvolvidos do Pará, ao lado de Belém, Ananindeua, Castanhal e Marituba. Mas aponta que, apesar de a renda ser elevada, em nível de Pará e Região Norte, ela é mal distribuída, bem como a saúde é ruim, estando vulnerável, por exemplo, às epidemias de dengue, o que impede que o município alcance posição melhor. Parauapebas, trocando em miúdos, está cinco anos atrasado em relação ao resto do Brasil e esse atraso chega a 20 anos no confronto com municípios paulistas, catarinenses, gaúchos e paranaenses. Ter riquezas minerais (para quem?) já não é o bastante.

Nem tudo se perdeu, porém. A educação, entre 2000 e 2010, foi o grande destaque e fez Parauapebas flutuar, considerando-se o confronto apenas com o critério da Renda. O 13 que fez um arregaço no passado é o mesmo que, inteligentemente, tirou o município da agonia do analfabetismo, cujo índice foi reduzido à metade. Além disso, o governo passado conseguiu fazer subir o tempo médio de estudo da população, de 5,6 para 8 anos. Ainda, a taxa de evolução da população adulta alfabetizada cresceu 200% e o número de crianças e adolescentes, com entre 7 e 14 anos, na escola teve o incrível aumento de sete pontos percentuais.
Mas se a educação progrediu e alcançou um patamar triunfal, fruto de ações das gestões anteriores, essas mesmas gestões levaram Parauapebas à bancarrota nos setores de saúde e infraestrutura urbana. Absolutamente todos os problemas que se visualizam em 2013 são heranças de águas passadas, que agora turbinam moinhos no sentido de deixá-los prontos para as cobranças a quem está no poder. A sociedade, que aguentou passiva e pacientemente as mudanças levianas prometidas por anos a fio, resolveu, enfim, despertar do ostracismo ideológico e penalizar as autoridades competentes.

Com tantos problemas no hoje, mais sensato seria criar um famoso Relatório Brundtland (Nosso Futuro Comum), adaptado à realidade local, para nortear os rumos que se quer tomar, visualizando o futuro, mas sem perder a vereda do presente. Nada de agendas, cujos escritos caem no esquecimento das gavetas da burocracia; nada de planos com enredos preocupados demais com o superficial e o circense, mas alheios a anseios tão básicos quanto essenciais da espoliada população. Em planos de papel, as camadas mais pobres da população já não acreditam mais. Chegou a hora de fazer fazer para fazer crer.

Reportagem: André Santos

Parauapebas quer mais ferro; Marabá, mais cobre; e Canaã, muito mais royalties

O jornalista André Santos foi à luta para saber como ficará a situação dos quatro principais municípios mineradores do sudeste do Pará, caso a exploração de seus recursos minerais seja sobretaxada de 2% para 4%. Tudo, entretanto, deve continuar nos 3% para o manganês, do qual Parauapebas e Marabá são extratores.
A propósito, as prefeituras de Parauapebas e, sobretudo, Canaã dos Carajás poderão viver dias gloriosos, montadas num verdadeiro mar de dinheiro. Isso porque, para além do provável aumento da taxa dos minérios, o valor compensado passará a ser sobre o faturamento bruto pela venda da commodity, não mais pelo faturamento líquido. Vêm muitos milhões por aí, e a sociedade precisa estar atenta quanto ao destino desses valores.

PARAUAPEBAS
Na “Capital do Minério”, o ferro é quem manda. Está no sangue dos habitantes, no organismo dos vegetais, nos elementos inanimados e, particularmente, no alto da Serra dos Carajás, que, só este ano, despejou trem abaixo R$ 15,58 bilhões pela extração do minério brasileiro mais valioso no mundo, de acordo com dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).
E não é só isso. Parauapebas também concede manganês, granito e gnaisse como farta sobremesa, para adoçar ainda mais a matemática obesa dos royalties que caem na conta da prefeitura local todo santo mês.
Somando tudo, o município recolheu, do primeiro dia deste ano até o momento, R$ 468,04 milhões, dos quais R$ 323,8 milhões caíram na conta-corrente da prefeitura brasileira que mais lucra com mineração, entre as 5.569 existentes no país. O “salário” que a mineradora Vale paga à Prefeitura Municipal de Parauapebas por mês está em torno de R$ 20,6 milhões e, para desespero da segunda maior empresa de mineração do globo, com a nova taxação da CFEM, ela poderá ter de desembolsar R$ 44,2 milhões só para a alegria da Prefeitura de Parauapebas.
Ainda é um salário sovino perto dos R$ 15,6 bilhões que a Vale lucra com a negociata (só de ferro), ainda assim é um cala-boca para prefeitura alguma botar defeito. O problema que se visualiza em Parauapebas é o de sempre: o destino que tomam tantos milhões, haja vista a pobreza escancarada assolar sua sede urbana.

