As acusações do lobista durante a delação foram divulgadas em reportagens do Jornal Nacional e do jornal Valor Econômico. O depoimento foi inserido no inquérito em que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é investigado por receber propina referente à contratação de dois navios-sonda da Petrobras – Petrobras 10.000 e Vitória 10.000.
Segundo Baiano, houve um acordo entre os quatro políticos. O acerto envolvia um pagamento inicial de US$ 4 milhões para os envolvidos. Entretanto, após o encerramento do contrato, o valor final da propina ficou em US$ 6 milhões. O valor, no entanto, teria sido dividido pelo lobista Jorge Luz, paraense que tem ligações estreitas com a família Barbalho. No meio empresarial, inclusive, Luz é apontado como o maior lobista do País e de maior influência dentro da Petrobras. Ganhou esse status após trabalhar para o governo Jader Barbalho, em 1982, e para o seu sucessor, Carlos Santos.
O lobista manteria até hoje uma empresa de consultoria em Belém, atuando no setor elétrico e no ramo da construção civil, mas é mais conhecido no Rio de Janeiro, onde costuma desfilar pela Barra da Tijuca, bairro nobre onde ele reside, a bordo de uma Ferrari. Fernando Baiano é um discípulo de Jorge Luz e a cada depoimento indica que o paraense é a peça-chave do quebra-cabeça do petrolão.
Ainda no depoimento da delação de ontem, Baiano relatou que o acordo teria ocorrido em 2010 e pelo o que sabia, até então, Eduardo Cunha não teria conhecimento do pagamento desses valores aos senadores do PMDB. O lobista explicou que Cunha pediu sua ajuda para fazer caixa para a campanha de 2010. A solução encontrada por Baiano e Cunha foi cobrar o empresário Julio Camargo, outro delator do esquema de corrupção na estatal. Parte do dinheiro seria destinada a Cunha, segundo Baiano.
O delator disse a Cunha que Julio Camargo lhe devia US$ 16 milhões, propina referente à compra de dois navios-sonda pela Petrobras. O dinheiro deveria ser repassado pelas empresas Samsung e Mitsui. “Em um primeiro momento, disse a Eduardo Cunha inclusive que teve pagamentos para políticos do PMDB por intermédio de Jorge Luz, referente a primeira sonda; que inclusive fez menção ao nome dos políticos Renan Calheiros e do Jader Barbalho, como destinatários de parte dos valores referentes à primeira sonda”, escreveram os investigadores. “Até então Eduardo Cunha não sabia, ao que o depoente saiba, do pagamento de tais valores para os políticos do PMDB”, completa.
Neste depoimento, o lobista ainda detalhou outra participação do senador Delcídio Amaral no esquema de propina, que segundo ele, recebeu US$ 1,5 milhão pela compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. O negócio foi feito pela Petrobras em 2006 e rendeu um prejuízo de US$ 790 milhões aos cofres da estatal. Esta é a segunda vez que o nome de Delcídio aparece em depoimentos da Operação Lava Jato. Em março deste ano, o Supremo Tribunal Federal decidiu arquivar uma investigação contra o senador.
Ao Jornal Nacional, Delcídio Amaral respondeu em nota que considera absurda a menção de Baiano na delação. “Além de absurdo, é muito estranho que meu nome tenha sido novamente citado nessa investigação, colocado numa época em que eu era considerado ‘persona non grata’ por todos que estavam sendo investigados pela CPMI dos Correios, cuja presidência exerci exatamente nesse período (2005/2006)”, afirmou.
Apesar disso, o senador lembrou que conheceu Fernando Baiano. “Fui apresentado ao senhor Fernando Soares, na década de 90 pelo empresário Gregório Marin Preciado, e, depois dessa época, nunca mais o vi nem tive nenhum tipo de contato com o mesmo”, disse.
Jader Barbalho afirmou que não conhece Fernando Soares e disse que não era senador na época da denúncia. Renan Calheiros também negou as acusações de Fernando Baiano. O senador afirmou em nota que não conhece o lobista e “que não delegou a ninguém falar no nome dele em qualquer circunstância”. Os advogados de Jorge Luz e o ex-ministro Silas Rondeau não foram encontrados para comentar as denúncias.
Com informações de O Liberal