Pesquisar
Close this search box.
Pesquisar
Close this search box.

Em 2015, Parauapebas acumula rombo histórico na Balança Comercial

À véspera do aniversário de Parauapebas, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior divulgou indicadores da Balança Comercial por Município, e é preocupante a situação daquele que por 22 meses seguidos foi consagrado o maior exportador do Brasil.

Regionalmente conhecido como “Capital do Minério”, Parauapebas tem no minério de ferro seu principal sustentáculo econômico, já que a commodity representa 98% de tudo o que é genuinamente parauapebense e “vendível” lá fora, além de mover a dinâmica de emprego e renda local, entre outros serviços.

Nestes 27 anos de emancipação político-administrativa do “Rio de Águas Rasas”, é possível afirmar que o líquido saboroso e de açúcar – que gerou muita gulodice, despertou ganância e assanhou cobiça – secou. Muitos sempre foram com tanta sede ao pote que deixaram de se atentar para o fato de que o minério de ferro pauta o antes e o durante de Parauapebas, mas o depois é incerto e não sabido. Ainda mais agora, com as perspectivas internacionais – negativas, a saber – para o principal produto municipal e, também, a real possibilidade de esgotamento das jazidas explotáveis, o que é previsto para até 2035, conforme detalhado na página 71 do “Relatório Anual 2014”, produzido pela mineradora Vale e entregue pela empresa à Bolsa de Valores de Nova Iorque no dia 20 de março deste ano.

DESABAMENTO
Nos quatro primeiros meses deste ano, Parauapebas exportou 1,39 bilhão de dólares em minérios de ferro e manganês. Pode parecer muito, mas em se tratando de uma estrela da balança comercial, como a “Capital do Minério”, isso é mixaria. E por quê? Simples: no mesmo período de 2014, Parauapebas exportou 2,92 bilhões de dólares. Só para simplificar, de um ano para outro, considerando-se o período de quatro meses, as exportações de Parauapebas despencaram 52,5%. Não bastasse isso, abril de 2015 entra para a história de vacas magras do município como o de menor exportação desde 2009. Menor não em volume de minério (é até mais que 2014), e sim em valor de venda.

Tudo isso se deve ao fato de Parauapebas depender cronicamente de seus nem tão seus recursos minerais. Como o preço do produto da Serra Norte, nas entranhas do município, caiu lá fora, devido às incertezas na demanda da China, principal apreciador do ferro parauapebense, o valor venal desabou. Nas últimas semanas, o minério voltou a subir, de maneira que a tonelada com teor de 62% de hematita (produto de referência para transações comerciais lá fora) fechou na sexta-feira em 60,50 dólares.

Ainda assim, é uma subida que não alimenta expectativa. Para Parauapebas chegar a faturar como em 2014, a tonelada do minério precisaria subir a mais de 100 dólares, o que é, no momento, devaneio tolo, visto que os principais agentes de mercado, que acompanham os rumos do insumo, preveem que o preço deve voltar a cair e patinar entre 45 e, na pior das previsões, 37 dólares no segundo semestre. Vale ressaltar que 2014 nem de longe chegou perto de 2011, o melhor ano para a economia de Parauapebas em todos os aspectos e quando o município viveu sua alucinação populacional e seu “boom” imobiliário, jamais vistos na Mesorregião do Sudeste Paraense.

Antes mesmo de adentrar ao segundo semestre, quando as coisas certamente serão ainda mais difíceis e o dinheiro vai parar de circular de vez da praça, Parauapebas despencou da primeira para a quarta posição na balança comercial. Não é uma posição ruim, mas só não está pior porque todos os primeiros colocados e os colocados seguintes estão enfrentando igualmente grave crise econômica, seja no setor da indústria automobilística, no Estado de São Paulo, seja por conta de escândalos que têm afundado a Petrobras e impactado no preço e na movimentação das cargas de petróleo, no Estado do Rio de Janeiro.

DESEMPREGO
Na contramão do fracasso das exportações, o desemprego “prospera”. Trocadilho inglório à parte, na verdade, a prosperidade é consequência do fracasso. Sem a pujança dos projetos minerários de outrora, homens vão cada vez menos subindo a Serra dos Carajás para, de lá, mandar a suas contas bancárias o santo salário que faz a graça do comércio.

Acabou aquela “fofoca” de operários vestidos de todas as cores que pegavam transporte para ajudar a implantar, abrir ou expandir minas na Serra dos Carajás. Além de terem máquinas ultraprodutivas como concorrentes, os pais de família ainda vistos serra acima vestem majoritariamente (mas cada vez menos) verde, a cor da esperança, a mesma que muitos outros cidadãos perderam e, por isso, debandaram-se do mundo do emprego formal diretamente para o submundo da criminalidade.

No dia em que troca de idade e, coincidentemente, é comemorado o Dia das Mães, Parauapebas vê seu filho, Canaã dos Carajás, arrastar para si todos os investimentos da Vale, multinacional que é uma espécie de marido que está, devagarzinho, abandonando a esposa no cair da idade. E o marido talvez seja o menos culpado; a culpa é da esposa, que jamais teve amor-próprio e preferiu agarrar-se demasiadamente aos vagões de esperança, que sempre foi sua, mas sem nunca ter sido. Parauapebas está ficando no vago e perdendo-se na vaguidão daqueles que aqui conseguiram prosperar, puxaram o seu e se mandaram.

Atualmente, o município por onde já passaram 376 mil trabalhadores em 27 anos se tornou uma “Meca” de desempregados e, ao mesmo tempo em que assiste ao despejo de 100 novos demitidos por mês (na subtração entre os que arranjam emprego e os que o perdem), torna-se um dos lugares mais assassinos do país, sobretudo para os jovens.

Em estudo recente, divulgado pela Secretaria Nacional de Justiça ao longo da semana, Parauapebas desponta em desonroso sexto lugar em mortes de pessoas com idade entre 12 e 29 anos. A maioria dos casos acomete parauapebenses em idade economicamente ativa, entre 15 e 24 anos, mas que estão desempregados e tornam-se, assim, vítimas ou autores de assassinatos.

Em 27 anos, de terra de progresso e gente trabalhadora, Parauapebas vai caminhando para se tornar a escrava de um minério que deu prazer e gozo, levou ao comodismo e, agora, faz do município uma marionete, além de praticamente deixá-lo na mão, logo quando a população mais cresceu e precisa. Isso deve servir de alerta para o legado de jovem experiência de um dos municípios que mais prosperaram economicamente, e de forma fabulosa, no começo desta década. Nem tudo o que reluz é ouro e nenhum município é, verdadeiramente, de ferro

Reportagem Especial: André Santos – Colaborador do Portal Pebinha de Açúcar
Foto: Arquivo

Qual sua reação para esta matéria?
+1
0
+1
0
+1
0
+1
0
+1
0
+1
0
Ei, Psiu! Já viu essas?

Deixe seu comentário