Por outro lado, os planos da Vale para o solo municipal incluem botar para funcionar a mina do Alemão, que deverá se tornar a quarta maior produtora de cobre do planeta, bem como ampliar a atual produção de minério de ferro dos atuais 106,8 milhões de toneladas anuais para até 150 milhões de toneladas nos próximos quatro anos, fato que, se consumado, inevitavelmente vai reduzir de maneira drástica a vida-útil do minério de ferro parauapebense, o qual, segundo o Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), só terá fôlego para até 2030.
No raiar de 2017, a conta bancária da Prefeitura de Parauapebas poderá amanhecer, mensalmente, com felizes R$ 69,61 milhões só de royalties. Estes recursos somados a outras fontes farão da prefeitura local, disparado, a mais rica da Região Norte. Atualmente, no conjunto da ópera, a conta bancária do palácio do Morro dos Ventos só perde para a das prefeituras de Manaus, Belém, Porto Velho, Macapá, Rio Branco, Palmas e Boa Vista, todas capitais de Estado.

MARABÁ
Com ou sem a siderúrgica Aços Laminados do Pará (Alpa), à eterna espera da qual muita gente ainda continua, Marabá está aprendendo a manusear a indústria extrativa mineral instalada em seu quintal. Embora seja a localidade paraense que detenha o maior conjunto de minérios que rendem royalties, seus recursos naturais não possuem abundância ou teor suficientes para tornar Marabá um bam-bam-bam no cenário da economia mineral. Ainda assim, o cobre saído diretamente dos recantos do Salobo tem revertido a lógica e mostrado a força do chão do tigre amazônico.
O município – que não era ninguém no mundo da indústria extrativa até 2012 – saiu da lanterna entre os produtores nacionais de cobre para a terceira colocação este ano, atrás apenas do município goiano de Alto Horizonte e do rival paraense Canaã dos Carajás. Nestes seis meses de 2013, Marabá já extraiu o dobro de cobre de todo o ano passado.

Até agora, foram minerados R$ 272,65 milhões, e 90% desse valor são de autoria da Vale. Outra coisa: não tem só sobre, não. O portfólio de recursos que geram CFEM engloba manganês também, da mesma qualidade que o de Parauapebas. Das terras de Marabá sai, ainda, um dos melhores cascalhos do Pará, bem como água mineral, argila, saibro e areia, todos os quais rendem royalties.
Essa movimentação gerou R$ 5,41 milhões em CFEM nos primeiros seis meses deste ano, e como cota-parte (os 65% de CFEM que ficam com o município) sua prefeitura recebeu R$ 4,51 milhões, a maioria desse montante fruto da extração de cobre pela Vale.

A mineradora é gulosa e quer mais. Com a expansão do Salobo, em breve Canaã dos Carajás deverá perder o posto de maior produtor de cobre para Marabá. Os royalties, que hoje remuneram a prefeitura local em R$ 752 mil mensais, em média, poderão crescer 422% até 2017 com o novo Código de Mineração e a ampliação do projeto Salobo. Em número absoluto, esse crescimento do poder de fogo da Prefeitura de Marabá é uma gota comparada ao oceano de dinheiro em que seu filho Parauapebas bate os braços.

Ainda assim, caso a fofoca da Alpa algum dia rompa o imaginário da classe política e empresarial do município mais promissor do interior amazônico e se torne verdade, poderá ser a vez de Marabá mostrar ao Brasil como se ganha dinheiro. Resta ver se a população local vai continuar descendo a rampa da pobreza, como apontam as estatísticas, sem os investimentos sociais de que necessita.
Na contramão das eventuais riquezas, existe hoje uma população pobre em Marabá que está a 39 quilômetros de renda distante da população mais rica, no comparativo entre os 20% de cada extremo. Já até foi “menos pior” e mais curta: 35 quilômetros de suor dez anos atrás. A ingerência dos recursos públicos no período ampliou o horizonte dos contrastes sociais.

