A exportação de frutas e derivados do Pará tem ganhado cada vez mais destaque nos cenários nacional e internacional. Há um mês 175 toneladas de limão produzidas no município de Monte Alegre, no Baixo Amazonas, foram exportadas para três países europeus. No mesmo período, uma indústria da região metropolitana de Belém enviou 27 toneladas de polpa de açaí para a China. Estes exemplos estão se tornando cada vez mais frequentes graças ao incentivo técnico do Estado à produção da agricultura familiar e em larga escala.
Segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater), os produtos da agricultura familiar com maior impacto na exportação são açaí, abacaxi, castanha e cítricos (laranja e limão). No caso de Monte Alegre, a produção é resultado do acompanhamento feito no município pela Emater e pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), que ajudaram a organizar os cerca de 400 produtores em cooperativas e práticas de melhoria de plantio e armazenamento dos frutos.
Na época da primeira reunião, ocorrida em 2013, nem mesmo os produtores da região sabiam o número de famílias atuando no cultivo do limão, suas variedades e potenciais. “Fizemos um trabalho longo de acompanhamento em Monte Alegre e conseguimos organizar os produtores que já tinham tradição no plantio do limão, que era exportado principalmente para Macapá. A partir daí fizemos diversas reuniões, ajudamos na formação das cooperativas e também no melhoramento do fruto, que tem excelente qualidade devido aos diversos cruzamentos e à riqueza do solo em que é cultivado”, explica o coordenador técnico da Emater, Paulo Lobato.
A variedade de limão taiti produzido na região tem casca grossa e muito suco, o que propicia a conservação no caso de exportações. Com a valorização do produto, até mesmo a casca será aproveitada para fabricação de outros produtos. Segundo a Emater, 85 produtores fornecem limões diretamente para a indústria de exportação.
“Estes cruzamentos acabam gerando variedades de frutos que se adaptam ao mercado e agradam compradores de vários países. Conseguimos um bom resultado também a partir da troca de experiências entre produtores de Capitão Poço e Garrafão do Norte, nossos maiores produtores de cítricos. Conseguimos reunir estes produtores com os de Monte Alegre para falar sobre a experiência do cultivo, além de viabilizar mudas de Capitão Poço. O resultado já pode ser visto hoje”, diz Paulo Lobato.
Segundo a Emater, a organização e orientação técnica fortalece a agricultura familiar, que se desenvolve ainda mais quando consegue usar canais estáveis para escoar a produção, como é o caso de Monte Alegre, que se organizou em cooperativas para vender os produtos.
Variedade – No Pará existem outros produtos que se destacam também com a produção da agricultura familiar, seja pela cultura local ou pela característica do solo. O Pará é o maior produtor de abacaxi do país. No sul do Estado, a produção é forte em regiões como Redenção, Xinguara e Conceição do Araguaia, que têm a terra roxa. A fruta também está presente na região de Salvaterra e Cachoeira do Arari. Só na Central de Abastecimento do Pará (Ceasa), 98% do abacaxi vendido vêm de Salvaterra. Foram produzidos mais de 320 mil frutos em todo Estado na última safra.
A castanha é forte na região do Marajó, na região do Baixo Amazonas, em Almerim, onde a última safra foi de cinco mil toneladas. Sem os efeitos do El Niño, o volume pode alcançar seis mil toneladas. Cerca de 20% do montante vão para o município de Óbidos, onde existe uma cooperativa que faz o beneficiamento da amêndoa, e metade vem para a capital, onde é comprada pela indústria local e em seguida é exportada para todo o mundo.
O açaí é um dos grandes produtores derivados do extrativismo, sendo as regiões do Marajó e Baixo Tocantins as duas maiores fornecedoras do fruto. A produção chega a 795 mil toneladas por ano, 60% proveniente da agricultura familiar, que fornece a produção para indústrias de beneficiamento. Em 2015 o volume de vendas gerado pelo comércio da polpa, mix e açaí em pó no comércio nacional e internacional alcançou o valor de quase R$ 400 milhões.
Beneficiamento – Em Marituba, na região metropolitana de Belém, o empresário e agrônomo Francisco de Jesus Costa Correa investe em uma indústria de polpa de açaí. No momento o Pará está na entressafra do fruto, e a empresa funciona apenas com a estocagem da polpa produzida. Quando está em atividade, a fábrica produz 70 toneladas de polpa por dia. Todo o açaí usado na fábrica vem da agricultura familiar.
“Vejo com muito otimismo o crescimento das exportações dos produtos, principalmente do açaí, que é algo natural, nutritivo e faz parte da nossa vocação produtiva. Nossa demanda está crescendo. Pretendo ampliar ainda mais os nossos galpões de estocagem. Conforme crescemos, nossos fornecedores que vêm da agricultura familiar crescem também. Hoje temos 100 comunidades que nos abastecem com frutos de excelente qualidade”, diz o empresário. Há pouco mais de um mês a empresa fez uma exportação de 27 toneladas de polpa para a China, e também está em contato com uma empresa austríaca interessada em criar iogurtes com o sabor de açaí.
Para o titular da Sedap, Hildegardo Nunes, a produção oriunda tanto da produção familiar quando da agricultura em larga escala tem ganhado cada vez mais espaço no mercado. “Temos os cítricos como grandes exemplos. O açaí tem se fortificado bastante, assim como o abacaxi e o cacau, mas trabalhamos para incentivar e atrair a instalação de indústrias para o beneficiamento além das polpas. Neste caso entram as bebidas derivadas do açaí e demais frutas e indústrias de chocolate para o cacau. Já temos protocolos de intenção assinados com algumas indústrias interessadas em se instalar no Pará para produzir alguns destes produtos”, explica.
Além de acompanhamento técnico, a Sedap também tem ajudado a fornecer alguns equipamentos, como foi o caso de uma máquina que seleciona a avalia a qualidade dos limões cedida ao município de Monte Alegre em 2013, ação que colaborou com as atividades desenvolvidas pela Emater e os produtores na época.
A instalação e o desenvolvimento de indústrias para produtos derivados resolverão alguns gargalos do Pará, como é o caso da indústria do cacau, que ainda exporta boa parte das amêndoas para Bahia, sul do Brasil, Áustria, Holanda, França e Japão. O cacau é usado na produção dos melhores chocolates, mas perde a identidade da origem quando é misturado às amêndoas originarias de outros países.
“Temos uma produção tímida de chocolate no Estado se comparada à produção de cacau. Imagine se a nossa produção de chocolate fosse proporcional à de cacau? Hoje perdemos a identidade da origem de nossas amêndoas nessa mistura que é feita em outros países. O mesmo acorre com as nossas polpas de frutas regionais, mas em breve pretendemos mudar este cenário”, conclui Hildergardo.
Reportagem: Diego Andrade