CANAÃ DOS CARAJÁS
Parauapebas que se segure: é para as bandas de Canaã que o negócio literalmente vai começar a andar. Basta uma caminhada pela sede urbana, que se expande de forma assustadora, para perceber como muitos habitantes de Parauapebas já estão armando tenda por lá. A migração rumo ao discreto município não cessa.
Com 30 mil habitantes, aproximadamente 24 mil deles na sede urbana, Canaã dos Carajás tem tudo o que muitos municípios duas ou três vezes mais populosos sonham em ter. A prova disso é o número de agências bancárias na cidade. Canaã tem seis para estocar o dinheiro de sua massa trabalhadora. Itaituba, no oeste paraense, tem três vezes mais habitantes e conta com apenas cinco bancos. A cidade de Parauapebas é seis vezes mais populosa e tem somente dez agências, com outras três no Núcleo Urbano de Carajás.

Em Canaã, são poucos habitantes para uma circulação de capital de dar inveja. O antigo Cedere evoluiu de corrutela rejeitada por Parauapebas, com 3,5 mil habitantes, para se tornar uma respeitada cidade sete vezes maior e dois milhões e meio de vezes mais próspera, 19 anos depois. O município está dando uma esperta aula de geografia econômica ao município-mãe, já que Canaã ficou com a porção mais rica em minério de ferro para ser explorada, com o desmembramento.

A “Terra Prometida”, que é Canaã em linguagem bíblica, tem aprendido com o exemplo da zona urbana de Parauapebas, esta a qual planejada inicialmente para não mais que 25 mil pessoas. Hoje, Canaã é o sonho administrativo de qualquer prefeito, muito embora seus problemas sociais sejam infinitos e não agradem o melhor dos administradores.
Em nível econômico, no momento, Canaã só recebe pelo cobre que a Vale minera em seu rentável e sugestivo Sossego. Este ano, até agora, a mineradora tirou R$ 840,46 milhões com o melhor concentrado de cobre do país, e desse valor, R$ 19,47 milhões viraram CFEM. A parte que entrou na conta-corrente da Prefeitura de Canaã foi de R$ 15,48 milhões, o que lhe tem garantido um piso “salarial” de R$ 2,58 milhões que pode chegar a R$ 5,68 milhões se o cobre dobrar a alíquota e se aplicadas as novas regras de taxação da CFEM inferidas do novo Código de Mineração.

A vantagem em relação aos demais municípios mineradores do Pará é que a cidade é “nova” e, com toda essa grana, ainda dá tempo de evitar um possível estrangulamento nas áreas social e de infraestrutura. Parauapebas, a 72 quilômetros, é o maior espelho e a inspiração de como não se deve planejar uma cidade que tem perspectiva de crescer.
No traçado demográfico, a propósito, Canaã poderá ultrapassar Parauapebas em população até 2030 por causa do S11D, que já nascerá gigante. Quando todos os projetos de mineração estiverem operando a plenos pulmões, a prefeitura do município possivelmente verá sua fatia de royalties saltar 1.722%, tudo isso no curtíssimo período de três ou quatro anos.
De mala e cuia com a riqueza, hão de desembarcar no solo canaense migrantes de todas as partes do país e uma miríade de misérias. A especulação imobiliária, que já anda nas alturas, deverá ir parar no mundo da lua, o que poderá impedir que grande parte da população possa construir casa própria. Isso, por conseguinte, incentiva a formação de favelões urbanos. O município que lhe gerou hoje sofre dessa mesma empáfia.
Canaã chega a 2013 erradicando alguns problemas crônicos presentes na maioria das cidades brasileiras. Apesar de seu aspecto de minifaroeste, 90% da cidade não padecem com esgoto a céu aberto, como em Marabá e Parauapebas. Além disso, igual percentual da área urbana é atendida com coleta de lixo regularmente. Por outro lado, ainda tem 15% de sua população vivendo em ruas às escuras e 56% morando em vias sem pavimentação. Sombra de árvore só em metade dos espaços urbanos.

É verdade que, como nos outros municípios mais populosos, ainda há muito a ser feito, como continuar derrubando a distância entre ricos e pobres, que tombou de 43 vezes para 29 atualmente.
O caminho é longo. Mas, se souber aproveitar a ajudinha do novo Código de Mineração, Canaã e todos os demais poderão achar um lugar à sombra para estar no topo da qualidade de vida e do desenvolvimento social. É – parafraseando o jargão popular – pagar royalties para ver.

Reportagem: André Santos

Sudeste do Pará abre alas para mais um monstrengo alegórico de 3,5 km levar minérios da terra

Piuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Lá vem o trem carregado de minério em 336 vagões de 80 toneladas cada. O mostrengo, de quase três quilômetros e meio, é o maior inimigo dos cerca de 3.000 habitantes do violento Bairro Nossa Senhora do Socorro, a Invasão da Coca-Cola, em Marabá, que floresceu na década de 2000 alheia à atuação do poder público e na vizinhança da Estrada de Ferro Carajás, cujo trem já matou três ali.
De manhã, à tarde, à noite, pela madrugada, o trem tem de passar. A mineradora Vale tem pressa com a venda do minério de ferro e, do outro lado do mundo, a China tem urgência de desenvolver-se à custa (e ao baixo custo social) da commodity mineral mais cobiçada do mundo.

Enquanto isso, os moradores da Invasão da Coca-Cola, considerada uma das 11 favelas que se ergueram na cidade de Marabá nas duas últimas décadas, ouvem os 12 minutos de apitaço do monstrengo, entre o momento em que ele aponta no horizonte e o momento em que some, levando para sempre mais uma “carrada” dos recursos naturais da região.
Se hoje, em 24 horas, o trem vai 12 vezes e volta outras 12, em muito breve a população verá e sentirá sua presença de meia em meia hora pelos 892 quilômetros que separam sua partida prioritária, no Pará, a sua chegada ao porto de São Luís, no Maranhão. Essa é uma passagem que diz respeito à vida, particularmente, de 470 mil habitantes do sudeste paraense: 249 mil em Marabá; 173 mil em Parauapebas; 30 mil em Canaã dos Carajás; e 18 mil em Curionópolis. Nunca antes na história da humanidade uma tão pequena população viu – como se verá até 2017 – tanta riqueza correndo de perto, passando aos olhos ou debaixo do nariz, indo rumo ao desconhecido e deixando um rastro de misérias e desigualdades, numa região que pode ser considerada “Belíndia”: pouquíssimos tem padrão de vida da Bélgica (país considerado rico e de desenvolvimento social elevado) e a infinita maioria, padrão de vida da Índia (país com a maior pobreza absoluta do planeta).

RAMAL FERROVIÁRIO
Estudo de Impacto Ambiental está “fora da realidade” seis anos

Quase ninguém se aventuraria em sequer folhear as 5 mil folhas que separam o sudeste paraense do maior investimento em logística que a história do Pará já viu: o Ramal Ferroviário Sudeste do Pará (RFSP) ou, no populacho, simplesmente duplicação da Estrada de Ferro Carajás (EFC). Está nessa biblioteca – intitulada Estudo de Impacto Ambiental (EIA) – parte da vida coletiva de cidades como Marabá e Parauapebas, as duas principais da região, bem como quem sai quem fica no reboliço do traçado dos trilhos.
Elaborado pela consultoria Arcadis Tetraplan, empresa de São Paulo, o documento principal do EIA, de 1.298 folhas, ficou pronto em janeiro de 2011 e, para o próprio contexto da duplicação, nasceu defasado, além de ter dados sociais colados de estudos anteriores que a Vale havia encomendado. Em pleno censo demográfico de 2010, trabalhou-se com perspectiva demográfica de 2007 e, pior, com previsões feitas em 2006 e que passaram longe da realidade do atual momento regional.

A duplicação da EFC começou a ser pensada em 2004, quando a Vale visualizou a possibilidade de desbravar um “novo Carajás” de minério de ferro na região. Esse eldorado, inicialmente chamado de Serra Sul, é o atual S11D, no qual a mineradora aposta todas as suas fichas. É a área de minério de ferro com maior longevidade, tendo em vista que a parte de minério que se encontra no município de Parauapebas está bastante arregaçada e o será muito mais com a expansão da produção nos próximos anos, o que lhe diminuirá significativamente a vida-útil. O Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) avisou em 2006 que o minério de Parauapebas só iria aguentar o tranco até 2030; a Vale estima no conjunto da ópera – as reservas de Parauapebas mais as novíssimas de Canaã – 80 anos de minérios, tudo para não assustar investidores.
Não obstante, a mineradora quer muito. Exemplo disso é o próprio S11D. Em 2004, ela viu que poderia tirar do projeto 17 milhões de toneladas de minério de ferro todo ano, e isso já estaria ótimo. Porém, cinco anos depois, ela refez as contas, mudou os planos e chamou os investidores no canto: “Ó, dá para aumentar o negócio de 17 milhões por ano para 90 milhões. É bom ou não é?”. E assim sucedeu.
S11D, em Canaã dos Carajás, já nascerá gigante, diferente do Projeto Ferro Carajás, de Parauapebas, que foi trabalhado aos poucos para que sua produção atingisse o pico de 109,8 milhões de toneladas em 2011, a partir de quando a mineradora se animou e começou a agitar a construção do Ramal Ferroviário Sudeste do Pará. O minério de Canaã dos Carajás vai brotar, numa lapada só, tudo o que Parauapebas demorou 20 anos para parir.

Hoje, a Vale trabalha aceleradamente para ver o primeiro trem partir de Canaã carregado de ferro. Ela não vê a hora disso acontecer. Tanto é que a empresa está investindo a “bagatela” de R$ 23,5 bilhões na maior empreitada cifrônica de sua história. Isso, contudo, é um nada perto do que S11D lhe poderá proporcionar.
Considerando-se o atual ritmo de exploração mineral em Parauapebas por ano, o S11D, de Canaã, renderá pelos 90 milhões de toneladas cerca de R$ 17,6 bilhões. Logo, o projeto pagará o investimento feito para duplicar a Estrada de Ferro Carajás em um ano e quatro meses.

Como o custo total da implantação do S11D vai sair a R$ 40 bilhões (além do ramal ferroviário, constam R$ 16,5 bilhões para a mina e a usina de processamento de minérios), o minério de ferro pagará todos estes custos em dois anos e três meses. Daí para frente, a Vale lucrará como nunca e será imbatível na meta de tornar-se a maior empresa de mineração da Terra.
A título de informação, esses R$ 40 bilhões investidos para erguer o RFSP dariam para comprar mais da metade do Pará (cujas riquezas somam R$ 77,85 bilhões) ou levar para casa, de uma vez só, os estados de Rondônia (R$ 23,56 bilhões), Acre (R$ 8,48 bilhões) e Amapá (R$ 8,27 bilhões).

POR QUE DUPLICAR?
A Vale quer ver todos os seus projetos na região de Carajás sobre trilhos. Além do tradicional Projeto Ferro Carajás e o prioritário S11D, ela pretende atender com o RFSP os projetos Alemão, Manganês do Azul, 118 Oxidado, Granito, Níquel do Vermelho, Cristalino, Sossego, Onça Puma e Salobo. A vida econômica de Parauapebas, Canaã, Ourilândia do Norte, Tucumã e parte da de Marabá deverá estar à mercê do apito do trem e das ordens da Vale. Quem aprendeu a verticalizar sua economia, minimamente (como Marabá), aprendeu; quem não aprendeu muito pouco poderá chiar.
De acordo com a mineradora, além de transportar o minério, haverá a opção de usar o trem para o escoamento de outros diferentes produtos da região, como grãos, couro e combustíveis.
Do ponto de vista técnico, ele justifica a opção pelo modal ferroviário por ser a linha férrea “a alternativa mais adequada” para carregar o minério em relação às demais modalidades de transportes. A empresa argumenta que o mineroduto é mais restritivo quanto à variedade de origens, tipos e dimensões de minérios e consumo elevado de água. O transporte rodoviário seria ineficiente, visto que a produção prevista demandaria a circulação de aproximadamente 14 mil caminhões de 27 toneladas por dia, incompatível com a capacidade de suporte viário regional. E correias transportadoras seriam um meio mais restritivo quanto à distância, às perdas de minério durante o transporte e ao elevado consumo de energia elétrica, não disponível no local.

Em se tratando de energia, aliás, a Vale demonstra preocupação com o Rio Parauapebas porque, conforme consta do EIA, a Eletrobras inventariou esse curso d’água entre 1998 e 2000 e apontou o Parauapebas como uma fonte de energia elétrica em potencial. A construção de uma hidrelétrica no rio a partir de 2019 seria, então, uma mão na roda para atender as necessidades da indústria extrativa encabeçada pela mineradora.

SEM CHORO NEM VELA
Quem estiver no caminho vai ter de abrir espaço para o trem passar

O que estiver na frente vai ter de abrir espaço – nem que seja na marra – para o ramal ferroviário passar. Os asiáticos têm sede no produto desse investimento. A Vale, para isso, prevê a remoção, ao longo da via férrea, de 1.168 “pontos de interferência”, ou seja, cercas, casas, quintais, plantações e povoados inteiros. As obras de duplicação da EFC atingirão áreas de interesse de povos indígenas, quilombolas, de conservação ambiental, de patrimônio histórico e arqueológico e assentamentos para a reforma agrária, como o distrito da Palmares 2, em Parauapebas, considerado extensão urbana da sede municipal.
Deverão ser erguidos 46 novas pontes, 18 viadutos rodoviários e cinco viadutos ferroviários, além do novo píer para os navios de carga no porto de Ponta da Madeira. Na cidade de Parauapebas, deverá haverá uma revolução na estrutura urbana, com criação de viadutos e pontes para dar fluidez ao trem. A cidade cresceu tanto para os rumos de onde o ramal ferroviário deve cortar, que isso se tornou uma batata quente na concepção de logística e de desenvolvimento econômico da Vale. Mas este é, dos males, o menor.

Para fazer o ramal ganhar fôlego, vidas vegetais serão perdidas. É que 246,26 hectares de vegetação nativa vão acabar para sempre. É como se uma cidade do tamanho de Curionópolis, toda de floresta, sumisse do mapa.
Ainda assim, para além do impacto ambiental que possa causar, o maior adversário da EFC é – e continuará sendo – a população. Se a estrada de ferro já era odiada em Marabá, por cortar o perímetro urbano, o time dos que a odeiam ganhará reforço das equipes de Canaã dos Carajás, Parauapebas e das vilas Bom Jesus, Cedere I, Mozartinópolis, Onalício Barros e Palmares I e II. Inclusive, a Vale vê a expansão urbana de Parauapebas como um dos “três principais obstáculos” a vencer para a implantação do projeto – os outros dois são a Serra do Rabo e a área de operação da mina do Sossego.

O maior receio da população com relação à duplicação da estrada é a duplicação dos gargalos. Isso porque se tem registrado o aprofundamento de problemas não resolvidos desde a construção da EFC, em 1985, como efeitos na saúde, atropelamentos, poluição, barulho e rachaduras nas casas por conta da trepidação do trem.

PROSTITUIÇÃO INFANTIL
No Maranhão, o Estado mais pobre do país e vizinho parede-meia do Pará, os problemas da duplicação começaram a ser vistos desde 2011. Em Bom Jesus das Selvas, município de 30 mil habitantes, a população foi reforçada em 2.000 homens acampados em canteiro de obras nas cercanias da cidade, todos operários que atuam na construção da ferrovia.
O impacto disso foi a elevação do índice de prostituição infantil, já que os trabalhadores são acusados de “pegar” as meninas da cidade que, sem perspectiva de futuro e em meio à pobreza, se entregam a troco de roupas, calçados, R$ 30 ou, no máximo, R$ 50, segundo informações do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos do município. O centro também ponta ter havido explosão no número de usuários de drogas, gravidez, doenças sexualmente transmissíveis e HIV.
Diversas organizações não governamentais e entidades de direitos humanos avaliam que os impactos da duplicação da Estrada de Ferro Carajás denotam um prejuízo que é público, na contramão de um lucro que é privado.

O pior dos prejuízos é a perda da vida humana, e o trem, para chegar ao destino, muitas vezes ignora esse aspecto. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) contabilizou 50 acidentes ao longo da EFC e, pelo menos, 12 vítimas fatais entre o início de 2011 e o final de 2012. Com a construção do RFSP, o número pode mais que dobrar, tendo em vista que também aumentou o contingente populacional das 90 localidades por onde o trem passa, bem como vai aumentar a proximidade dele com as comunidades de seu entorno.
Mesmo assim, entre as 12 estradas de ferro do país, a EFC é a segunda com menor índice de acidentes – fica atrás apenas da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM).

PROBLEMAS GERAIS
O EIA elaborado pela Arcadis Tetraplan discrimina, na página 1.072, o tamanho da encrenca que a Vale terá de administrar no conjunto. No espaço físico, ela vai visualizar processos erosivos, alterações na qualidade das águas subterrâneas e superficiais, nas propriedades do solo, no regime de escoamento superficial e subterrâneo, no interior das cavernas mapeadas, na estabilidade geotécnica, na qualidade do ar. A construção do ramal ferroviário causará ao meio físico, ainda, o assoreamento de cursos d’água e o rebaixamento do lençol freático. O Rio Parauapebas, neste caso, é um dos que mais estão em risco.
A diversidade biológica será afetada com a perda de habitat e de diversidade vegetal, pela alteração nas comunidades terrestres, pela perturbação da fauna em razão da emissão de ruídos e vibração, pela perda de espécies da fauna regional e por conta da interferência em Unidades de Conservação de Uso Sustentável.

Em nível de sociedades, a Vale sabe o megaproblema que vai arranjar e os inimigos que conquistará ao causar atração populacional, percepção de insegurança por parte da comunidade, aumento na pressão sobre equipamentos públicos, impacto sobre a estrutura de abastecimento de água, propagação de doenças infectocontagiosas e incômodos à população. Além disso, seu projeto causará interferências nas propriedades e no uso e ocupação do solo, inseguranças da população em relação às contrapartidas para erguer o ramal, interferência em áreas produtivas e comprometimento de bens constituintes do patrimônio arqueológico nacional. Os benefícios, frente a essa miríade de problemas, serão mínimos: apenas incremento no número de empregos e na renda familiar, bem como relativo aumento da arrecadação tributária dos municípios. A Vale sequer faz ideia de como vai lidar com os entraves.

R$ 105,5 MILHÕES EM 24 HORAS
Bloqueio da EFC e da portaria de Carajás “rende” prejuízo estratosférico à Vale

As populações das duas maiores cidades do sudeste paraense, Marabá e Parauapebas, quando querem chamar a atenção do poder público ou intimidar a Vale, atacam os dois maiores símbolos da presença da mineradora nas sedes desses municípios.
Em Parauapebas, a população corre para a frente da portaria de acesso ao Núcleo Urbano e às minas de Carajás e a interdita. O ato é muito frequente entre trabalhadores das empreiteiras, quando querem reivindicar algum eventual direito. Em Marabá, as comunidades põem paus, pedras, pneus sobre os trilhos da Estrada de Ferro Carajás, acampam-se no local e – bem mais radicais que em Parauapebas – só desocupam a EFC sob ordem judicial.

A alternativa mais severa – essa interdição das vias físicas de circulação da Vale – que a população encontra para emparedar a empresa é mexendo no bolso da mineradora. E mexe muito.
Num dia qualquer de atividades paralisadas por interdição da portaria de acesso a Carajás, a Vale deixa de ganhar, em média, R$ 98,7 milhões, que equivalem à produção diária de minério de ferro. Se a estrada de ferro for interditada em Marabá, a dor no bolso da mineradora é ainda maior: R$ 105,5 milhões. Por isso mesmo, a multa por desobediência a uma decisão judicial contrária à interdição pode chegar a R$ 6 milhões em 24 horas.
Mas, ao mesmo tempo em que a mineradora perde, sem se dar conta, os municípios também perdem – e talvez sejam as prefeituras de municípios de base mineira as maiores prejudicadas, haja vista a economia delas parasitar a Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM), o chamado royalty.

Um dia de bereguedê em frente à portaria de acesso a Carajás, em Parauapebas, causa um rombo de R$ 2,02 milhões que, em algum capítulo da história, deixará de entrar na conta-corrente da prefeitura local. Se fecharem a EFC, o prejuízo é o mesmo à Prefeitura de Parauapebas e de R$ 96,8 mil à Prefeitura de Canaã dos Carajás, por conta de o cobre ficar impedido de chegar ao destino. Em Marabá, com base nas operações minerais deste ano, o prejuízo médio chega a R$ 28,2 mil – um verdadeiro “nadica de nada” perto do lucro diário da empresa.
O movimento de operações da Vale, em 24 horas, é 52 vezes maior que a CFEM que efetivamente fica com o município de Parauapebas e 3.744 vezes superior ao royalty que cai na conta da Prefeitura de Marabá. Na matemática do pouco ou do muito, em que a população fica no meio, todos saem perdendo, de alguma maneira.

Reportagem: André Santos

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